Fotografias: Eric Pamies e Dani Canto (Primavera Sound Barcelona).
Atenção Porto!
Como amante de música o meu relato sobre o regresso ao Primavera Sound Barcelona. O que mais me impressionou e o que se poderá ver pelo Porto a partir de hoje no parque da cidade bem encostado ao Castelo do Queijo e à praia.
A última vez que estive no Primavera Sound Barcelona foi em 2010, antes disso fui quatro anos consecutivos desde 2007.
Ano após ano o seu crescimento foi sempre galopante. E tal como esperado, passados 6 anos desde a minha última visita, deparei-me com um festival bem maior do que o que deixei. Não só por um maior número de palcos, mas porque dois deles têm uma dimensão megalómana ao nível de um concerto de estádio. Isto é o actual Primavera e não tem necessariamente de ser um aspeto negativo.
Distâncias dos (imensos) palcos à parte, este é um festival de decisões mesmo antes de se saber o cartaz, conhecedor de que vai haver aquela sobreposição de bandas que quase nos irá fazer lançar uma moeda ao ar para ter de se tomar uma decisão. Também se sabe que haverá opções que ficarão cunhadas como “o arrependimento de uma vida”. E arrependimentos irá sempre haver pois a oferta é enorme! Portanto ou se tem uma postura semelhante às amadas tapas dos nossos vizinhos, em que se prova de tudo um pouco, sem nunca se comer um prato por inteiro, ou se opta por uma dose à campeão e se saboreia do primeiro ao último minuto.
Eis então alguns destaques:
Alessandro Cortini, nome a ter em atenção na edição deste ano dos Jardins Efémeros, apresentou-se no Auditório do Fórum rodeado por uma escuridão donde sobressaía a enorme tela com projeções nas suas costas. Quem estava à espera de um palco cheio de sintetizadores pode ter saído dececionado. Detalhes técnicos à parte, presenteou-nos com um concerto ambiental com sons de sintetizadores e loops daqueles que nos fazem fechar os olhos e viajar rumo a um destino diferente daquele para onde as imagens nos tentavam levar. Escusado será de dizer que assim que terminado o espetáculo houve quem tenha corrido para o palco para espreitar o que tinha em cima da mesa; ou não fosse ele um guru dos sintetizadores analógicos.
Os Suuns tocaram à mesma hora dos Air, destes últimos assisti a 2 músicas que não me encheram as medidas. Não sei se o quarteto de Montreal algum dia virão a ser uma mega banda, mas uma coisa é certa - deram um grande concerto pondo toda uma audiência a dançar quais Suicide rockeiros em downtempo.
LCD Soundsystem (fotografia: Eric Pamies)
Com os LCD Soundsystem, nome grande deste ano de Paredes de Coura, ocorreu o primeiro de alguns arrependimentos. Em vez do raro e lendário concerto de John Carpenter à mesma hora optei por ver os regressados LCD. Não pela qualidade do concerto mas porque não acrescentou muito ao que nos habituaram. Nota para a qualidade do som. Apesar de achar que devido à dimensão do espaço o volume sonoro pudesse ser bem mais alto, cada instrumento entrava pelos ouvidos de forma bem detalhada e com ajuda de uma câmara que filmava a banda vista de cima, fazia-nos sentir como se estivéssemos no estúdio.
Jenny Hval, presente na última edição do Vodafone Mexefeste e que grande concerto para meia dúzia de curiosos, apresentou um lado mais teatral, intenso e uma performance feminista e muito dedicada ao álbum Apocalypse, girl. Jenny e os outros dois membros aparecem em palco com cabeleiras e uma espécie de maiot cor de pele, sendo que toda a performance gira em torno destes adereços. O concerto termina com Female Vampire um tema avançado do seu próximo trabalho que irá sair em Setembro.
Beach House (fotografia: Eric Pamies)
A última vez que assisti aos Beach House, também presentes na edição deste ano do Porto, atuaram num palco de dimensão média e registou uma enorme enchente revelando-se demasiado pequeno para a quantidade de gente que queria assistir. O que nunca esperei foi algum dia os ver no mesmo palco megalómano onde os Radiohead tinham tocado. Mais surpreendente ainda é que Alex e Victoria, suportados por mais dois músicos, conseguiram encher o Palco e dar um curto mas belíssimo concerto.
Brian Wilson (fotografia: Eric Pamies)
Que o Pet Sounds é um marco na história da música é inegável. Que grande parte das bandas neste festival têm “pózinhos” do Pet Sounds é também inegável. Infelizmente Brian Wilson encontra-se impróprio para consumo e isso é compreensível, o próprio faz piadas sobre isso. Contudo não deixou de ser uma celebração para todas as gerações presente no festival.
Só assisti ao final de Holly Herndon, mas fiquei cheio de vontade em assistir a um concerto numa próxima oportunidade. Façam-no por mim no Primavera Porto.
PJ Harvey (fotografia: Eric Pamies)
PJ Harvey lidera as suas tropas. Dos melhores concertos do festival. Um concerto cheio de carga, contestação, alusões políticas e percussões com ritmos militares. Um palco repleto de músicos onde se destaca Mick Harvey e John Parish. Dizer mais é estragar o impacto do que se prevê para o Porto. Aproveitando-me de Bernie – Feel the Polly.
Ty Seagel (fotografia: Dani Canto)
Na recta final do festival encontramos um Ty Segall, também ele estará presente no Parque da cidade. Imparável, com grande dose de Rock n’roll e a enfrentar uma imensidão de gente. Ty Segall foi capaz de protagonizar dos episódios mais caricatos do festival quando a meio do já habitual stage diving o microfone perdido chega a um membro do público que se apodera dele. Ty contente com a sua prestação convida-o para subir ao palco e como se não bastasse troca com ele de posição, passando Ty Segall a fazer parte do público e assistindo de braço dado com um outro membro da audiência à performance do fã em palco. Memorável!
Tal como no passado, deixo este festival estafado, mas com um sorriso na cara de satisfação. Sei que amanhã irei ler críticas magníficas de concertos que não assisti, mas é disso mesmo que é feito o Primavera. Cada um sai com histórias para contar. No fim chegamos todos à conclusão que seja qual tenha sido o percurso, ele foi bom e incomparável.