Fotografias Cortesia Rede Art Agency.
O Renascer da Carpintaria de São Lázaro
Abriu um novo espaço para as artes criativas que se situa na rua de São Lázaro, (entre o Martim Moniz e o Campo de Santana), zonal multicultural da cidade, onde funcionou ao longo das primeiras décadas do Séc.XX uma carpintaria comunitária; onde as pessoas iam fazer os seus trabalhos. Porém em 2002, ocorreu um incêndio, tendo a partir daí ficado abandonado durante largos anos.
"Sempre quis inaugurar as Carpintarias com Los Carpinteros" refere a curadora Verónica de Mello. Trata-se da primeira iniciativa desta Associação Cultural de dimensão multidisciplinar constituída por cinco membros, entre eles Alda Galsterer e cujo coordenador é Fernando Belo. Este pólo criativo pretende adotar uma estratégia conceptual diferente de um espaço galerístico, sendo um centro de inclusão da criação e pensamento contemporâneos. Após a sua recuperação, o espaço acolheu no âmbito da Lisboa Capital Ibero-Americana da Cultura o trabalho de uma dupla de artistas cubanos de renome internacional Marco Castillo e Dago Rodriguez; havendo um terceiro elemento Arrechea mas, que entretanto abandonou o grupo. É a primeira participação em Lisboa desta dupla de artistas de Havana, se retirarmos um vídeo projetado na Culturgest, nos primórdios das suas carreiras. Em 2015, houve uma tentativa para exporem na capital através de António Pinto Ribeiro mas que não se concretizou. Vivem entre Madrid e Havana, passando mais tempo em Espanha do que em Cuba mas voltam sempre lá. "Temos uma relação ativa com o mundo cultural de Havana. A amizade que cultivámos foi uma maneira de sobrevivência e salvou-nos a todos".
"Para nós é como voltar ao templo, porque a carpintaria sempre foi uma metáfora" (Los Carpinteros)
A instalação simula a recriação da imagem de uma explosão, desenhando o seu drama. Uma obra que apela à memória deste lugar específico numa viagem ao seu passado. Após o incêndio, surge neste espaço a memória de uma explosão. A escolha desta intervenção parece ter sido intencional e de uma forma assertiva. Foi assim um excelente começo onde a Carpintaria renasceu das cinzas para futuras atuações num espaço que se propõe ativo e dinâmico. "Quisemos construir uma situação de destruição. Foi complicado, porque construímos e destruímos simultaneamente". Materializar e suspender o momento de uma explosão é também uma forma poética de suspender o tempo, tornando a sua manipulação um fator determinante. Aliás, o seu trabalho geral debruça-se sobre as texturas e dobras do tempo; estabelecendo um diálogo com movimentos cimeiros e preocupações estéticas no contexto cubano e na prática artística atual.
Show Room é uma ampla instalação escultórica em site specific, sendo uma reinterpretação da obra original de 2008, fazendo parte de uma série construída de espaços explodidos. Cada vez que constroem um novo trabalho, os criadores necessitam de adquirir materiais, tomando estes várias leituras ao longo dos anos. A peça foi vista pela primeira vez na Semana de Arte Contemporânea de Havana, onde não eram utilizados móveis como nesta, mas sim blocos de cimento. Conheceu-se uma segunda leitura em Londres, na Psychic Buildings. A ideia basilar consiste em explorar o espaço existente sem ferir a memória da imagem industrial que se encontra fortemente depositada, mantendo a maioria das coisas e realizando uma intervenção com características subtis, indo ao encontro do estilo que costumam fazer.
Habitualmente, a sua obra é concebida com materiais que se encontram nos lugares onde é montada a exposição; contudo, neste caso foi necessário acrescentar novos elementos, como mesas, cadeiras e andaimes, que se destacam no imbróglio do caos dada a cor vibrante do amarelo destes objetos. É a primeira vez que expõem numa oficina, existindo algo redundante e irónico: Los Carpinteros a trabalharem numa antiga carpintaria. No início do projeto, a intenção da direção era criar uma instalação com móveis produzidos na velha carpintaria; todavia, os artistas rejeitaram a ideia, achando que ia carregar demasiado o seu conteúdo.
É um Show Room feito de contraplacado, utilizando móveis do Ikea, de seguida destroem os objetos e colocam-nos suspensos em função de um forte impacto, como se estivéssemos perante um primeiro momento do caos criativo. "A imagem da explosão é recorrente na nossa cabeça". Ficam portanto os destroços e fragmentos suspensos no ar, presos por centenas de fios num equilíbrio difícil, simulando uma gravidade zero; observando-se na atmosfera uma névoa branca poeirenta solta. Este coletivo foi fundado em Havana, em 1992 e está representado na Coleção do Moma de Nova Iorque. O seu trabalho esteve exposto na Arco de Madrid com a peça Domo Hexagonal.