DIÁRIOS DO UMBIGO

  • none
  • none
  • none
  • none

Há semanas que não pensamos sem ser em comida portuguesa. Já não estamos cá nem lá. Já marcamos jantares e almoços, família e amigos, nas melhores tascas de Lisboa e Porto. Sempre que comemos mais um arroz ou uma sopa de massa já só pensamos em bitoques e alheiras.

Tudo o que nos separa de um polvo à lagareiro é Macau e assim que aterramos contamos a nossa aflição aos amigos portugueses que nos esperam. Percebendo que é coisa séria, eles decidem passar os dias e noites seguintes a levar-nos aos melhores restaurantes de Macau. Há lá melhor turismo, senhores!

macaucomcheirinhoacasa-1

Depois de um festival de preguinhos, rissóis, croquetes, bitoques, pastéis de nata e cozido à portuguesa podemos começar a conhecer a cidade.

Estar aqui é como estar sempre dentro de uma piscina coberta. Com a humidade a rondar os 90% é claro que os melhores sítios são os que servem comida e ar condicionado, os incontornáveis casinos e os museus.

Os casinos de Macau geram mais receita de jogo que qualquer outro sítio do mundo. Sim, sete vezes mais que a mítica Las Vegas. No maior casino do mundo, Venetian Macao, não se vê o fim às salas de jogo nem ao limite das apostas e, para descansar das mesas sem ter que sair, há uma Veneza em miniatura para visitar com canais, gôndolas e gondoleiros e uma atmosfera a recriar um dia de sol constante 24h, não vá alguém achar que tem que ir para casa porque ficou de noite.

macaucomcheirinhoacasa-2

Nos museus vimos a história desse grande império português do Oriente mas o melhor foram mesmo as lutas de grilos. Eu sei, eu sei, somos todos defensores dos animais e tal, mas grilos? Não pude não ficar colada ao vidro e aos expositores com os antigos campeões.

macaucomcheirinhoacasa-3

Em Macau os nomes das ruas e restaurantes são em português apesar de quase ninguém entender ou falar português. As ruelas da baixa e de Coloane fazem-nos sentir perdidos em Alfama quando ainda havia recantos por descobrir e os pastéis de nata sabem a ovo apesar das filas intermináveis de turistas.

macaucomcheirinhoacasa-4

A civilidade em Macau foi das coisas mais interessantes de ver, depois do bitoque: ao mesmo tempo que não se pode fumar em quase nenhum espaço público como jardins ou paragens de autocarro e se paga multa por deixar pingar o ar condicionado para a rua, continuamos a levar com sonoros arrotos vindos de toda a parte sempre que alguém se sente satisfeito ou a ver montes de lixo serem atirados ao mar porque está mais perto.

Esta mescla que se vive entre os casinos de luxo monumental, os mercados tipicamente asiáticos e a decadência do antigo império português é o melhor de Macau.

macaucomcheirinhoacasa-5

Isso e o Cais 22. Aqui comi a melhor comida de Macau – depois de quase chorar com os petiscos portugueses – num pontão sobre o mar enquanto uma pequena barata me subia a perna e um cozinheiro matava um rato com os pés na mesa ao lado. Aqui se trocaram horas de histórias portuguesas à volta de cervejas chinesas pela noite dentro e, oito meses depois, tive a certeza daquilo que disse ao começar esta viagem: não há nada melhor para conhecer sítios e pessoas do que partilhar comida sem pressa. As food as it gets, as good as it gets.

macaucomcheirinhoacasa-6

P.S. - Por mais voltas que dê não encontro nada que chegue perto da comida portuguesa do Norte ao Sul do país, mas prometo continuar a tentar. Por enquanto, aterro em Lisboa.

* Este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

ARTIGOS RELACIONADOS

Diários do Umbigo

Newsletter

Subscreva-me para o mantermos actualizado: