Existem alturas da nossa curta e espectacular existência em que andar à deriva é uma constante. A literatura, o cinema e, na maior parte dos casos, a realidade que inspira os anteriores, mostram-nos que não estamos sozinhos na auto-descoberta e que é absolutamente natural sentirmos vontade de bater as asas para lugares distantes, desbravando florestas e percorrendo oceanos como se a viagem no desconhecido determinasse o oxigénio que respiramos. Esta lista de filmes é para nós – os inquietos, os apaixonados, os incuráveis.
Into the Wild (Sean Penn, 2007)
Baseado no livro de Jon Krakauer sobre as aventuras de Christopher McCandless, o filme de Sean Penn tem um (merecido!) lugar de destaque no agregado das histórias de evasão e descoberta. Num planeta onde o materialismo cega, o jovem McCandless abandona os seus bens, doa as poupanças e parte rumo a um Alaska desconhecido para viver em estado selvagem e conhecer a derradeira liberdade. Com a ajuda de uma banda sonora construída pelo ilustre vocalista dos Pearl Jam – Eddie Vedder –, Into the Wild lembra-nos da nossa humanidade e obriga-nos à reflexão sobre o objectivo da nossa existência, dando-nos uma sugestão deliciosa de como o encontrar: partilhando felicidade.
Wild (Jean-Marc Vallée, 2014)
A adaptação do homónimo livro de Cheryl Strayed é totalmente adequado para nos dar vontade de pegar nas botas e só parar quando as pernas vacilarem e a água escassear. Realizado por Jean-Marc Vallée, Wild apresenta-nos Cheryl (Reese Witherspoon), uma rapariga que dá por si submersa na toxicidade e decide erguer o rosto (e reaver a vida) a… andar. Simplesmente, durante 3 meses, ao longo do Pacific Crest Trail.
Tracks (John Curran, 2013)
Novamente baseado num caso real e extraordinariamente ternurento, o filme de John Curran segue a jovem Robyn (Mia Wasikowska) que, na década de 70, decidiu atravessar o deserto Australiano com o seu cão e quatro camelos adquiridos para o propósito. Acompanhando a sensibilidade de quem não sabe bem para onde vai nem o que quer fazer, a ação de Tracks foca-se principalmente na importância do contacto com a fauna e a flora em detrimento das posses que nada nos adicionam.
Diarios de motocicleta (Walter Salles, 2004)
Em 1952, Che Guevara (Gael García Bernal) e o seu amigo Granada (Rodrigo De la Serna) atiram-se à estrada da América do Sul em busca de peripécias e satisfação pessoal, acabando por encontrar um mundo muito mais magnificente, dando de caras com uma situação social e económica completamente díspar das suas realidades que os faz repensar e reconfigurar os seus objetivos de partida… e de chegada.
The Way (Emilio Estevez, 2010)
Após receber a notícia de que o seu único e atípico filho morrera numa tempestade a caminho de Santiago de Compostela, Tom (Martin Sheen) decide partir em peregrinação como forma de homenagem. Honrando o esforço e pondo de lado pretensões artísticas, Emilio Estevez conta-nos uma bonita história de derrotas e vitórias que culmina em redenção e respira fé – venha ela de onde vier.
A Map For Saturday (Brook Silva-Braga, 2007)
Se depois de todos estes filmes a vontade de partir for mais que muita, A Map For Saturday é uma paragem obrigatória – e a verdade em estado puro. Testemunho em primeira pessoa sobre esta que é a arte de viajar, o documentário de Brook Silva-Braga é um visão sóbria sobre a introspecção que nos invade, a vontade de ir e o medo de voltar. Percorrendo o mundo durante 11 meses e passando por uma multiplicidade de países, o jovem produtor de televisão traz consigo a experiência de uma vida e a nostalgia dos tempos que agora parecem apenas um sonho. Apesar de demonstrar o prazer e a liberdade que nos irá conquistar ao viajarmos durante um longo prazo, A Map For Saturday alerta também para questões existenciais que podem (e vão) surgir, iluminando o caminho dos mais inquietos e manifestando as vantagens de o fazermos acompanhados.