Fotografias: António Néu.
O conceito da Mimata pertence à designer Joana Mieiro. Uma minimal galeria de jóias, no centro da cidade do Porto, bastante atractiva pelos trabalhos que nela estão expostos. Joana pretendia criar uma marca, uma casa de joalharia que pudesse ser elevada à escala internacional e definir-se para uma mulher sofisticada, informada e independente. Segundo ela o conceito surge da identificação da mulher. Através de uma vasta pesquisa procurou combinações de elementos e referências que se pudessem identificar com os sonhos, a contemplação do 'universo' por diferentes representações.
Como te surgiu a ideia inicial e o conceito para a Mimata?
A Mimata resultou do meu processo de formação e de uma experiência profissional que despertou em mim um sentido crítico sobre a dimensão formal e estética do universo da joalharia em Portugal. Durante esse período percebi que se vivia um tradicionalismo desconformado com o espírito das novas gerações já mais atentas às novas tendências internacionais; era o exemplo do artigo italiano ou de "grandes" marcas internacionais, bastante atractivas pela imagem e pelo facto de já estarem representadas junto de um público. Não encontrava coerência em nenhuma marca portuguesa, que na representação nacional e entre as internacionais se destacasse o suficiente - é aqui que gostaria de situar a Mimata
Queria também que me explicasses a origem do nome.
O nome Mimata vem da relação de ‘mimar’ e ‘arrebatar’. Pensar numa jóia como um mimo que damos ou nos é dada, o encanto e arrebatamento projetado na oferta e no recebimento. As jóias são elementos de simbólicos.
As tuas colecções são faseadas e cada uma tem um leitmotiv. Fala-me dos conceitos por detrás de cada uma delas.
Todas as colecções estão associadas ao desejo. Uma joia tem de se revelar um objecto de paixão. Tem de ter abstração, mistério, algo que não se defina à primeira mas nos permita fantasiar. E sem qualquer justificação fique na nossa cabeça, nos apaixone: "Tenho que ter!" "Quero!" A base das minhas coleções está nas estrelas e contém todo o misticismo que lhes advém… A forma como os nossos sonhos são projectados nelas e num universo misteriosos e mágico. As diferentes colecções que compõem a Mimata, assumem formas geométricas ou orgânicas e por vezes há a conjugação das duas. Excepção para as colecções Coração e Paloma que são referências para dias especiais, como o Dia dos Namorados e Dia da Mãe.
Moves-te nos domínios da alta joalharia. Como enquadras o teu projecto?
Os materiais com que trabalho são nobres e preciosos, mas a Mimata é uma marca de joalharia com um carácter contemporâneo que se pretende afirmar e posicionar pelo design como referência estética e formal. Todavia pretendo uma aproximação à linguagem da moda. A alta joalharia tem em si um carácter de exclusividade que se diferencia pelas características das pedras com que trabalha, são outros valores...
O teu atelier parece uma galeria de arte, especialmente na forma como expões as peças. Fala-me do conceito e na forma como elaboras a disposição das peças?
O Atelier pretende ser a casa da Mimata definindo e reforçando, pela imagem e detalhes, a filosofia desta marca. Um espaço acolhedor, capaz de surpreender pela simplicidade num ambiente sofisticado e quente. Quero que este espaço seja de observação, contemplação e adoração, orientado para mulheres sofisticadas, informadas e independentes.
Estás também a pensar fazer parcerias com designers e ilustradores. Como se vai processar?
A Mimata é uma marca mas também uma plataforma que gostaria de ver crescer . Penso que um crescimento mais valorizado poderia acontecer com colaborações e parcerias de outros artistas e designers. Vou começar por convidar artistas e designers cuja visão e trabalho sejam para mim um "must”, “ have", "want" independentemente das suas áreas de actuação.
Que influências tens e como é o teu processo de trabalho?
As inspirações resultam de elementos que exercem fascínio sobre mim. Como a linguagem geométrica que vem de uma apreciação dos movimentos arquitectónicos do início do século XX; como os padrões dos azulejos que encontramos todos os dias nas nossas ruas e fazem parte da nossa cultura secular; das diversas formas de expressão artística, como a pintura, a escultura e a dança; dos livros que me dão a conhecer personagens que entram no meu imaginário e definem personalidades e carácteres, como se de clientes imaginários se tratassem.
Fala-me do teu percurso desde o design até à joalharia.
A paixão pelo design surgiu da necessidade de comunicar sem palavras sentimentos e histórias. Sinto que quando não preciso de palavras para descrever um 'objecto' porque o que está à minha frente fala por si, é a realização. Penso que este tem sido o meu grande desafio.
Desde a minha infância e de forma espontânea ocupo o meu tempo com pequenas manualidades na tentativa de personalizar os acessórios que utilizo. Os objetos que crio traduzem o papel e a caneta, a tela e o pincel, e são o meu palco. Criar um 'objeto' que me leva à observação, contemplação e adoração, é a minha aspiração.
Qual será o teu próximo projecto?
Sobre a mesa tenho uma colaboração e também a possibilidade de criar uma "sub-marca" dentro da Mimata.
A Cucaa, a tua gata transmite-te inspiração para o teu trabalho?
A Cuca é uma terrorista… e uma companhia muito recente, que encaixa bem no meu ser! Gosto muito de animais. Eu não andava à procura de nenhum e sem contar, ela surgiu. Foi bom!
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Este artigo faz parte da série Umbigo no Porto.
Ver também: Viagem ao Porto (parte 1), Miss’Opo, Hotel Teatro e Pensão Favorita