O Benefício, uma palavra com que alguns de vós já estão familiarizados quanto mais não seja através de vários posts, publicados por Ricardo Nunes, que nos mostram imagens idílicas de locais que identifica como um benefício. A partir daí a sua cabeça juntou-se com a de Paulo Fernandes e assim surgiu uma nova marca e conceito: O Benefício. De uma forma de estar e uma filosofia de vida rapidamente passaram a fazer coisas bonitas, peças intemporais. E assim nasceu O Benefício.
Há muito tempo que um vasto grupo de pessoas te identifica pela tua famosa palavra "Benefício". Como criaste este conceito? Ele surge antes do projeto "O Benefício" ou estão interligados?
Ricardo Nunes – A ideia base d’O Benefício começou por ser uma declinação holística de posicionamento pessoal perante a vida numa abordagem puramente ética, quer em termos sociais quer de modelo económico. A melhor forma que tenho para ilustrar será citar aquela cena do Inception, quando Cobb afirma: “What is the most resilient parasite? Bacteria? A virus? An intestinal worm? An idea. Resilient... highly contagious. Once an idea has taken hold of the brain it's almost impossible to eradicate. An idea that is fully formed – fully understood – that sticks; right in there somewhere.” Gosto de acreditar que foi assim que a coisa começou. Uma espécie de busca.
Como surge toda a ideia e como começaste a desenvolvê-la?
R.N – Agora e de forma racional, acredito que o passo seguinte foi dado na Mindshare, quando me apercebi pelo feedback dos meus colegas que algo estava a acontecer em torno de uma ideia e pelo facto de toda a gente me identificar com este conceito/palavra. Uma noite, em casa e após uma conversa com a minha namorada Ana Santiago, fui verificar e a marca estava disponível. Decidi registar e comprar os domínios associados, e durante um tempo foi uma espécie de compromisso pessoal. Depois partilhei o conceito com o Paulo Fernandes (um amigo de longa data), num dos muitos almoços que regularmente empreendíamos, e no dia 21 de Abril de 2015 decidimos avançar com o Benefício como um projeto de matriz empresarial na qual teríamos de imprimir uma ética de posicionamento corporativo e pessoal acima de qualquer suspeita, no qual poderíamos controlar de alguma forma o processo criativo e de construção de produto. Foi nesse momento que a ideia original se transformou, e que se formou a matriz que alimenta hoje em dia a nossa empresa: Promover o talento e o trabalho em equipa. Numa perspetiva mais pessoal, eu acredito que as coisas boas levam tempo a ser construídas, o que poderá ser melhor ilustrado com uma bonita metáfora de Jack Kerouac “Walking on water wasn’t built in a day”, a qual torna totalmente viável a premissa do papel da história no processo criativo assim como o papel do significado intrínseco da mensagem.
O Benefício é uma marca que funciona como uma editora. Que tipo de produtos pretendem editar?
Paulo Fernandes – Foi através de muitas noites bem passadas e mal dormidas que chegámos do conceito à materialização. Até então era apenas uma forma de estar e uma filosofia de vida com que ambos nos identificávamos, mas esse conceito de vida apenas foi o passo para que O Benefício se tornasse uma marca. Queremos fazer coisas bonitas, peças intemporais, acreditando que a escala não é o caminho para o sucesso, porque isso implica a industrialização do produto. Apenas colocamos no mercado 100 unidades do Benefício produzido, sendo que as mesmas são personalizáveis (com a possibilidade de customização do nome e escolha de número de série), porque tudo isto leva tempo. Se for para fazer 100 a cada hora isso não é O Benefício.
Funcionamos como uma editora, porque juntamos as vontades e as diferentes formas de olhar a arte, seja ela qual for; é uma arte fazer o azeite que o Luís Coutinho produz na Herdade Tapada da Tojeira, é uma arte de fazer os rótulos e tudo o que envolve o packaging como a Marta Teixeira (Lavandaria) fez, é uma arte de alguém como o Nuno Gervásio em cada momento conseguir captar os segundos intemporais da nossa viagem através da câmara de um telemóvel. Todas estas pessoas são uma conjugação de esforços e aquilo que é por definição "fazer uma edição".
O primeiro produto a ser editado foi uma garrafa de azeite. Fala-nos da história e do processo?
P.F – Quando o projeto se tornou numa empresa, a ideia teve de passar à realidade, e a realidade é que tínhamos uma marca para construir, e nesse processo, a Marta Teixeira (Lavandaria) juntou-se a nós, e em conjunto discutimos não só o DNA da Marca, O Benefício, mas como toda a sua linguagem e posicionamento. O Azeite foi uma das três hipóteses iniciais de produto, todo o caminho que percorremos até chegar a este azeite foi de forma natural, fizemos uma breve incursão aos arredores de Lisboa, para falarmos com um amigo de infância, muito conhecedor nas áreas biológica e do comércio justo, o João Cabral, e foi ele que nos foi abrindo o caminho; foi uma pessoa que a partir do momento em que entendeu a marca nos disse “Já sei do que precisam!”. Foi certeiro!
Todo o caminho, em pleno verão de São Martinho, para falar com o Luís Coutinho e visitar a Herdade Tapada da Tojeira, não podia ser mais simples, tranquilo e relaxante. A juntar a tudo o que até à data já considerávamos uma sorte, melhor ficou quando o Nuno Gervásio entrou nesta caminhada, captando os momentos desta viagem. Estávamos no caminho certo (OnTheRoad).
Apenas colocam no mercado 100 unidades o que se torna um benefício quase exclusivo ao nível do luxo. Quem são os vossos clientes?
P.F – Acreditamos que o Benefício é de todos e para todos, no fundo, em termos de perspetiva, é tudo uma questão de escolha, se compramos em massa, ou se preferimos ter um produto que é especial e único. O primeiro produto, o azeite, tem só por si caraterísticas que fazem dele algo único, o Luís Coutinho sempre nos foi dizendo que as coisas boas demoram tempo, e nós acreditamos nisso também. A propriedade não é uma exploração intensiva, preservaram-se as árvores centenárias e todas as replantadas têm espaço para respirar, não é o típico olival que vemos cada vez mais. O Lagar já produz há mais de 100 anos e no entanto essa história está lá não foi apagada, os seus moinhos em granito e as suas prensas hidráulicas funcionam e o azeite é produzido apenas a partir da primeira pressão, por isso tem um sabor e cor únicos.
Resumindo, quem entender que o tempo é um valor cada vez mais escasso e que as coisas boas nascem sem pressas, estes são os nossos clientes. Aqueles que compreendem o valor dos momentos, aqueles que ao abrirem esta peça vão associar um valor essencial nos dias que correm, tempo/momento. Se acrescentarmos ao que foi dito, o cariz único de cada uma das peças, já que todo o processo é feito à mão e é esta intervenção humana que lhe dá essa garantia, de que 1+1 não é igual a 2, cada peça é o seu próprio stock e cada peça é tratada como única pelas pessoas envolvidas em todo o processo.
Falas em "economia de colmeia", um conceito sui géneris. Como chegas até ele?
R.N – A nossa visão estratégica e modelo económico (economia de colmeia) baseia-se no princípio e num processo de criação de valor estruturado assente na exploração não intensiva do talento. A analogia com a colmeia surge da necessidade de termos sempre inúmeros produtos que no final criarão volume pela diversidade e não pela escala. O regime de co-criação permite-nos não só alcançar a disrupção em termos de posicionamento da marca, mas também acrescentar valor ao desenvolvimento de novos produtos, pois uma parte das receitas alcançadas será reinvestida na capacidade de acrescentar valor e maior qualidade, incrementando a elasticidade do preço dos produtos manufacturados através da chancela do Benefício. Aliás o Benefício é a prova viva que o conceito é viável per si, pois só conseguimos apresentar a nossa primeira série + Benefício + devido à junção de elementos essenciais ao projeto, como o Gonçalo Freitas, o Alfredo Matos, o Júnior, o Miguel Alpoim (Doctor Spin PR), o Pedro Dias e o Pedro Mouzinho.
A Incubação na Startup Lisboa foi para nós essencial, pois deu-nos não só acesso a uma estrutura base de serviços high end, como ao acesso e à partilha de conhecimento, concretizado por exemplo numa parceria que temos com a SBI Consulting. Estamos sediados no OBITEC (Parque Tecnológico de Óbidos), pois necessitávamos de ter o acesso a produtores certificados e de alta qualidade, facilitando a criação de novos produtos e ou incrementando a dinâmica de cross-selling entre produtores. Ou como diz o nosso amigo Francisco da Silva, o Benefício é a prova que acrescentar talento não soma, multiplica.
Os produtos são sempre 100% portugueses?
R.N – O Benefício é um agregador e um curador, que não esmaga quem cria e quem produz mas acrescenta valor provocando uma disrupção no modelo do baixo custo. A nossa aposta está na alta qualidade do produto português, envolvido num posicionamento de marca contemporânea ligada à sabedoria ancestral das coisas bem-feitas e com história. Neste momento o contexto é descobrir a origem portuguesa, no entanto, o Benefício é uma marca que não tem fronteiras, é universal por design, seja ao nível do alcance, seja ao nível da produção.
Pretendem internacionalizar o conceito. De que forma chegaram ao Reino Unido, Alemanha, Suíça, Bélgica, Suécia e Espanha?
P.F – Essa foi sempre uma das premissas que desejámos comprovar. A aceitação do nosso produto e da nossa marca como algo diferenciador, assente na história que compõe todos os seus momentos desde a concepção até ao envio para casa do cliente. Todos os pormenores são essenciais para a marca + Benefício +. Acreditamos que no mercado global existem pelo menos 100 pessoas que pensam e sentem como nós. Por exemplo, o nosso packaging é totalmente manufaturado: corte especial, impressão em serigrafia tradicional e manual a duas cores, aplicação de cetim, lacrado e marcado com sinete manualmente, com personalização e marcação de número de série únicos e na hora.
A venda é exclusiva no site e o objetivo final será alcançar de forma prioritária os mercados externos, sem no entanto, descurar o mercado doméstico, cada vez mais preparado para produtos com estas caraterísticas únicas e diferenciadoras.
A segunda edição já está em curso e segundo dizem “Ninguém sabe o que é, mas vai ser incrível!". Já nos podes dizer de que se trata?
R. N – "O Ninguém sabe o que é, mas vai ser incrível!" tem uma boa história, e só existe porque num dos dias em que estávamos na Lavandaria em brainstorming e produção, esta frase sai e a Marta disse vou apontar para não nos esquecermos, e foi devido a este cuidado que hoje este é o conceito unificador da marca, essencial para o modelo de negócio assim como para acrescentar disrupção constante ao nosso pensamento e capacidade de adaptação a novos produtos e mercados. Acreditamos que o motor do Benefício é a co-criação. No entanto ainda é prematuro revelar qual é, pois existem, tal como na primeira série + Benefício +, três produtos na corrida, e será novamente a conjugação do talento coletivo a dar forma à segunda série.
Como tem sido o vosso dia a dia neste projeto e o que pretendem alcançar com o mesmo?
P.F – Penso que como qualquer empresário ou pessoa envolvida em projetos empresariais, sejam eles de que natureza forem, o que queremos é que tenham sucesso. O Benefício não é uma excepção a essa regra, no entanto achamos que não poderemos ser escravos desse sucesso, o nosso plano está estabelecido com alguma modéstia, e o que queremos essencialmente é ter o benefício como o ponto de partida para as nossas ideias, e ideias dos outros, transformar essas ideias em realidade será sempre o objetivo e o desafio.
O dia-a-dia tem sido muito engraçado, na Startup Lisboa estamos numa sala partilhada, onde toda a gente sai e entra e nunca somos os mesmos sentados no mesmo sítio, parece aquela dança das cadeiras, em que está uma música a tocar e quando para falta sempre uma cadeira; por aqui se percebe que são dias animados. O trabalho acaba muito pela envolvente logística de um projeto como o nosso, ao chegarem as notificações de vendas a primeira coisa é perceber se são encomendas para exportação ou para a península Ibérica, porque a forma de expedir é diferente. Depois começar a preparar o envio com os nomes e números de série de cada cliente para posterior envio para a Lavandaria para a produção em tempo real. Depois todos os passos subsequentes, faturação, envios e respostas a e-mails de clientes, todos estes processos levam tempo e lá estamos nós de volta ao tempo e seu valor, como tudo o que fazemos consome tempo, temos de ser muito metódicos e eficazes no que fazemos, sem correrias, para que sobre algum tempo para nós e para os nossos familiares.