Chegámos ao aeroporto de Hanoi, e tendo feito uma reserva através da pousada para nos virem buscar, deveria lá estar o motorista com o meu nome à espera. Esperámos quase uma hora e chegámos à conclusão que se tinham esquecido de nós. Peguei no meu livro e procurei uma outra pousada bem perto do centro da capital. De seguida, dirigi-me a um taxista e pedi para me levar à tal pousada. Perguntei o preço e ele disse que eram 15 dólares. Não sabendo se era caro ou não, achei por bem regatear e poupar algum dinheiro. Pedi para fazer um preço mais em conta, mas como o fulano não aceitou, virámos costas e quando demos conta estávamos rodeados por inúmeros taxistas. Aquele pedacinho de metro quadrado onde nos encontrávamos tinha virado uma autêntica feira. Todos queriam ganhar algum dinheiro e levar-nos à capital pelo mesmo preço, até que alguém nos ofereceu a tal viagem por 12 dólares. Chegámos à pousada e estavam duas raparigas novas na receção. Perguntámos por um quarto mas estava tudo cheio. Indicaram-nos um outro sítio e ainda ficámos um pouco na conversa. Quando elas perceberam que éramos portugueses, surge o inesperado e o inexplicável. Começaram as duas aos saltos por sermos os primeiros portugueses que tinham conhecido. Até aí não condeno. Cada um salta de alegria pelo que o move mais. E do nada, já tinham quartos livres para nós. Desatei às gargalhadas, pois minutos antes estava tudo cheio, e de repente só por sermos portugueses já havia quartos. O primeiro contacto com a cidade de Hanoi foi uma enorme gargalhada perante tanta confusão. A circulação rodoviária e o caos de mãos dadas em plena sintonia.
Scooters e mais scooters. Motorizadas e mais motorizadas. Cruzamentos loucos com velocípedes em contramão ou a fazerem as rotundas ao contrário. Nunca tinha visto nada assim. O trânsito era de loucos. Os muitos velocípedes pareciam umas autênticas formigas, não se sabendo bem de onde vinham e apareciam. Durante uns largos minutos fiquei a observar os nativos quando passavam para o outro lado da rua e percebi imediatamente o truque. Fé em Deus e simplesmente ir em frente. Sentia-me um autêntico caloiro na arte de atravessar ruas completamente atulhadas de velocípedes, mas alguma vez tinha de ser praxado. Olhámos para o céu como se se tratasse da travessia das nossas vidas e lá fomos nós a passo de caracol até chegar ao destino final. Como diz o ditado, o que custa é a primeira vez, mas há certos casos que fogem à regra. A primeira vez foi realmente difícil, complicada e ruim. Ou seja, um autêntico quebra-cabeças. A segunda foi apenas difícil e complicada. A terceira já não foi complicada. Apenas difícil. E após alguns dias, a vigésima quarta vez, o difícil continuava a constar nos nossos dicionários. Não havia borracha ou corretor que apagassem esta palavra. O que vale, é que nos ríamos e levávamos aquilo na brincadeira. Certa vez, observei um polícia sinaleiro no meio da estrada. É óbvio que o papel dele é tentar manter alguma ordem. Mas nada disso. Parecia uma estátua ou um espantalho. Todos os veículos ultrapassavam sem nexo algum ou vinham em sentido contrário e ele não fazia nada. Paz e amor para este senhor. Provavelmente uma situação até bem normal ao qual não estávamos habituados. Apesar de tudo, a capital tem o seu charme. Existem dezoito lagos espalhados pela cidade e o principal é o lago Hoan Kiem, onde existe uma ponte com acesso a uma ilhota, onde se encontra o templo de Ngoc Son. Os vietnamitas são um povo que se preocupa imenso com a saúde e o aspeto físico, e por isso é frequente observar as pessoas a fazerem ginástica por toda a cidade, principalmente em redor do lago.
Um dos rótulos mais emblemáticos deste país é o famoso chapéu vietnamita em forma cónica, também conhecido por Nón Lá. Este objeto sem grande significado aparente para os ocidentais, vale ouro para estes autóctones. Para além de proteger do sol, sendo que o ideal de beleza é a pele branca, também protege da chuva. Outra função é o de coletar água da chuva ou simplesmente guardar frutas ou legumes como se fosse um recipiente. Ao longo da capital havia imensas ruas temáticas. Umas só com livros à venda, outras só com brinquedos e assim em diante. A presença constante de uma alma lusa na capital era bem visível nas crianças que vestiam camisolas da seleção portuguesa e de Cristiano Ronaldo. Já ao anoitecer, voltar para a pousada não foi nada fácil. Todas as ruas pareciam iguais. Havia sempre a solução de ver o nome da rua, mas esta solução era outro dilema. O nome das ruas estava escrito em chinês. Perdidos e um pouco desorientados, encontrámos a pousada passado um bom tempo. Finalmente na pousada, conhecemos um rapaz bem simpático que lá trabalhava. Fã da seleção portuguesa, sabia o nome de todos os jogadores e até conhecia o Vasco da Gama.
Mostrava orgulhosamente a sua scooter e queria que eu a experimentasse. Agradeci imenso a amabilidade, mas perante tal confusão de velocípedes, recusei a oferta. Apesar de todas estas aventuras e algum caos na capital vietnamita, Hanoi foi, sem dúvida alguma, uma agradável surpresa. Confusa e irrequieta, mas ao mesmo tempo mágica e encantadora.