JOALHARIA

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Também eu Desejei Entregar-te um Amor Assim  (1)

O quê?

No ano anterior, na estação de Outono e depois de um reencontro, passados alguns anos, numa estadia por Lisboa no verão, convidei a Inês a mostrar trabalho comigo numa galeria que estivesse disposta a apresentar-nos. A Inês, naturalmente receptora de desafios, sugeriu apresentar o trabalho no encontro internacional Schmuck deste ano, em Munique, Alemanha, o que aceitei com agrado.  Começámos a contactar amigos que nos pudessem dar a mão a esta aventura, sempre um risco.

Sucka for love

A Estefânia mostrou vontade em juntar-se a nós porque ambos (eu e a Estefânia) partilhávamos já projectos comuns anteriores. Então eu e a Inês discutimos a hipótese de alargar o convite a um amigo próximo, no qual depositamos confiança. E sim: a Inês convidou a Catarina, eu convidei a Estefânia, com quem partilhava então um momento de alguma turbulência. A Catarina aceitou o convite depois de ponderar a disponibilidade entre outros compromissos e a Estefânia aceitou o convite no limite da resistência para com esse momento agitado que ambos partilhávamos então.

Daí a termos um nome que nos identificasse e sermos incluídos no programa oficial do evento a que nos propúnhamos foi um passo curto de dois meses, no esforço que trabalhar em grupo representa quando tudo tem que ser feito pelos próprios (design, comunicação, produção, contactos, etc.). Chegámos a Munique e o nosso projecto precedeu-nos, a recepção foi boa, num ambiente festivo onde se promove a competição saudável entre colegas de profissão e pessoas que viajam pelo globo para se conhecer ou reencontrar. Foi interessante estar em Munique, para mim também, pelo regresso, depois de viver aí durante seis anos onde frequentei a Academia de Belas Artes.

De todas as reacções, o convite do Paulo Ribeiro a expormos na SWAB foi o que nos trouxe até este texto, a continuação do nosso compromisso enquanto grupo.

Apesar do esforço de manter um trabalho de equipa, em que a participação de todos conta e aproveitando determinadas características da personalidade de cada um, existe o espaço para a individualidade na produção. Cada um de nós promove a individualidade no trabalho pessoal que apresentamos e a dinâmica de grupo e o projecto em si: no facebook, aqui, através de e-mail, na rua, etc

Mas talvez o mais importante, em termos de resultados, seja sublinhar que acreditar no que somos, com quem estamos é um projecto de vida ininterrupto, contínuo, como a energia, o espaço e pensamento. Acreditar é viver, desistir é pôr a vida de lado. Acreditar nas pessoas, na amizade, no amor e na força que a sinergia que um grupo pode criar, com todas as possibilidades pelo meio: aprender alemão, catalão, ganhar dinheiro, falar de trabalho, beber cerveja e fumar cigarros, dar uma conferência em grupo, conhecer pessoas que nos conhecem sem nunca as termos visto antes e descobrir coisas – similares e distintas – em pessoas que estranhamente nos parecem próximas, familiares. Sorrir e stressar, muito! E sobretudo aprender, por observação, por tentativa e erro e por não desistir, não desistirmos de nós, não desistirmos do outro.

É curioso e surpreendo-me com a quantidade de pessoas que quer ter o nosso trabalho, que nos compra pequenos objectos, embora de valor simbólico, por desejo. Em n encontros, em contextos vários e como estas coisas viajam e se deslocam por todos os lugares, o amigo que foi para a China trabalhar, a prima do Brasil, etc.  Às vezes penso que estamos todos a olhar para o mesmo: os museus e as galerias, o institucional, queremos colocar-nos nesses sítios quando as coisas viajam por todos os lugares, isto seria realmente um objecto de estudo interessante: levantar narrativas sobre pessoas e sobre os objectos perdidos dos autores e achados nas vidas individuais de cada um em lugares e experiências tão diferentes entre si.

SWAB – Feira de Arte Contemporânea de Barcelona, de 3 a 6 de Outubro: é a primeira vez que iremos mostrar trabalho numa feira de arte contemporânea, mesmo individualmente. É estimulante, novo, é um esforço grande e estamos à altura de responder bem a esta proposta, então tomem atenção no que vem aí. Apresentamos desenho, instalação, joalharia, projecção de slides, escultura, cerâmica, papel, fotocópias, diapositivos. O desafio para vocês leitores é acreditarem naquilo que temos para comunicar, apresentar. Comentem, escrevam-nos, nós respondemos.

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1001, porcelana, Instalação,Estefânia r. de Almeida, 2013

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Aparição, resina e prata dourada, Catarina Dias & Inês Nunes, 2013

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Where Have You Been, an experimentation on the delocation of bodies in space, desenho, diapositivos, Pedro Sequeira, 2013

Sinopses dos Projectos

Estefânia R. de Almeida – "1001 tornou-se  uma vontade obsessiva, passional de realizar um conjunto muito físico intimo de corpo e de desejo. Trabalhar sem limite jogando com a dor do próprio corpo como numa cena de sado-masoquismo".

Catarina Dias e Inês Nunes – "Aparição é o título do projecto de Catarina Dias e Inês Nunes, ao testar a potência real do objecto/corpo, na desconstrução de uma imagem afectiva identitária do nosso país, onde o gesto desenha a forma e a matéria reflecte a acção".

Pedro Sequeira – Eu não sei o que é, mas posso dizer o que não é. Não é uma composição de formas: estas aparecem à medida que o trabalho está a ser construído, de uma maneira aparentemente cega. Não é trabalho de estúdio, parte é deslocado ou destacado de um todo, tanto de espaços interiores e do espaço público: não deve ser concluído no estúdio ou no espaço de exposição, muitas vezes eles estão completos e prontos para seguir como são. Estes não são ready-mades, alguns itens incorporados mantêm os fins existenciais e as funções para os quais foram originalmente criados. Não se trata de design porque não há uma ordem ou metodologia que se conforme com uma ideia. Não é uma ideia, mas um cruzamento de possibilidades e relações, uma intenção maior e existencial. Não existe um conceito antes ou depois da produção, perdi, alterei e sobrepus quase todos os meus pontos focais. Não há, no âmbito deste trabalho, referências à história da arte, a minha busca é principalmente espiritual, convocando o que encontro no mundo exterior, tornando-se então um olhar espelhado dos meus pensamentos. Não há lógica nas passagens entre as obras e a experimentação prevalece dentro de um calendário. Eu não consigo encontrar as respostas para as minhas perguntas, caso contrário eu paro de trabalhar. Estes podem ser desenhos, apesar do desenho ser limitado face ao mundo, inacessível, e as possibilidades de manobras. As disciplinas são critérios segmentares. O mais importante é perguntar qual é a relevância de um encontro? Na maioria das vezes é-se torpe, raramente o espírito é perturbado. Quando isso acontece, o mundo torna-se incerto. Neste ponto, torna-se interessante.

Obrigado Paulo, Victoria, Dora, Elsa e António, Nuno, Manel, Isabel, Marília, Sérgio, Sara, Rosa, Carlos, Joana, Sebastião, Diogo, Neus, Marta, Liliana, Georg, Marc, Emanuel, Simon, Jörg, Aifa, Niala, José, Frank, PIN, Umbigo e Ar.Co. A todos os amigos que nos apoiaram com a compra de uma peça simbólica e a todas as pessoas que fizeram like na comunicação dos nossos projectos no facebook.

(1) Retirado de uma poesia de José Tolentino Mendonça

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