Fotografias: Manuel Ocaña.
A Portuguesa sediada na Alemanha, Patrícia Correia Domingues, foi vencedora do Prémio TALENTE 2014 na International Trade Fair em Munique, na mostra Schmuck. Feira que fez 55 anos de existência e que possui uma das exibições mais importantes dedicada exclusivamente à Joalharia Contemporânea.
Começaste o teu percurso na Escola António Arroio. Poderias contar-nos sobre este início?
Optei por estudar joalharia, mas recordo que nunca tinha pensado em tal, até ao dia que nos chamaram para vermos uns vídeos sobre os cursos. Eu que queria ir para Geral de Artes, mudei logo de opinião, após ter visto as imagens sobre o curso. Lembro-me de ver como a prata se fundia lentamente e dessa imagem ter sido decisiva na minha escolha.
Continuaste o teu percurso académico em Barcelona. Porquê a Escola Massana?
Apenas sabia que queria estudar no estrangeiro, sair e aventurar-me. A minha preferência era Amesterdão, mas uma grande amiga queria ir para Barcelona. Acabámos as duas por ser entrevistadas pelo professor Ramón Puig Cuyas, entrando em joalharia artística. Barcelona ofereceu-me tudo aquilo que procurava e na escola tive a oportunidade de levantar outro tipo de questões em relação à joalharia. De Lisboa trouxe as capacidades técnicas. Aos três anos na António Arroio acresceram quase dois de estágio no atelier de joalharia contemporânea da designer Inês Nunes. E por ter algum domínio sobre as técnicas, pude concentrar os meus estudos e esforços em campos mais experimentais e reflexivos.
Seguiu-se a Universidade Fachhochschule. O que te levou para Idar-Oberstein?
O mestrado foi-me recomendado pelo professor Ramón. Na altura pareceu-me o mais acertado por não me sentir preparada para começar a exercer a profissão. Após três anos de estudo, tinha muitas dúvidas em relação à joalharia. Questionei e desconstruí muitos dos conceitos pré-estabelecidos na minha cabeça e coloquei em questão muitos dos valores da joalharia. O mestrado ajudou-me a reconstruir o que em Barcelona tinha posto em causa. E embora os métodos de ensino sejam semelhantes, experienciei na Alemanha uma aprendizagem mais intensa. Talvez por a escola estar aberta 24 horas e de Idar-Oberstein ser uma cidade pequena, no meio do nada, sem cinema e poucos bares, encontrei as condições perfeitas para estar concentrada e comprometida com o desenvolvimento do meu trabalho. Actualmente terminei o meu mestrado em Design de Joalharia e Pedras Preciosas.
Muito recentemente foste premiada. Mas já em 2012 recebeste, na Holanda, um prémio no Concurso Internacional de Joalharia pela New Traditional Jewellery, com a temática New Nomads. Queres falar um pouco sobre o teu projecto Reflections on Landscape3?
Este trabalho é representativo daquilo que comecei a desenvolver no início do mestrado. As fronteiras, principalmente as fronteiras dos países, fascinaram-me e levaram-me a grandes questões. Acabei por me inspirar, de uma forma geral, nas divisões: da terra, umas vezes de modo natural, outras provocadas; das pessoas; dos elementos e dos processos. O que define o início e o fim das coisas. Comecei por trabalhar a linha, marcando divisões e ao mesmo tempo criando uniões que se reflectiram neste projecto, onde estudo as divisões da paisagem humana, das montanhas que se fragmentavam e uniam à minha frente.
De entre 66 participantes de 25 países, venceste o prémio TALENTE 2014. Qual o conceito por detrás do projecto que levaste para o concurso?
Este projecto segue as linhas do anteriormente referido. As peças pertencem a uma série chamada Duality, e o título sugere essa dualidade de valores. Um nasce do outro. Da divisão de um mesmo bloco de matéria surgem duas formas independentes, uma positiva e uma negativa, que ao serem separadas vinculam a sua união.
E agora. Depois do TALENTE, já tens projectos futuros?
Pretendo continuar o meu trabalho. Vou estar presente no festival LEGNICA, na Polónia, que inaugura a 16 de Maio, com o colectivo Plateaus Jewellery Project. Em Novembro exponho na feira de Amsterdão SIERAAD. E embora sem datas ainda decididas, terei a minha primeira exposição em Lisboa na Galeria Reverso.