A escolha desta semana recai sobre uma irreverente figura da cidade de Detroit. Muitos reconhecerão os seus discos apenas pelo recorte da sua cabeça com uma afro abundante sem qualquer outra identificação. Em Junho de 2005 tive o privilégio de o ver no Lux, interpretar ao vivo alguns dos seus temas. A maioria deles já conhecia, mas houve um que nunca tinha ouvido e me captou a atenção. Com a visão turvada por uma cortina e atenuada pelas luzes baixas, pude ver o Moodymann e suas partenaires entrosarem-se de modo sedutor enquanto esta música ressoava como um ronronar envolvente. Com uma componente fortemente erótica e densa, se nos deixarmos envolver completamente, o som leva-nos até ao deslumbre sensorial. Este tema é Freeki Mutha F cker (All I Need Is U).
Fiquei de tal modo fascinado que, depois de ter perguntado a todos do Lux se sabiam que tema era aquele e se havia alguma edição que eu desconhecia, tendo obtido a resposta que ainda não tinha sido editado, passados alguns dias decidi escrever ao Kenny Dixon Jr (Moodymann) para tentar saciar a minha obsessão discográfica. Ele respondeu-me que havia de sair, mas ainda não sabia quando.
O Moodyman voltou a Lisboa em 2008, desta vez em modo DJ set no Casino de Lisboa. A cabine do Casino é totalmente inacessível ao público. Decidi enviar-lhe um bilhete, a dizer que estava ali em baixo, através de um conhecido que trabalhava lá. Esse meu amigo gentilmente foi entregar-lhe o bilhete, o Moodymann olhou para a plateia e acenou fazendo sinal para eu ir ter com ele. O meu amigo veio buscar-me cá abaixo e, depois de arranjarmos permissão para eu poder subir e passar pela apertada segurança do casino, lá fomos pela intricada rede de túneis e elevadores que levam ao palco. Quando me aproximei da cabine ele recebeu-me sorridente, deu-me um abraço e disse: – Então és tu o tal que quer aquela música? Eu respondi: – Sou sim! Ele saca de um vinil de capa branca com letras pretas e disse: – Aqui a tens! Pediu desculpa porque o disco não tinha a capa protectora de papel interior e escreveu na capa “needs sleeve” para que eu não me esquecesse. Disse-me que o disco seria lançado em breve. Ainda demorei o tempo de duas músicas na cabine e depois desci sorridente de volta à plateia rotativa do Arena Lounge.
Foram 3 anos a sofrer sem conseguir ter aquele disco e finalmente tinha-o debaixo do braço, ainda por cima oferecido pelo próprio autor e com mais umas quantas música deliciosas. Long live to Moodymann!!!