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Fotografias: António Néu.

Uma Pousada que Respira Arte

Desde tempos idos que a Cidadela de Cascais foi um epicentro de tertúlias culturais. Por lá passaram personagens como Eça de Queirós ou Ramalho Ortigão e para continuar a estória, o grupo Pestana decidiu criar o Cidadela Art District da Pousada de Cascais onde harmoniosamente convivem galerias, ateliers de artistas e os restaurantes Maris Stella e o Taberna da Praça com menus literários e uma livraria que já está a fazer história.

Neste espaço onde respiramos arte, as paredes brancas são substituídas por peças e os espaços vazios por instalações. Pelos corredores, mobiliário que já folheámos numa série de livros, obras pertencentes a alguns artistas que por lá passaram e outras de consagrados como Nadir Afonso ou Cargaleiro. À entrada do edifício, as divertidas fotografias encenadas com Playmobil, da autoria do artista brasileiro Heberth Sobral, no lobby bar 600 andorinhas Bordalo Pinheiro esvoaçam pelas paredes e convivem com uma peça de Paulo Arraiano. Em alguns quartos, também eles intervencionados pela mão de artistas, um convívio com a arte como se de uma noite numa galeria se tratasse.

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Com uma inquietude pueril em experimentar os vários quartos de artistas, não nos satisfizemos enquanto tal não fosse possível. Assim, às 12h demos entrada no quarto de Ana Perez Quiroga que nos divertiu com o seguinte néon: “I’m bored, could you amuse me?” Quinze minutos depois mudámo-nos para o mundo exterior de Paulo Arraiano onde um dos seus poli-coloridos murais enchia o terraço. Por lá ficámos durante parte da tarde até por fim vivenciarmos a experiência do quarto de Bruno Pereira com o seu enorme coelho que nos diz de forma irónica “I’m not Bambi”. Claro que nos apetecia continuar a passar pedaços do dia seguinte nos demais quartos de artistas existentes mas não nos ocorreu voltar a “aborrecer” o staff com tal pedido. Uma semana antes já havíamos visitado o de Susana Anágua com uma peça cuja geometria se transforma em formas abstractas luminosas, devido à tinta fotoluminescente com que foi pintada, e que faz com que seja vista no escuro do quarto. De volta ao nosso quarto arty – propício a selfies devido ao enorme espelho que reflecte a obra – umas persianas separam a generosa casa-de-banho do restante espaço povoado pela cama, secretária, mesa e ainda um bom terraço onde escrevi parte desta história.

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Quando abriu, a Pousada sempre teve na sua intenção criar um edifício que recebesse conteúdos artísticos. Foi neste campo que entrou Sandro Resende, responsável pelo projecto P28. Ao observar o potencial do edifício fez uma proposta artística que envolveu a Pousada através da criação de quartos artísticos e de ateliers exteriores. Foi em Março do ano passado que os seis primeiros quartos foram intervencionados pelas mãos de Duarte Amaral Netto, Paulo Brighenti, Pedro Matos e dos artistas já mencionados. A todos eles foi dada uma liberdade criativa, mas não permeável a exageros, pois um dos artistas lembrou-se de propor a colocação de uma cama no tecto. “Digamos que o hóspede não pode dormir numa cama colocada no tecto”, contou a Art Concierge, Bárbara Noronha, entre risos. Ao se depararem com a arte nos quartos os clientes reagem de forma positiva e curiosa, “não estão à espera e temos tido óptimos comentários que se prendem com o facto de nunca terem vivido uma experiência semelhante”.

Na parte exterior à Pousada, e também a convite de Sandro Resende, encontramos galerias e showrooms como a Cinco, Raw (galeria de arte bruta), Viarco (onde mostram o processo de fabrico dos lápis) e a Magnética Magazine. Na parte de cima os ateliers de artistas. É lá que está o “work in progress” de alguns que já mencionámos aos quais se juntam João Paulo Serafim a convite de Susana Anágua. “A ideia é que o projecto não seja estático e sim dinâmico e que ofereça experiências diferentes. Uma delas o contacto com os artistas e outra com os conteúdos artísticos”, contou Bárbara. Apesar da liberdade impera a existência de um fio condutor num espaço cujos contratos têm a validade de um ano.

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Duas a três vezes por ano convidam artistas a fazerem colectivas e todo o espaço permanece de portas abertas, dos ateliers aos restaurantes e ao hotel. Os hóspedes são sempre convidados para as exposições, bem como os de vários hotéis em redor. Assim as inaugurações do Cidadela Art District transformam-se, entre as 18h e as 22h, num “melting pot” que reveste o hotel de personagens arty. Pelo meio estão os hóspedes que podem usufruir de toda esta dinâmica que envolve por exemplo, as aulas dadas por Paulo Brighenti e visitas guiadas aos vários ateliers. Muitas vezes mostram interesse em adquirir as peças existentes nos quartos e nesses casos são encaminhados a falar com o artista. “Houve um verão em que vendi uns milhares num só dia”, contou Bárbara.

O Hotel

A Pousada abriu as suas portas em Fevereiro de 2012 e no seu interior convivem  alguns edifícios que foram outrora ocupados por militares, entre eles a residência de férias do Presidente da República. O projecto da Pousada foi desenvolvido pelas mãos dos arquitectos Gonçalo Byrne e David Sinclair que se adaptaram ao espaço, respeitaram a traça histórica e contrastaram-na de forma harmoniosa com a contemporaneidade, o que já os levou a ganhar três prémios de reabilitação.

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Na Pousada existem 126 quartos com oito tipologias diferentes; uns têm vista para o mar, outros têm varanda e existem ainda as júnior suites. Para os que querem relaxar e usufruir de uma massagem existe ainda o spa com um diversificado menu. Nadar também é possível, tanto numa piscina interior com água aquecida como na piscina exterior à qual se chega percorrendo a muralha. Para as papilas gustativas existem duas hipóteses, Maris Stella, um restaurante com pratos mais sofisticados e a Taberna da Praça que oferece uma série de pratos que mostram o bom da gastronomia portuguesa de norte a sul. Foi lá que jantámos e comprovámos o quão bom é o seu ponte forte: os petiscos. Decidimos assim enveredar por uma fusão de sabores que oscilou entre as deliciosas amêijoas, passando pelos ovos mexidos com espargos, cascas de batata, gambas, salada de bacalhau e culminando num delicioso pudim Abade de Priscos. No menu os pratos são associados a frases de vários escritores que fazem a ponte com o andar de cima onde encontramos uma livraria em que 100% das receitas revertem para a Associação Portuguesa de Trissomia 21. Trata-se da primeira livraria solidária do país e no seu interior encontramos uma fusão entre forma como se apresenta enquanto espaço bem decorado e a boa escolha dos livros que tem disponíveis. Todos os livros de que dispõem foram doados e o mais ambicioso dos objectivos é através da livraria criarem postos de trabalho para jovens adultos com Trissomia 21.

O sol aterrou em Cascais para nos brindar com dois magníficos dias. Com vista para o mar, no quarto esperavam-nos um Porto Tawny que juntamente com o sabor dos brigadeiros de chocolate nos fizeram pensar que por vezes passar duas noites num hotel especial nos pode levar à criação de boas memórias. A meio tarde entregaram-nos um postal com o estado do tempo para o dia seguinte...

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