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Sem dúvida alguma, o Iraque não é um destino muito comum.

Dizer que queremos visitar este país, para muitos é uma atitude estulta e inconsciente.

Mas o Iraque, outrora conhecido por Antiga Mesopotâmia, é um dos berços da civilização humana.

Obter um visto para entrar no país não é nada fácil. O melhor é viajar até à Turquia ou Irão e tentar passar a fronteira.

Compro uma viagem para o Irão, e na capital apanho um autocarro até à cidade mais próxima do Iraque, com a expetativa de conseguir entrar, sem ter qualquer visto.

Os condutores do autocarro tentavam falar comigo, mas eu não entendia nada.

Na primeira paragem, perguntaram aos passageiros se alguém falava inglês.

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Havia apenas uma iraniana que falava a língua. Chamava-se Sara e era bastante simpática.

Disse-me que os condutores estavam preocupados que eu me perdesse.

Após lhe contar, que o meu destino seria a Antiga Mesopotâmia, esta aconselhou-me a não entrar no país, convidando-me para ficar com a sua família, na sua cidade. Agradeci o convite com muita gentileza, mas recusei.

No caminho, as pessoas ofereciam-me cerejas, bolachas e pistaches.

Toda a viagem até à fronteira é bastante calma, mas quanto mais nos aproximávamos do Iraque, mais paragens havia de controle de passaportes.

Sendo o único turista no autocarro e português, os nativos que viajavam comigo tratavam-me por Ronaldo.

Cada paragem que fazíamos, ouvia sempre o mesmo: "Ronaldo, sai do autocarro… É um controle de passaportes… Ronaldo, temos de entrar no autocarro…"

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Quando o autocarro chega finalmente à fronteira, e desço para pegar a minha mochila, dou uma pequena gargalhada. Um dos condutores estava na mala a dormir, ao pé das mochilas. Realmente um lugar fantástico, para se viajar.

Sigo as pessoas até chegar a um pequeno gabinete, onde temos de preencher um formulário. Mas que dilema. Só existiam formulários em árabe. Olhava para aquilo e não percebia nada, até que um jovem iraquiano pegou no meu passaporte e preencheu o formulário por mim.

Os polícias questionavam-me, o porquê de querer entrar no Iraque. Expliquei o meu interesse por este país, rico em história, e passado uma hora de espera deixam-me entrar, sem pagar qualquer visto.

Pisando solo iraquiano e esperando mais de 3 horas para revistarem minuciosamente toda a gente, as pessoas aproximavam-se de mim, perguntando de onde era e o que vinha fazer para o Iraque.

O primeiro objetivo era chegar à cidade de Arbil e, a partir daí, tentar visitar o máximo possível.

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Não foi nada fácil encontrar uma pousada para dormir. Ninguém falava inglês.

Pousada encontrada, aventuro-me pelas ruas da cidade.

Há imensos mercados e mesquitas, que completam este puzzle fantástico de uma cultura bastante heterogénea.

Deambular entre o povo é uma sensação fantástica.

Havia um misto de atitudes perante a minha presença. Muitos olhavam desconfiados e com alguma frieza para mim.

Perguntavam se era americano, e quando respondia que era português, proferiam imediatamente o nome de Ronaldo.

Não havia qualquer meio de transporte, para nos deslocarmos no país, sem ser táxis.

Cada vez que me perdia, ou que precisava de uma informação, era uma confusão por ninguém falar inglês.

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Um dos poucos lugares seguros para se visitar no Iraque é o norte do país, também conhecido por Curdistão.

As pessoas são bastante simpáticas, mas nota-se muito os rostos sofridos devido à guerra.

Ao contrário do Paquistão, onde ninguém conhecia Portugal, aqui não posso dizer o mesmo.

Em cada esquina, havia uma criança com a camisola do Ronaldo.

Depois de alguns dias neste país, e falando com alguns iraquianos que encontrava nas ruas e cafés, percebi que era impossível viajar para sul.

Todos eles me diziam que era perigoso demais, e que me iriam matar como o já tinham feito com um familiar deles.

A antiga Mesopotâmia é uma região rica em história e cultura. Infelizmente muitas das suas preciosidades foram destruídas.

Para sair do país, tive que esperar alguns dias, até haver um autocarro para o Curdistão turco. Numa viagem cheia de iraquianos, com destino à Turquia, apercebi-me realmente que, apesar de serem um povo simpático e hospitaleiro, são pessoas bastantes sofridas e com alguns traumas.

Entre gargalhadas e boa disposição, acabam sempre por relembrar um ou outro familiar que perderam na guerra.

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