Fotografias: António Néu.
Na entrada uma seara alentejana pintada pelas mãos da artista Maria Sobral desperta-nos o interesse para um hotel cheio de agradáveis contradições. M'Ar de Ar Aqueduto porque há um aqueduto que atravessa o hotel e uma das estratégias da marca foi dar relevo à arquitectura original, adaptada pelo arquitecto Pedro Laranjo, fundido o antigo com o contemporâneo.
A decoração é contemporânea e transporta-nos ao cenário do 2001 Odisseia no Espaço, devido ao ambiente space age proporcionado pela fileira de bubble chairs que nos pedem que tiremos várias selfies. Foi o que fizemos, e calculo que o Instagram tenha já uma considerável colecção de imagens tiradas pelos clientes que por lá passaram. "Não são as originais dos anos 60, mas custaram mais de 600 euros" contou, entre risos, Luís Marcão, director do Hotel. A ideia de comprá-las foi do atelier Branco Sobre Branco, o responsável pela decoração do hotel. De cadeiras a sofás, passando por candeeiros e por toda uma série de deliciosos objectos pensamos, a determinada altura, estar a percorrer os corredores e salas de um museu de design.
Nos pátios exteriores aos quartos estão potes e louças do ano de 1500, encontrados aquando das escavações para fazer as obras do hotel. "Na altura foi chato porque tivemos que parar as obras para catalogar e identificar as peças, foi um stress para todos, mas veio a confirmar-se que eram peças sem interesse museológico e pudemos ficar com elas" disse Luís. Hoje decoram várias zonas do hotel e deram história ao espaço.
O M'Ar de Ar Aqueduto tem já uma longa história. Surge de uma adaptação profunda do palácio dos Sepulveda (séc XV) que era na altura uma família muito importante na cidade de Évora. Posteriormente o palácio passou a convento e antes de se transformar em hotel foi uma fábrica de confecções. Quando abriram o hotel em Outubro de 2008 surpreenderam-se com a descoberta de uma capela, entaipada por tecidos ainda provenientes da altura da fábrica de confecção, que ali funcionou ao longo de 20 anos. "A fábrica utilizava a capela como armazém e o espaço estava coberto de rolos de tecido ate ao tecto."
O hotel tem 64 quartos divididos por várias categorias: suites, superiores, clássicos e quarto spa. Uns são maiores, outros mais pequenos mas há algo que é comum a todos: o conforto. Para os que têm uma conta bancária mais favorável o quarto spa pode vir no top e não é muito usual na maioria dos hotéis. Foi concebido de forma a que os priveligiados possam usufruir do tratamento spa no quarto e passar horas numa banheira de hidromassagem. Os preços vão dos 120 aos 160 euros e têm muitos clientes portugueses.
A gastronomia é de topo e torna mais memorável a experiência no hotel. Numa cidade como Évora, conhecida pela gastronomia alentejana, são reconhecidos pelo bom sushi elaborado pelas mãos do chef Kenzo. O peixe é de uma frescura que se derrete na boca e já têm uma série de fãs que marcam mesa semanalmente. À quinta e sexta-feira é difícil arranjar mesa. Para os que não apreciam o peixe cru, e porque estamos no Alentejo, podem marcar mesa no restaurante mais tradicional do M'Ar de Ar Aqueduto, entregue às mãos do chef António Nobre que já ganhou diversos garfos de ouro. A cozinha é tradicional, mas de autor e à semelhança das características do hotel faz uma fusão entre o tradicional e o contemporâneo. Do menu fazem parte a açorda de bacalhau ou as migas de espargos, cuidadosamente empratadas e que estão neste momento a provocar-me tonturas de prazer pelas memórias do inesquecível almoço que tive o prazer de usufruir. Fiquei a pensar que os srs Michelin não devem certamente ter passado por este restaurante.
Resta-nos dizer que se o Alentejo fizer parte da sua rota, vale sem dúvida a pena jantar e pernoitar neste M'Ar de Ar de sensações exquisite.