Respeito o cinema que não nos quer enganar, o Milagre no Rio Hudson é um desses filmes, bem doseado, rigoroso e sem artifícios. Clint Eastwood, com a interpretação credível de Tom Hanks, dá-nos uma história em que muitos de nós já conhecem os meandros: aterrou um avião em Nova Iorque, no rio, todos os passageiros sobreviveram, o piloto "Sally" foi um herói.
O filme relata acontecimentos posteriores, o período de investigação relativo ao incidente, em sincronia com o que realmente aconteceu na cabine. Ficamos a saber das dúvidas sobre a decisão do piloto, será que foi heróico ou negligente? Ele próprio teve dúvidas, mesmo sabendo que o número 155, o número de sobreviventes que correspondia exactamente ao número de pessoas que estavam dentro do avião, era mais que certo.
Este filme vem numa altura em que Clint Eastwood está na mira de muitos críticos. As suas declarações causaram polémica. Pode-se dizer quanto a isto que a obra de um homem é sempre melhor do que o seu criador e a sua vida. Menos imperfeita, melhor burilada. Apesar de achar a polémica inconsequente, vejo que Clint neste filme prefere honrar um herói humilde e competente. Ele trouxe a básica competência e a mais elementar decência para a sétima arte. Não me lembro da última vez que vi isto no cinema. A sétima arte a celebrar a decência e a competência é um exercício digno - cada vez mais raro - de cidadania. Tivemos um filme decente. Não foi suficiente para calar os críticos, infelizmente.
Esta crítica foi possível graças ao Madeira Cineplace - Cinemas Madeira Shopping.