Fotografias: António Néu.
Uma Menina no Porto
Miss'Opo é um espaço onde os amigos se encontram para saborear uma das inusitadas refeições de Ana; se celebram festas de aniversário descontraidamente ao balcão; e se passa a noite num estúdio ou T2 em tons de cimento.
Paula era webdesigner e Ana, fotógrafa profissional. Ambas alugavam quartos a turistas, a experiência estava a resultar e acharam que fazia todo o sentido criar um espaço próprio. O projecto é do arquitecto Gustavo Guimarães, que desenvolveu todo o espaço.
Os quartos são minimais, bem decorados e uma cozinha surpresa esconde-se atrás de uma porta de madeira, a fazer lembrar um armário. Nada de televisões ou móveis do Ikea. Aqui dá-se lugar à diferença e ao que é português. Na cozinha do estúdio encontram-se copos coloridos, fruteiros vintage, pratos da fábrica de louça de Sacavém, entre outros objectos de igual calibre. Não fossem as donas adeptas de respigar. Os locais onde procuram a decoração e os utensílios diários vão da Emaús à Remar e estendem-se dos quartos ao restaurante e bar.
Por vezes quando vão pôr a mesa as pessoas vão-se admirando com algumas relíquias na loiça que apresentam. “Temos tudo o que é português, bom e antigo. O problema é que estamos sempre a partir coisas bonitas. Também usamos muitos naprons”, conta Paula.
Um apelo visual para quem está ao balcão e se delicia como se estivesse a ver uma exposição colectiva de décadas de copos, pratos e candeeiros. De regresso ao quarto deitamo-nos na cama e lemos um dos bons livros que fazem parte da criteriosa selecção que Paula e Ana nos deixam à disposição. Da janela divertimo-nos com a agitada azáfama de uma típica rua de bairro repleta de várias lojas, mercearias, padarias e congéneres. É bom acordar num espaço assim e já temos saudades de voltar à Miss'Opo.
Não é um hostel, não é uma pensão, não é apenas um sítio onde passamos a noite. É sim um espaço onde se vivem várias experiências. Fazem concertos de jazz à electrónica, actuações de DJ's, exposições, e tudo o que ambas têm prazer em organizar, embora a parte do café e do restaurante lhes roube imenso tempo.
A ideia cai na diversidade de ofertas e a entrada do espaço, arquitectonicamente bem desenhado, muitas vezes se transforma numa pop up store pela qual já passaram vários designers como Vítor, Ricardo Andrez, Pedro Pedro, entre outros. Uma das performances mais engraçadas e caricatas foi a de Vítor que fez uma espécie de corpo presente na loja. “Construímos um caixão onde o designer ficou deitado no decorrer de todo o jantar. As pessoas que entravam no restaurante assustavam-se pois o ambiente estava um pouco tétrico”, conta Ana.
Abriu há dois anos mas continua em ritmo de work in progress. Cada dia há uma novidade seja expositiva seja gastronómica. Sim porque a Ana planeia os jantares à última da hora consoante os ingredientes que encontra no mercado. O objectivo? Apimentar e surpreender os clientes. Muitas vezes lembra-se de convidar amigos a apresentarem as suas propostas culinárias. Claro que é uma ideia desafiante pois não é fácil cozinhar para mais de 70 pessoas.
É assim este projecto feito por duas amigas curiosas, com bom gosto e que não tiveram medo de se lançar à aventura.
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Este artigo faz parte da série Umbigo no Porto.
Ver também: Viagem ao Porto (parte 1), Mimata, Hotel Teatro e Pensão Favorita
