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Dos anos 70 para o Século XXI em Tavira

O Ozadi, um nome exótico com o qual os proprietários desejam evocar a diversidade cultural e histórica do Algarve, deixou a aura de velho hotel dos anos 70 para trás, quando foi renovado e reabriu com estilo: o projeto arquitectónico, da autoria de Pedro Campos Costa, ganhou o prémio FAD (Fomento das Artes e do Design), considerado o mais importante na península ibérica e foi finalista do prémio Building of the Year atribuído pela plataforma online Archdaily.

O segredo do sucesso reside no convívio entre inovação e tradição. Há uma ala nova visualmente muito apelativa e, olhando para a imponente varanda suspensa que alberga o orangea bistro e uma zona de lounge, debruçada sobre a enorme piscina, percebemos porque o arquitecto disse em entrevistas que gostava de ter sido cineasta. Há um efeito dramático e cénico que nos faz imaginar que também podíamos estar numa estância de neve, com vista para uma floresta de faias.

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Felizmente são os telhados e as torres das igrejas de Tavira que se avistam ao longe, e todas as promessas da boa vida mediterrânica que a cidade mais cultural e trendy do sotavento pode oferecer estão a poucos quilómetros. O Ozadi é um hotel para desfrutar com a família e os amigos as praias do sotavento. Há um transfer gratuito para Cabanas, onde se apanham os barcos que atravessam a ria Formosa em menos de cinco minutos. Do outro lado está a língua de areia dourada de sete quilómetros, bordejada por um mar de águas transparentes e temperadas.

Nem todo o passado foi rejeitado nesta recuperação, antes pelo contrário: no restaurante onde é servido o buffet de pequeno almoço e alguns jantares temáticos, sobreviveram as grandes portadas de madeira e o balcão do bar, à entrada, com os mármores, os bancos altos e os forros de peles artificiais e cromados vintage que seria um desperdício não incluir no lifting geral.

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Chegamos ao quarto e do passado só ficou o que era bom, ou seja, a área generosa que acomoda com largueza a cama, um sofá de descanso e algum mobiliário minimalista. Adoramos as mesas de cabeceira e os candeeiros em cortiça, desenhados pelo designers da Caco (de cork e cardboard, ou seja, cortiça e cartão prensado). As casas de banho utilizam em algumas paredes o azulejo hidráulico produzido na região, quebrando um pouco a sobriedade geral: entre os cinzentos dos cimentícios usados nos pavimentos e os castanhos terra da cortiça e mobiliário, tudo respira tranquilidade e conforto.

O mesmo ambiente é vivido na sala de estar térrea, que serve de zona de leitura e para os hóspedes. Há uma enorme lareira que as amenidades do clima devem convidar pouco a acender mas funciona como elemento decorativo central de um espaço amplo e polivalente, onde existem, como se fosse na nossa casa, cadeirões confortáveis forrados com tecidos e estampados revivalistas da psicadélica década de 70, livros e jornais para consulta e peças decorativas, a maioria provenientes de artesãos locais.

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Não é difícil encontrar artesanato de qualidade no Algarve, sobretudo nas regiões serranas que mantiveram bem vivos os ofícios antigos: olaria, cestaria, empreita (entrançados de palma), tecelagem, cobre e ferro forjado são algumas das artes que ainda hoje continuam a produzir objectos belos e utilitários.

A famosa estrada 125, que atravessa o Algarve, está a poucos metros do hotel e por isso o jardim é limitado. Mas experimentámos uma das camas exteriores, protegida do ruído por uma vedação de madeira, e deu vontade de ficar a dormir cá fora, olhando nos olhos da noite estrelada e quente.

Com o restaurante a funcionar com maior ligação a eventos (fins de semana gastronómicos, por exemplo, animados por diferentes chefes), os deveres diários da comida ficam a cargo do Orangea bistro. É um espaço funcional e informal com uma escolha apropriada ao conceito: durante o dia serve refeições ligeiras, ao final da tarde transforma-se e aposta nas tapas à moda do Algarve. Isso quer dizer que vai haver batata doce frita, muxama de atum, pataniscas de estupeta, hummus com tostas de pão regional, queijo de cabra com compota de figo caseira e muita laranja algarvia que é a melhor do mundo: por exemplo, laranja caramelizada a acompanhar foie gras e outras deliciosas combinações.

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O hotel, que já foi orgulhosamente o primeiro a abrir em Tavira, em 1970, abre-se agora à contemporaneidade e às suas exigências: dinamiza programas desportivos e de bem estar específicos, como a corrida e o ciclismo, aproveitando as pistas do parque natural da ria Formosa e os trilhos das salinas. Para quem desejar essas aventuras, o Ozadi garante um regresso retemperador. Mas também acolhe com alegria e conforto aqueles que só desejam ficar à beira da piscina a beber coktails e licores da serra. E quem os pode criticar?

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