Colocar em diálogo várias galerias a nível mundial, que fazem um trabalho muito próximo com os artistas, foi um dos pressupostos curatoriais da secção Dialogues da Arco Madrid e onde encontrámos galerias americanas, holandesas, alemãs, mexicanas ou israelitas. Para além de uma aula de história de arte contemporânea, uma ida à Arco representa também o contacto direto com o trabalho de artistas e galeristas a nível mundial que, para além da sua vertente em representar o artista, trabalham em proximidade na produção de um discurso.
No ano passado as curadoras María de Corral juntamente com a sua filha Lorena Martínez Corral e Catalina Lozano criaram uma secção para celebrar os 35 anos da Arco e para a qual convidaram 35 galerias. A secção teve muito êxito e Carlos Urroz (diretor da Arco) pediu-lhes para que este ano voltassem a criar um conceito fazendo uma nova curadoria. Assim surgiu a ideia de convidarem galerias estrangeiras cujo trabalho lhes interessou, sendo que muitas delas nunca tinham estado na Arco Madrid.
Todas têm um percurso em curadoria e María de Corral foi diretora do museu Reina Sofia, da Caixa Collection e comissariou a exposição I Will Be Your Mirror – poems and problems, do artista João Louro no Pavilhão de Portugal na Bienal de Veneza. Para conceptualizar estes Dialogues, escolheram 11 galerias que atravessaram o corredor de entrada dos pavilhões 7 e 9 selecionando “dois artistas por galeria e criando um diálogo entre ambos. Em alguns casos tratou-se de um artista vivo que trabalhou sobre a obra de outro, noutros casos selecionámos artistas já falecidos frente a artistas mais jovens em que o diálogo se estabeleceu pelo facto de utilizarem a mesma linguagem em épocas diferentes. Houve também galerias que convidaram artistas que nunca haviam exposto em conjunto e este era o lugar para o fazer”, contou Lorena Martínez Corral.
Para além do diálogo que estabeleceram com os artistas comum às várias galerias, importante foi o discurso presente nas obras apresentadas, passando por questões sociais, ambientais ou de género.
Da Cidade do México chegou pela primeira vez a galeria Labor com os artistas Irene Kopelman (argentina que reside atualmente em Amsterdão) e o espanhol Jorge Satorre. A obra de Irene estabelece um diálogo entre a arte e a ciência e na feira estiveram presentes trabalhos feitos a partir das suas viagens ao Peru, Panamá, Colômbia, Amazónia e Malásia cujo conceito derivou da sua interpretação do que rodeia a natureza. Apresentou também um dos seus últimos projetos intitulado Close Up Currals para os quais fez toda uma investigação sobre os oceanos. Já o trabalho de Jorge Satorre, Baldosas Arruinadas — feito em Barcelona numa residência artística —, residiu numa instalação que ocupou a parte central do stand. Segundo Anna Maria, uma das colaboradoras da galeria, “todo o trabalho de Jorge fala sobre os processos nos distintos tipos de ofícios. Para esta obra criou uma ficção na qual um artesão realiza uma plataforma que é quase arruinada por forças externas às suas, neste caso animais”. A galeria trabalha na sua maioria com artistas que têm uma preocupação social e política e com processos de investigação profundos.
A holandesa Ellen de Bruijne Projects levou para a feira a dupla de artistas Pauline Boudry & Renate Lorenz e Falke Pisano chegando à conclusão que seria a melhor combinação. De uma forma muito visual e materializada através da instalação Prision Work, a artista holandesa Falke Pisano lida com o tema prisão e todas as suas problemáticas inerentes. O trabalho global intitulado Body in Crisis começou a ser feito em 2011 e a peça apresentada, de 2013, representa o último momento de crise, o momento em que as prisões nos Estados Unidos passaram a ser privatizadas e “os prisioneiros passaram a ser uma espécie de escravos modernos”, contou Ellen de Bruijne, acrescentando que a artista começou o seu trabalho numa base conceptual que posteriormente se tornou social. Já Pauline Boudry & Renate Lorenz reescrevem a história de uma perspetiva queer. O vídeo apresentado na feira incidiu sobre Chelsea Manning — nascida sob o sexo masculino e de nome Bradley Edward Manning, é uma militar transexual do Exército dos Estados Unidos — condenada a 36 anos de prisão devido ao facto de ter enviado informação vital para o WikiLeaks. “Felizmente Obama libertou-a. A sociedade não foi flexível com o facto de ‘ele’ ter mudado de género passando a ser uma mulher”, comentou de Bruijne. No vídeo os artistas, juntamente com vários performers e artistas, interpretam Chelsea Manning mudando constantemente de identidade.
Galeria Ellen de Bruijne Projects
As Cidades Voadoras de Tomás Sarraceno
A partir de uma escolha das curadoras, a nova-iorquina Tanya Bonakdar Gallery levou à feira dois artistas argentinos, Tomás Sarraceno que vive atualmente em Berlim e Analia Saban residente em Los Angeles. “Tanya, a fundadora da galeria, discutiu com María de Corral a ideia de estabelecer um diálogo entre estes dois artistas e, a partir daí, ambos construíram o seu trabalho de forma a criar esta fantástica relação numa ideia de justaposição”, contou o diretor Ethan Sklar. O corpo de trabalho de Tomás atravessa vários media como a escultura, fotografia, vídeo ou instalação e lida com as visões do futuro, sugerindo várias formas de lidar com a crise ambiental que atravessamos. Muitas das suas esculturas expressam como viver num planeta que está comprometido devido a questões ambientais. No stand as suas esculturas são uma espécie de sugestões poéticas para estruturas que podem ser vistas como cidades voadoras, criando uma espécie de arquitetura no céu. Ao mesmo tempo o artista é inspirado pela natureza, sendo que a geometria das esculturas baseia-se em bolas de sabão e teias de aranha. Em justaposição o trabalho de Analia Saban sugere-nos uma paisagem lunar. Conhecida por usar cortes a laser, moldes de silicone e acrílico, e técnicas erosivas, as suas pinturas escultóricas resultam do interesse da artista em dissecar tanto o processo de pintura como as suas próprias obras. Saban descreve seu método de trabalho como artístico e científico.
Entretanto em maio a Arco está de volta a Lisboa numa segunda edição também ela com uma secção curatorial, a Opening — também existente na Arco Madrid e da qual já falámos num artigo anterior —, a cargo do curador independente João Laia.
A Umbigo viajou a convite do Turismo de Espanha.