No âmbito da exposição M o r p h i n g (), jóias de Claude Schmitz, que estará patente até dia 7 de Novembro na Galeria Reverso, a entrevista da galerista Paula Crespo ao autor.
Fizeste a tua formação em joalharia, primeiro na Royal Academy of Fine Arts em Antuérpia e mais tarde no Royal College of Art em Londres, mas antes estudaste design de interiores em Trier, Alemanha. Porquê esta mudança de direcção?
O que nos cerca, e sobretudo o corpo, sempre foi importante para mim. Design de interiores e jóias estão ambos relacionados de forma importante com o corpo humano, apesar de ter aspectos diferentes quando se trata de funcionalidade, por exemplo, ou as limitações de tamanho etc... O que me frustrou em design de interiores foi que a execução era feita por outros. Eu sou um criador e gosto de estar no controle de tudo. Além disso, o facto de em jóias ser possível ir mais longe artisticamente do que em design de interiores fez-me mudar a escala e o objeto/sujeito.
Contudo notam-se no teu trabalho características próprias do design, eu diria, do bom design. Poder-se-ia dizer que a depuração e o rigor das formas são as tuas imagens de marca. Isto ficou da tua formação em design?
Não me parece. Para mim, há uma espécie de regra que é reduzir ao mínimo. Tentar atingir um máximo com o mínimo, é um dos meus objetivos.
E tu apresentas-te como joalheiro e artista. Onde começa um e acaba o outro? Existe uma grande diferença entre designer e artista?
A arte no design ou o projeto na arte? Estes limites podem ser bastante flexíveis ou inexistentes de todo. A essência de ambos é a qualidade.
O Royal College of Art de Londres, é uma das escolas de arte de maior prestígio na Europa. Como era o ensino de joalharia lá? Mais design? Mais artístico?
Como aqui já eram estudos de Mestrado, não havia muito o ensino, como tal, para além dos poucos projectos obrigatórios durante o primeiro ano. No segundo ano, cada aluno tinha o seu próprio projecto final e foi mais discuti-lo todas as semanas com os tutores. O meu tutor era o David Watkins e também o Onno Boekhoudt como professor visitante.
Lembro-me que me disseste uma vez que tu eras um dos poucos do teu curso a usar as técnicas tradicionais da joalharia. Queres falar um pouco sobre isso?
Eu tenho uma grande admiração pelo “craftmanship”* e pelas artes aplicadas. A excelência em “craftmanship” sempre me fascinou e é também um desafio no meu trabalho. Este desafio nunca foi aborrecido para mim ao longo dos anos. Hoje em dia com as novas técnicas (como a impressão 3D, por exemplo) o “craftmanship” parece estar a desaparecer para muitos artistas e designers. Eu acho que é uma pena. Ao lidar com as dificuldades técnicas o artista pode crescer e tirar daí satisfação. Eu também prefiro ter algo feito à mão do que feito numa máquina.
A tua paixão pelos metais preciosos é visível. Sei que gostas de trabalhar o ouro. Imaginas-te a trabalhar outras materiais?
Não posso negar o meu amor por metais preciosos. Todas as conotações do ouro e da prata, a tradição que lhes está associada, o respeito, o valor do material e assim por diante, torna-os interessantes para mim, não apenas em termos filosóficos, mas também de uma forma física. Durante os meus estudos fiz experiências com objectos encontrados e outros materiais, mas descobri que a minha linguagem está nos metais preciosos.
Colar HANGING TREE, prata oxidada, brilhantes
Nesta exposição Morphing que apresentas agora na Reverso (até 7 de Novembro) parece que estás mais “Claude Schmitz” do que nunca. Todas as peças são em prata ou ouro, pedras grandes, um modernismo clássico, linhas rectas, longas correntes, ramos harmoniosos... Para quem fazes as tuas jóias?
A inspiração pode vir a qualquer momento, em qualquer lugar. Eu tenho visões, ideias para uma peça que podem ser muito variadas e que tento observar. Às vezes leva anos até que eu conseguir executar uma ideia. Só posso fazer a peça quando tenho uma visão final dela. Eu não projecto colecções. E na maioria das vezes não conheço os meus clientes o que me dá uma certa liberdade.
Tens um público fiel. Muitas pessoas gostam do teu trabalho. Eu gosto do seu trabalho. Na tua opinião, o que o torna tão atraente?
Eu tento conseguir uma elegância intemporal no meu trabalho. Isso é muito importante para mim.
As pessoas muitas vezes associam jóias com intemporalidade. Essa pode ser uma das razões por que o teu trabalho é tão desejado?
Sim. Talvez também pela simplicidade das formas que uso e pelas conotações tradicionais na utilização de materiais nobres. Eu tento criar peças que fazem as pessoas sentirem-se mais confiantes, seguras e sim: lindas! As jóias devem melhorar a vida quotidiana das pessoas.
*craftmanship – domínio das técnicas
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M o r p h i n g, jóias de Claude Schmitz – Galeria Reverso, até 7 de Novembro
Morada: Rua da Esperança, nº 59-61, Lisboa
Horário: de 3ª a 6ª das 11h às 19h; sábados das 14h às 18h