Que interesante! Esta foi uma das afirmações que o colectivo Lusitania mais ouviu, há umas semanas atrás, durante apresentação do seu trabalho na SWAB 2013 – Feira de Arte Contemporânea em Barcelona.
Foram três dias intensos e dificilmente esquecidos. Agora, com algum distanciamento sobre os resultados desta viagem, sentimos necessidade de partilhar o que foi e como foi participar na programação deste evento. Este texto é uma resposta aos inúmeros comentários que temos recebido, em especial ao Paulo Ribeiro, organizador da JOYA – Feira de Joalharia Contemporânea, que através do seu convite nos proporcionou a presença na SWAB.
Dia da abertura oficial
Durante o compasso de espera da visita de imprensa, dos coleccionadores e galeristas de arte ao nosso stand, pudemos assistir às obras de arte de 150 artistas de países como Itália, Alemanha, Argentina, Guatemala, Israel, Rússia e China.
A Lusitania dava as boas-vindas, oferecendo um cartaz que publicitava o nome do colectivo, contactos e websites dos quatro artistas portugueses, de Lisboa e Porto, com formação em joalharia e, em alguns casos, com derivações para outras áreas como a escultura, desenho, fotografia e psicologia. O contacto com os visitantes era feito numa estimulante conversa de perguntas e respostas, surpreendendo os interessados quando percebiam que não éramos uma galeria mas sim os autores dos trabalhos.
Assim foi a explicação de Estefânia Almeida, a autora de uma instalação de 1001 colheres de porcelana feitas à mão e devidamente numeradas. O seu projecto 1001 apresentava uma reflexão sobre o objecto artístico, que necessita de um sistema e dos seus intervenientes para melhor entender o que é uma obra de arte.
Tendo como base que, por si só e perante a sua criação, o artista não era nada e teria de passar a pasta a um director artístico, o qual por sua vez passaria a uma galeria que, por fim, a entregaria a um coleccionador, Estefânia apresentou a articulação em que cada uma destas personagens desenvolvem papéis e conhecimentos característicos. Segundo ela: "sou joalheira, portanto trouxe uma instalação de 1001 jóias de mão e uma corrente representativa da minha inserção no meu universo”.
Catarina Dias e Inês Nunes apresentaram o trabalho Apparition, desenvolvido em parceria. Tratou-se do resultado de uma reflexão e discussão sobre questões sociais, políticas e religiosas. Esta discussão levou-os ao milagre de Nª Sra. de Fátima e ao pensamento: como poderíamos levar a virgem connosco?
A acção acontece ao explorar o potencial da resina fotoluminescente na selecção de objectos originais em várias peças para serem ergonomicamente adaptadas ao corpo. Desta experência, testaram a potência do objecto real / corpo, desconstruindo uma imagem afectiva identitária de Portugal, onde o gesto desenha a forma e o material reflecte a acção em três colares:
Apparition – Um colar, de 590 x 390 x 70 mm, composto por 17 peças ligadas entre si em forma de corrente;
Reflection – Da multiplicação do objecto de Fátima, com 35 cm de comprimento, criámos o segundo colar – a imagem reflectida ao peito;
Image – É a identificação do terceiro colar, de 215 gramas, composto pela simetria da imagem distorcida ao ser utilizada. A dimensão que assume é de 230 x 200 x 30 mm feito de resina fotoluminescente e prata banhada a ouro.
Pedro Sequeira apresentou uma selecção de desenhos e objectos que aludem ao movimento dos corpos no espaço. Com o título Where Have You Been – an experimentation on the deslocation of bodies in space, serve-se de figuras como o eclipse, o movimento espiróide e a ilustração de objectos, cuja engrenagem supõe um movimento loop entre dois pólos, para procurar, entre alternativas soltas e variáveis no suporte, dar corpo à sugestão da impermanência das coisas e do encontro delas com outras.
Dias 4 , 5 e 6 de Outubro
Um dia marcado pela análise comparativa ao dia anterior. Houve interacção e análise crítica aos trabalhos, com resultados muito positivos pelas impressões e comentários que nos foram dirigidos. Neste dia notou-se mais afluência de um público curioso que no dia anterior. Os nossos trabalhos foram interpretados de diferentes formas e sentidos, cuja pertinência nos levou a reflectir sobre as mesmas e a debatê-las em conjunto. Um exercício importante para abrir possibilidades ao entendimento de cada trabalho em causa.
Estar na SWAB, permitiu-nos experienciar e confirmar a importância de estarmos inseridos neste contexto, que cada vez mais reforça o nosso interesse por este tipo de eventos.
Da feira ficámos com uma excelente impressão, quer pela organização que coordenou o evento, como pela qualidade das obras de arte expostas e possibilidade de conhecer os seus autores – registámos os trabalhos do stand Prawneg & Wolf. De Berlim, o coreógrafo alemão Adam Linder (Silberkuppe Gallery) prestava serviços perfomativos de dança e outras manifestações, de acordo com as nossas necessidades; um serviço pago em horas, dias ou meses. De Los Angeles Sex in the museum, um video, gravado com um iphone, de um casal em pleno acto sexual nas salas de exposições de museus americanos; esse e outros vídeos estão disponíveis através da compra de uma tela vazia, no verso da qual é gravado um código de acesso online. Da galeria Pantocrátor, sediada em Berlim e Shangai, foi-nos apresentado o trabalho de artistas residentes. Da Guatemala a preserverança de um grupo independente: Projectos Ultravioleta veio mostrar o seu trabalho, tendo ganho o prémio SWAB 2013 para a melhor galeria.
Contactámos com novas realidades de produção e promoção de trabalhos, assim como identificámos novos pólos de criação artística multidisciplinar, nomeadamente Berlim e China. De momento encontramo-nos a planear novos projectos que serão apresentados no próximo ano, a nível individual, parceria ou colectivo, com o propósito de continuar a participar em eventos como a SWAB.