Alice Cooper – Public Animal #9 (School's Out album track, 1972)
Até 1975, houve uma entidade subvalorizada nos dias de hoje chamada Alice Cooper Band. Mais tarde, surgiu Alice Cooper a solo que, com a quantidade de músicos suporte que passaram nas suas fileiras, nos faz esquecer que em tempos Alice Cooper era apenas o nome de uma banda e não o alter ego do vocalista, Vincent Furnier.
Vindos de Phoenix, Arizona, os Alice Cooper começaram a ganhar notoriedade no final dos anos 60 em Los Angeles, Califórnia. No entanto, não era a melhor estirpe de notoriedade. Os Alice Cooper eram conhecidos como "a banda mais odiada de LA". Para atestar este facto, era moda ir a um concerto do quinteto para, de seguida, abandonar o recinto virando costas à banda. Não obstante, esta mesma moda atraiu a atenção de Frank Zappa, que assinou a banda para a sua Straight Records (para Zappa, uma banda que conseguisse ter aquele tipo de reacção em plena época da paz e do amor era digno de registo e respeito).
Passados alguns anos, com uma relocalização para Detroit, Michigan (cidade de bandas como The Stooges ou MC5), e com o encontro do produtor Bob Ezrin, as fortunas dos Alice Cooper tomaram um rumo para melhor. Em Ezrin, encontraram o cúmplice perfeito para olear uma máquina que até então se apresentava em necessidade de afinação. As ideias estavam presentes mas o modo como eram apresentadas era ainda vago e com resultados por vezes incertos. Para trás ficaram as deambulações floydianas do início e um foco mais contundente foi puxado para a frente.
Além da teatralidade, os Alice Cooper estavam agora munidos de armas mortíferas e certeiras. Com a bagagem rock and roll de uns Rolling Stones ou de uns The Who, aliado à noção cinematográfica de Leonard Bernstein, os Alice Cooper transformaram-se numa controversa máquina imparável de riffs, hooks and grooves. Os Alice Cooper passaram de "banda mais odiada em LA" para banda mais odiada pelos pais a nível mundial e, se os pais odeiam, os miúdos adoram!
Para exemplificar este facto, temos este soberbo tema tirado do seu quinto disco de 1972, School's Out. Para além do sobejamente conhecido tema título do álbum, o disco é um desfilar de desafiantes hinos anti-autoritários adolescentes. Escondido como segunda música no lado B do disco, Public Animal #9 não foge à regra. A melhor palavra para descrever a música é "sleeeeaze..." e sim, com as reticências e o "e" alongado.
Desde o início, com os coros desafiantes que acompanham o tema até ao seu final, a letra é um dos pontos fortes. Quando é anunciado que o protagonista e um tal de Jimmy nunca vão confessar um qualquer feito, estamos a pensar de um crime ou algo pior. Na verdade, são apenas dois estudantes de secundário que copiaram no teste de matemática e que facilmente trocariam um mês de cigarros por um par de reles cervejas. Até o facto de serem inimigos públicos nº 9 e não o primeiro, denota um falhadismo carregado de humor aparentemente fácil mas rico em subtileza e delinquência juvenil.
Ao vivo, a música ganhava contornos de calma antes da tempestade. Começando com feedback e suaves notas de guitarra, os Alice Cooper entram a matar com descargas de guitarra, baixo e bateria antes de ir para o riff stonesiano da música. As cervejas reles são substituídas por vinho de pacote marca branca e a música torna-se um convite para faltar às aulas e ir curtir a vida em vez de fazer coisas chatas a que a vida quotidiana obriga.
Dois anos e dois álbuns volvidos, a máquina Alice Cooper foi para reparações para nunca mais sair da oficina. Vincent Furnier transformou-se completamente em Alice Cooper e a Alice Cooper Band ficou algo eclipsada após a sua desintegração. Esquecidos para o público em geral ficam Michael Bruce, guitarrista que aferia músculo rock and roll com os seus riffs simples e contundentes, Glen Buxton, guitarrista solo atípico cujas contribuições maiores foram o riff de School's Out e um solo no disco seguinte, Billion Dollar Babies (Warner Brothers, 1973), em que se limitou a chegar ao estúdio e partir a guitarra, Dennis Dunaway, baixista extraordinário capaz de aferir inventividade e originalidade aos temas do grupo e Neal Smith, baterista tentacular que com os seus longos braços e gigantesca bateria atribuía uma classe rítmica misto de Keith Moon e Gene Krupa.
A Alice Cooper Band era mesmo inimiga pública ao invés de Alice Cooper, personagem de filme de terror de Domingo à noite. De notar que o álbum original tinha uma capa que abria como uma antiga carteira de escola e que o disco vinha com um par de cuecas. Mais sleazier do que isto não havia e, possivelmente, nunca mais haverá.