BOA-VIDA

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Fotografias: António Néu.

Viver na Aldeia com o Conforto de um Hotel

É no cimo de um monte que se ergue a aldeia de Marialva. Fechamos os olhos e torna-se difícil realizar que estamos em pleno século XXI. Do campo visual fazem parte as ruínas, a muralha de um castelo, a igreja, as diversas casas em granito, a montanha e a senhora que foi comprar o pão. É uma aldeia que desperta ideias, principalmente a brilhante que saiu das cabeças de Paulo e Cármen Romão ao construírem as Casas do Côro.

A família materna de Cármen tinha uma casa em Marialva onde juntamente com Paulo ia passar os fins de semana. O lado irrequieto e empreendedor de Paulo levaram-no a uma ideia fixa: erguer a aldeia e dar-lhe uma nova vida. “Anda por aí um louco a comprar todas as pedras, e não paga mal”, comentavam os poucos habitantes. E foi mesmo assim. Comprou e reconstruiu as casas à semelhança da traça original habitando um espaço que parecia relegado ao esquecimento.

São 21 os quartos que em breve passarão a 31. Um projecto que começou no ano 2000 e que se encontra em profunda expansão. Para além do aumento do número de quartos estão também a acabar a construção de um SPA que ou muito nos enganamos ou vai ser um ponto de atracção que chamará ainda mais pessoas a esta aldeia que se encontra entre a Guarda e Foz Côa.

À entrada somos recebidos por uma garrafa de água da região e um saquinho de biscoitos caseiros que já adivinham um pequeno-almoço com uma boa diversidade de produtos da região e percebemos que não são de todo um complexo turístico normal, e sim uma aldeia histórica com diversas casas, todas elas diferentes: da suite ao quarto normal, à casa com kitchenet. Todas as casas têm um afastamento entre elas e por vezes nem nos apercebemos quais as que pertencem ao complexo. É como se passássemos a habitar uma aldeia histórica durante uns dias. Ao dia a dia juntamos todo o conforto inerente a um hotel (lareira, banheira de hidromassagem, sistema de som e ar condicionado), com a típica expressão “cama, mesa e roupa lavada”.

Diferente de todas as outras casas é a suite eco sustentável, que compraram há dois anos e que aterrou, já completa e pronta a usufruir, numa colina, estrategicamente colocada no meio das árvores. Toda ela é auto-suficiente e todos os materiais são reciclados, do tapete à cama, passando pelos candeeiros. Ficámos surpreendidos com o armário multi-funções que nele integra um guarda-roupa, loiça, a hora da leitura e um plasma.

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Passeamos pelo jardim de oliveiras e amendoeiras e tentamos perceber como tudo começou neste espaço ao sabor do jantar preparado pelas mãos de Cármen (que alertada pela filha mais nova, Rosarinho, nos informa que estamos a comer cogumelos salteados com azeite, alho, chouriço e ovo cuché aromatizado com salsa). Começa por nos contar que “o Paulo não gosta de estar parado”. Uma verdade que começámos a constatar passadas poucas horas. São viciados em decoração, compram tudo o que gostam e vão distribuindo pelos espaços de forma intuitiva. É para eles “o bébé número seis” (risos), logo a seguir aos cinco filhos. Continuamos a conversa com uma pausa para comer uma perdiz confitada com puré de batata e questionamos Cármen acerca dos seus segredos na cozinha pois é ela que elabora a carta. “Todos os dias penso: o que é que vai ser hoje?”. A verdade é que a comida é óptima e as pessoas não repetem entradas nem pratos nem vinhos. Há um critério em que se marca a diferença. A acompanhar os pratos estão os vinhos, uma componente muito importante do projecto. São 10 hectares que se dividem por várias castas. Uma complementaridade natural num sítio que tem um terroir incrível. Estão a fazer dois perfis de vinhos diferentes, um por Rui Madeira e outro por Dirck Nieport. Após os vários vinhos a que seguiu um vinho do Porto, Paulo vestiu a pele de DJ e transformou a sala de jantar numa discoteca.

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A aldeia amanhece com Sol e é na esplanada que tomamos o pequeno-almoço enquanto observamos os crentes reunidos no átrio da Igreja. Seguimos para uma visita ao castelo e a todo o espaço que envolve as Casas do Côro. Não faltam zonas ao ar livre para lounge, piqueniques ou jantares à luz de velas como costumam fazer na zona da piscina. Até é possível dormir ao relento, no Verão não há frio e as melgas não interrompem o sono. Um passatempo que cresceu e ganhou muita dimensão. Paulo e Cármen nunca tinham tido qualquer ligação com o mundo do turismo e descobriram várias paixões: o gosto pela decoração, pelo cozinhar e pelo receber bem.

Quinta da Ervamoira

Um dos dias foi dedicado à quinta da Ervamoira e mal chegámos Sónia Teixeira, técnica de informação turística e responsável pelas visitas à Quinta da Ervamoira (grupo Ramos Pinto) meteu-nos num jipe e levou-nos a uma viagem idílica pelo Douro Superior e pela histórica quinta. Nesta zona vivem-se os extremos, muito frio no Inverno e muito quente no Verão. Chegam a atingir os 45, 50 graus. Em Novembro a vinha assume as cores de verde, amarelo e vermelho por camadas.

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É das mais importantes quintas em Portugal e nela engloba um museu sobre a arqueologia da zona, a casa Ramos Pinto e os conhecidos cartazes la belle époque. Por isso fazem vários programas que envolvem provas de vinho, visitas à quinta, almoços e visitas ao museu. Chegámos à típica casa, em xisto com as molduras e janelas em granito, onde fomos muito bem recebidos com um vinho do Porto. Segue-se um almoço que nos faz viajar pela delícia das entradas e pratos como: omelete de espargos e um bacalhau como há muito não comíamos. Todos eles acompanhados por alguns dos vinhos que produzem, o Duas Quintas e o Vinho do Porto.

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Na visita ao museu vimos os belos cartazes com frases como “Os Vinhos Ramos Pinto são Sempre uma Tentação”, “Dão Alegria aos Tristes e Audácia aos Tímidos”. Adriano Ramos Pinto não se limitou apenas a fazer bons vinhos, como bem reconhecemos nas icónicas imagens que rodeiam a marca. “Para ele a imagem, a rolha e o rótulo eram igualmente importantes. Oferecia brindes às senhoras e dizia que um bom vinho do Porto tinha que ser sempre comparado a uma bela mulher” conta Sónia.

Museu do Côa

No dia seguinte rumámos ao Vale do Côa e respectivo museu onde fomos surpreendidos pela paisagem e pela arquitectura do museu da autoria de Pedro Pimentel e Camilo Rebelo: o Museu do Côa, muito pouco divulgado tendo em conta que é uma excelente obra de arquitecura, equiparada às mais importantes existentes a nível europeu. Por lá almoçámos com João Fernandes, o responsável do restaurante que nos preparou um verdadeiro menú feito unicamente com produtos da região, da batata à carne mirandesa, ao fumeiro transmontano. Seguimos para o museu e através de uma visita guiada ficámos a perceber toda a grandiosidade das gravuras, relevos e exactidão das mesmas.

Vale a pena conhecer.

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