DIÁRIOS DO UMBIGO

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Venderam-nos o paraíso e afinal Kuta é capaz de estar no meu top de piores sítios para ir passar férias, taco a taco com o Cacém mas com menos variedade de pratos.

Quando chegámos bem me enganou. A nossa casinha afastada do rebuliço e no meio do campo com uma família que falava só a rir, a varanda onde nos traziam o pequeno-almoço incluído, o ar de vila.

Primeiro fomos à praia mais perto, por ser ali no meio não se esperava nada que surpreendesse. Mas surpreendeu. Para o lado errado. Ainda não nos sentámos há 5 minutos e aí está a criança a vender pulseiras. Essa multiplica-se por muitas, quase ininterruptas durante todo o tempo que ali estamos e o outro – aquele em que estamos a jantar, a andar pela rua e até a dançar no bar à uma da manhã. Centenas de crianças por dia e noite em todo o lado a trabalhar. Nada fixe.

Para além da praia urbana tudo o que há para fazer em Kuta depende de alugar uma mota. Ora se eu escolho um sítio de praia para férias não estou à espera que a praia esteja a quilómetros de muito má estrada da minha porta. Parem de dizer que esta Kuta tem as melhores praias de Lombok porque se essas praias estão, nalguns casos, a uma hora de mota, não me parece muito justo dizer que são em Kuta. É como ter uma casa de praia da Comporta no Seixal. Não, o Seixal não tem praias espectaculares.

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Além disso, em chegando às tais praias, antes a Comporta. E o Seixal.

Depois o barulho. Outra vez, se vou passar férias para a praia não estou a pensar que seria muito agradável ter o barulho de escapes da concentração de motas de Faro a toda a hora. Ora aqui, como disse, toda a gente é forçada a ter mota numa vila minúscula e não há aquelas leis de ruído civilizadas que nem na Europa funcionam, portanto a todo o tempo temos que estar a berrar se quisermos conversar no meio da vila. Passa a mota vem a criança, passa a criança vem o vendedor de tours, passa esse e vem a dos sarongs. E andamos nisto.

Finalmente uma coisa também tão pessoal como as anteriores: cães. Mais do que motas e crianças há cães a cair de podre em cada canto. Mal-tratados, esfomeados, de rabo entre as pernas sempre, mortos no caminho, odiados pelos locais porque Alá não gosta de cães disse-me um dos miúdos, enojado por estarmos a dar festas a um deles.

Tudo isto faz de Kuta Lombok o paraíso que eu espero não voltar a encontrar e que nem o maravilhoso peixe fresco grelhado chega perto de compensar. Fugi da outra Kuta por causa de muitos turistas e afinal encontro coisas bem piores no destino que quase já é da moda.

Já vos contei da praia coberta de lixo e do mercado na rua em que a carne e as lulas são pretas de moscas?

Bem, não vale a pena bater mais no ceguinho.

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* Este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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