BOA-VIDA

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Fotografias: António Néu.

Entre o Rústico e o Contemporâneo

Estacionada à entrada estava a bicicleta azul ao estilo pasteleira que nos deu as boas vindas. Não fosse eu uma apaixonada por estes veículos de duas rodas, fiquei enternecida a observá-la. Percebi depois que era a bicicleta que Iva, uma das nossas anfitriãs, levava para a Universidade de Aveiro.

Estamos em Vale de Sousa, a terra onde está sepultado Egas Moniz, aio de Dom Afonso Henriques. O Mosteiro de Paço de Sousa vê-se da janela do solar e é o monumento nº 1 da Rota do Românico. É devido a esse facto que encontramos várias referências a Egas Moniz por todo o solar, nomeadamente a frase inscrita nas escadas: “Esta casa é uma homenagem a homens e a mulheres que acreditaram num sonho”. O que representa segundo Iva, “o sonho de Egas Moniz em apoiar a fundação da nacionalidade portuguesa e para nós homens e mulheres que acreditaram num sonho que é este projecto”.

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No interior o cheiro a pó de talco é substituído pelo do bacalhau em cama de grelos prestes a chegar à mesa. Tudo tem o que chamamos um sabor a infância, o pão caseiro que parece acabado de sair do forno — o queijo e o presunto acompanhados de um vinho verde que antecedem a refeição. A escolha do vinho coube a Júlio, o pai e enólogo da casa. Júlio diverte-se imenso nas suas digressões por várias quintas com o objectivo de seleccionar os vinhos que vão abrilhantando as refeições, a mãe (Conceição) e filhas (Iva e Filipa) brincam com ele dizendo “lá vai ele novamente para o circo”.

Conceição sempre quis uma casa na praia, mas Júlio surpreendeu-a ao comprar uma casa de 1892 e situada no campo. Após uma reabilitação transformaram-na no acolhedor e contemporâneo Solar Egas Moniz. Inicialmente “começámos a brincar a dizer que esta zona era o Triângulo das Bermudas porque a verdade é que não há muitos turistas a virem para o Vale de Sousa, então a ideia foi pegar no desafio. Nós estamos no centro do Triângulo das Bermudas entre o Porto, Guimarães e o Douro e optámos por fazer o melhor uso desta localização”.

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Existem 10 quartos no total e no lado do solar original encontramos os quartos históricos (virados para o vale e para a piscina) dedicados aos atributos morais de Egas Moniz como o Lealdade, Coragem, Honra ou Sabedoria. Do outro uma extensão arquitectonicamente contemporânea do alargamento do espaço onde estão os quatro quartos da ala popular. Estes fazem um tributo ao que de melhor existe no norte de Portugal como o Azeite, Vinho, Malhão e o Lenço dos Namorados. Ficámos no Lealdade: “qualidade ou carácter de leal. Propósito ou devoção de fidelidade a alguma pessoa, a uma causa... Sinceridade, dedicação” era a frase inscrita acima da cabeceira. Um quarto especial devido ao vitral de época recuperado por um artista. Em frente uma chaise-longue convida a pegar num livro.

Todo o espaço é propício ao descanso, da janela avistam-se as árvores japoneiras que parecem dar rosas, mas dão camélias e o olhar paira depois por uma grande extensão de vinha de onde provém o tão famoso vinho verde da região.

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Tudo é made in Portugal neste hotel de charme. Os móveis foram feitos pela empresa Viriato e as toalhas, almofadas e lençóis vêm de Guimarães. Também lá encontramos os típicos bordados do Minho, desde as almofadas aos lenços dos namorados. Esta é mais uma das facetas que muito atrai os turistas e as encomendas não têm fim. Houve inclusive um cliente que mandou bordar uma almofada para enviar à mulher que estava no Brasil e outro que mandou bordar uma com um pedido de casamento.

A máquina de escrever ladeada por orquídeas, grita a plenos pulmões: “today is a good day”. Uma filosofia do espaço pois por toda a parte encontramos mensagens positivas como: sussurre aproveite o dia e sorria, inspire life ou happiness available seven days a week. Ideias de Iva que já tinha trabalhado na área do turismo em alguns grupos hoteleiros de Portugal. Para além de toda a parte decorativa a sua experiência levou-a a promover o desenvolvimento local aconselhando os hóspedes a ir às termas, visitar a Quinta da Aveleda ou fazer a Rota do Românico.

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Nós optámos pela Quinta da Aveleda e foi muito perto de Penafiel que a encontrámos. Um cenário ideal para Eça de Queiroz, mas ao que parece o escritor nunca referenciou esta quinta nos seus livros. A nós fez-nos recuar à infância e a todos aqueles livros de fábulas, histórias e aventuras.

Ainda embriagados, sem saber se pelo sonho ou se pelos vinhos que provámos na quinta, regressámos ao Solar. A piscina piscava o olho e não resistimos a um belo mergulho naquele idílico cenário. A família Vinhas convidava-nos a saborear um dos seus pratos de referência, o famoso pato, e para mais uma divertida conversa acompanhada da selecção de vinhos do Sr. Júlio. Durante o jantar Conceição contou-nos que no início perguntava a Iva como deveria receber os clientes. “Mãe tu fazes de conta que estás a receber os teus amigos lá em casa”. E nós comprovámos pois sentimo-nos de facto em casa a partilhar almoço e jantar com tão simpática família.

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