BOA-VIDA

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Fotografias: António Néu.

Casa da Calçada em Amarante

Amarante está no sítio certo. A apenas 40 min do Porto e a 40 min do Douro. Perfeito para quem quer fazer uma tour pela região. Foi o que fizemos.

Nesta cidade vivem-se muitas experiências das quais fazem parte o vinho verde, a gastronomia e a paisagem povoada pela ponte que separa o rio Tâmega das duas margens da cidade.

Começamos por avistar a Casa da Calçada, um palácio que se encontra perfeitamente enquadrado na paisagem. De frente para o rio e com o Museu Amadeo Souza Cardoso a cinco minutos. Entramos e assumimos uma nova personalidade. Vestimos uma pele aristocrática, subimos as escadas e sentimos pertencer a uma outra época que nos é dada pelo campo visual. A Casa da Calçada data do século XVIII e começou por pertencer aos Condes do Redondo, uma família aristocrática alentejana. Passou por inúmeras histórias até aos anos 90, altura em que foi adquirida pelo engenheiro Mota (Mota Engil) que sempre viu o espaço com potencialidades para se transformar num hotel. Quando morreu, os seus filhos decidiram tornar real o seu sonho: dar vida à Casa da Calçada, um verdadeiro hotel de charme. É pequeno, tem cerca de 30 quartos, e quase se pode chamar de grande casa ao invés de hotel.

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Antes de subir aos aposentos passamos por uma série de obras de arte que se encontram dispostas pelas paredes. Da janela do quarto avistamos uma mistura entre turistas e amarantinos que atravessam a histórica ponte. Do outro lado a animação de uma festa faz-se sentir. Após uns minutos de relaxe num conforto de 5 estrelas fomos até à esplanada conversar com Oriol Juve, o muito bem disposto catalão que dirige o hotel. Entusiasmado, falou sobre todos os projectos e ideias que rodeiam esta casa, desde o restaurante, estrela Michelin, Larço do Paço que nos criou desde logo uma enorme expectativa para o jantar, até à produção de vinho: o Casa da Calçada, cujo verde é bastante bom e distribuido pela Pernod Ricard. “Vendemos especialmente em garrafeiras e restaurantes de referência”, contou Oriol.

A gastronomia surge no hotel desde o início e do objectivo sempre fez parte ganhar uma estrela Michelin, algo que conseguiram em 2003 pelas mãos do chef Cordeiro, que entretanto saiu, e Ricardo Costa voltou a consegui-la em 2005. Entretanto Ricardo foi para o The Yeatman e entrou Vítor Matos que conseguiu manter a estrela e já ganhou este ano o prémio de Melhor Cozinheiro de Portugal no festival do Arco Atlântico Gastro. Falámos com o mestre sobre todos os seus feitos: “Temos uma gastronomia cada vez mais focada naquilo que eu gosto de fazer, uma fusão entre a terra e o mar. A carta de Verão é muito baseada no peixe da nossa costa e dela constam garoupa, atum, salmonete, camarão. Recriámos também o coral do fundo do mar num prato azul composto por lâminas de espargos secos, couve flor vermelha, amarela e lavagante. Nenhum dos pratos tem uma ligação muito directa à gastronomia tradicional”. Vítor estudou na Suiça e na sua base está uma cozinha clássica francesa à qual junta os bons produtos portugueses, elaborando assim a sua fusão. Trabalha sempre para que a sua cozinha seja harmoniosa e não de contrastes, tudo tem que se interligar. “É fácil: pêra, chocolate, baunilha. Café, chocolate, laranja. A minha gastronomia nunca é focada em apenas um produto. Todos os pratos têm sempre mais que um peixe ou ingrediente. Por vezes olho para um prato e percebo que tem mais de 25 ingredientes. Há pessoas que me chamam de cozinheiro barroco. Para mim cada vez mais um prato tem que ser uma experiência”.

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O jantar foi indescritível. Baseou-se na boa companhia de Roberto Carneiro, relações públicas do espaço, e nas sugestões do grande chef Vítor Matos. Assim fomos experimentando o menú de degustação composto por um vasto número de sabores e combinações que não imaginávamos ser possível. Começo a achar que os chefs vestem uma bata e fazem da cozinha um laboratório em que, ao invés de envolverem substâncias químicas, baseiam-se na experiência de envolver e misturar sabores.

No dia seguinte fomos até ao golfe de Amarante, criado em 1997, dirigindo-nos a mais uma experiência para a qual a minha atitude foi bastante céptica. Qual o interesse de um desporto como o golfe? De facto não entendia o glamour existente em algo que considerava tão pouco interessante. A verdade é que a minha opinião mudou completamente. É muito mais complicado do que pensava e tudo o que está à volta deste jogo desperta curiosidade, não só do ponto de vista paisagístico-relaxante como o desafio de chegar mais além. É visto como um desporto elitista mas não é bem assim pois não é tão dispendioso quanto isso. Os clientes podem utilizar o equipamento do espaço e as mensalidades não são superiores a um passe para o ginásio. Fazem protocolos com vários campos a nível nacional e também já estão a criar ligações a campos no estrangeiro.

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Na primeira aula, regra geral, as pessoas têm uma ideia bastante diferente do que possa ser pegar no taco, ficando posteriormente com uma espécie de encanto. Segundo o treinador João Silva, o nosso professor, “é um desporto conotado com um público mais velho, mas devido a fenómenos como o sucesso de Tiger Woods, o golfe começou a ser visto como um desporto, deixando de ser apenas um passatempo, e já começa a ser jogado por um público mais novo”.

Trata-se de um desporto cool e não snob. “A grande dificuldade é conseguir levar as pessoas até ao campo. Após a primeira vez torna-se difícil abandoná-lo, afinal estamos a falar de 40 hectares de verde com lagoas pelo meio. Tendo em conta o facto de as pessoas hoje em dia não terem tempo para nada, é uma óptima forma de nos alienarmos do stress diário” contou João.

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Foi uma experiência para lá de positiva. Conseguimos acertar na bola (o que nem sempre é fácil) e em seguida o divertido Roberto Carneiro levou-nos a um passeio de buggy ao longo de todo o campo. Podemos agora afirmar que perante tudo isto ficámos rendidos. Em breve teremos que voltar para mais umas tacadas.

Para além de portugueses, a Casa da Calçada tem vários clientes franceses e ingleses e já ganharam vários prémios, entre eles o Prémio de Excelência dos Condé Nast Johansens Awards. A ideia é a de que um cliente que vá até à Casa da Calçada viva uma experiência portuguesa. Do início ao final, desde os doces amarantinos que encontramos à chegada no quarto, passando pelos produtos portugueses que consumimos ao jantar, até aos vinhos verdes da região.

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O Nosso Jantar

Salada de camarão com frutas tropicais, molho cocktail, misto de alfaces e caviar Avruga

Sopa de peixe com crustões de pão e algas

Asa de raia corada com emulsão de amendoim, milho de tomate e banana caramelizada

Frango recheado com alperce, molho de cogumelos, cremoso de alheira e legumes glaceados

Pão de Ló de Ovar recheado com queijo da serra e gelado de canela.

Boa-vida

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