Fotografias: apresentação em Stary Browar, Poznan, Polónia, 2016.
Com a curadoria do website de moda SHOWstudio e o tema «Different=Irreplaceable», a aluna Jolie Su – nome profissional da designer de moda Alexandra Sulzynka, uma polaca agora residente em Lisboa – recebeu em 2016 um prémio em Stary Browar, Poznan, Polónia. Anteriormente, conquistou outros prémios tais como Melhor Designer do Ano 2015, na área do vestuário feminino, pelo Qult Qultury e o Best Graduation Collection pela Levi's, como também pela KMag, em 2013.
Esta prometedora jovem designer, graduou-se na Escola Internacional de Design e Moda de Varsóvia. Atualmente continua os seus estudos no IADE Creative University, Lisboa, no curso de Branding e Design de Moda. O IADE esteve representado no Art & Fashion Forum Festival, evento que decorreu na cidade de Pozdan.
Para todo o artista ou designer, um processo projetual, inventivo e operativo, de que resultam joias ou outros artefactos, conduz a construir sentido. Investem, ao criar, implicando não apenas um saber fazer, mas sobretudo questionando-se e comprometendo-se a si mesmos e à sua visão do mundo, às motivações e razões pessoais que levaram a eleger um meio de expressão, talvez envolvendo, também, a sua herança histórica e o modo como percecionam o mundo como agentes da imaginação.
Mas, é necessário ter consciência de que o sentido de cada artefacto – os desígnios do autor contidos no projeto e na peça final – não se encerram quando terminado. Representa, somente, aquilo que quem o fez quer significar e difundir ou partilhar. O mesmo se pode passar se o projeto incluir vários atores que interajam, nomeadamente prospetores de mercado que definam um público alvo.
Assim, é no ato de receção que cada joia – ou outro artefacto – ganha um sentido social: o fruidor – ou seja recetor que vive uma experiência estética – interpreta, continuando o ato criativo. Um artefacto, representando a alteridade criativa do autor passa então a representar, também, a alteridade interpretativa do fruidor, que elabora uma representação mental do artefacto. Usando, vai prolongar o processo criativo e construindo uma imagem para si mesmo, implicando o seu imaginário individual. A imagem que o portador cria, representa, simultaneamente, uma abertura simbólica à sociedade, identifica-o e representa-o dentro do grupo em que se insere e, como mediador relacional, contribui para efeitos de reconhecimento coletivo.
Referimo-nos muitas vezes às pessoas lembrando o seu modo de vestir, de mobilar a casa, do seu telemóvel, do seu computador, dos lugares que frequenta… Cada usuário elabora o seu look – conforme a sua preferida imagem pessoal – e, ao fazê-lo, realiza, em simultâneo, um trabalho ligado ao imaginário pessoal (para construir uma representação de si mesmo) e uma abertura simbólica à coletividade, porque, como diz Marc Augé, "a própria aparência, como a obra de arte, é uma chamada a testemunhos, exprime um desejo de intercâmbio".
Como também diz este autor, os designers hão de confrontar-se com a "delicada tarefa de seduzir sem alienar", (…) "mas não devem esquecer que a função [tal como o sentido] se cumprem socialmente", já que o social depende "do usuário que, sendo artista da sua própria vida, tenta compor os fragmentos e os objetos, apesar das durezas e das monotonias da existência diária". Para Augé, "o designer seria, assim, algo menos e algo mais que um artista, não um inventor de universos próprios, senão o demiurgo [criador do universo] atento, modesto e astuto dos mundos diários de todos e de cada um de nós." Cada processo projetual pode incluir estes pressupostos, para potenciar a interação do usuário com o artefacto, o produto, a joia.
As imagens de uma peça de Jolie Su dizem respeito a um projeto em cujo processo estes mesmos pressupostos estiveram presentes. A autoria da projetista, não se anula, já que o produto será assumido como uma "obra aberta" a continuar pelo usuário através da sua interpretação, como já dizia Umberto Eco. Como tal, para já é como algo in-completo que se oferece para que o fruidor o complete, e o componha a partir da sua forma minimalista.
–
AUGÉ, Marc, 2000, El diseño y sus objectos, in revista Experimenta 98, Dez., nº 32, Madrid, Experimenta: 90, 94.