CINEMA

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Todos os anos são bons anos, desde que haja cinema

O dom da sétima arte subsiste em todos os hemisférios, nos países mais longínquos e particularmente na distribuição mais complexa, mas está vivo, a cada segundo – não é regulado por sucessos de bilheteira ou por maior quantidade de merchandising vendido. O cinema é pautado pela melhor experiência, o arrepio cavado ou o sorriso procedente da alma. A sua análise é pessoal e, como tal e como sempre, subjectiva. Todos os anos são bons anos e desde que haja emoção, beleza e espectadores, vai haver sempre cinema.

Esta é uma lista dos 7 melhores filmes de 2015, baseada na irreverência e na simplicidade da abordagem – porque o cinema não é CGI, o cinema somos nós.

Amy

“She was a very old soul in a very young body”

Realizado por Asif Kapadia, com recurso a fotografias e filmagens de arquivo cedidas por várias entidades, amigos e família, Amy é um retrato cru sobre a melhor voz feminina do século XXI. Senhoras e senhores, se pouco lhe ligavam ao talento, desenganem-se, pois Amy Winehouse ajudou a definir o próprio termo.

Retratando o início da sua carreira até ao dia da sua morte, o documentário é predominantemente relatado pela própria e revela a biografia arrasadora que sempre esteve omnipresente: a perversidade da fama e o infortúnio de amar a pessoa errada. Amy é um palito entre as pálpebras e um arrombo de realidade que despertam o foco para a diva inconfundível que imergiu por culpa da mais fina camada de esterco da sociedade que a rodeava nos momentos errados; mas também a alavanca fundamental para nos voltarmos a apaixonar pelo seu legado e chorarmos o destino daqueles que vão cedo demais.

The Disappearance of Eleanor Rigby

Ned Benson, nova-iorquino com apenas três curtas-metragens no currículo, conjurou uma das histórias de amor mais bonitas que estrearam nos cinemas nacionais em 2015. Com um conceito extremamente fascinante que jaz na representação de visões divergentes sobre os mesmos acontecimentos, The Disappearance of Eleanor Rigby é constituído por três filmes e relata a história de Conor (James McAvoy) e Eleanor (Jessica Chastain), que pelejam eventos passados e mal revolvidos na sua relação e os levam a uma luta incansável pela vida e por eles mesmos. Se o elenco principal não fosse uma razão suficiente para espreitar a obra de arte, fica a garantia de que é um dos filmes mais bem escritos e apaixonantes do ano.

Him é a interpretação de Conor, Her a de Eleanor e Them é uma edição que junta as duas – mas, apesar do magnífico conceito, em certos países a distribuição passou somente por Them, que, na nossa opinião, retira mais ao romance do que aquilo que acrescenta, pois a originalidade assenta precisamente na exposição da forma como interpretamos os mesmos acontecimentos de formas tão distintas, moldando o mundo aos nossos olhos e retirando aquilo que mais desejamos – ou mais tememos. The Disappearance of Eleanor Rigby é não só um ensaio de perspectivas como um poema ao amor e à constante batalha de estarmos vivos.

As Mil e Uma Noites

Dividido em três volumes, O Inquieto, O Desolado e O Encantado, As Mil e Uma Noites, que fizeram parte do reconhecido ciclo A Quinzena dos Realizadores, em Cannes, retratam um Portugal distinto mas não distante, através da recuperação do esquema da obra árabe e da representação de histórias nacionais recolhidas por jornalistas e adaptadas à alegoria.

Em O Inquieto, Xerazade, a narradora da obra, expõem as inquietantes maldições que se abatem sobre o país, em O Desolado descreve a forma como essa devastação se apoderou dos homens e em O Encantado a ficção e o documental são misturados divinamente para a construção de um final sóbrio ao ritmo do despertar da manhã.

Tomando como cenário o estado de Portugal em crise, o realizador Miguel Gomes desenvolveu um projecto que funciona como misto de ficção e retrato social, relembrando que o imaginário e a realidade estão de mãos dadas e não vivem um sem o outro.

Room

Apesar de, em Portugal, ter estreia marcada somente para o ano de 2016, Room já estreou nos Estados Unidos e (felizmente) fez parte da selecção do Lisbon & Estoril Film Fest. Realizado por Lenny Abrahamson, que em 2014 nos presenteou com o fantástico Frank, Room é um drama intenso que não tem receio de progredir. A narrativa estende-se em torno de uma mãe e um filho que se encontram enclausurados no Room – um quarto multiusos onde estão presos há mais de 7 anos, desde que Ma foi raptada enquanto tentava ajudar um senhor com um cão supostamente magoado.

Absorvendo todo o drama característico de uma criança que não conhece a vida além de quatro paredes e uma claraboia, Room apresenta uma vigorosa relação de mãe-filho, onde as ilusões protectoras e universos inventados prevalecem até ao dia da exaustão máxima, em que a vontade de viver supera todos os medos. Baseado no romance homónimo de Emma Donoghue, Room desenha uma silhueta de sofrimento e desespero, mas também uma grande e saliente figura de esperança e amor, que predomina acima de tudo, em todo o lado.

Mustang

Pré-nomeado para Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, Mustang é um filme francês escrito e realizado por Deniz Gamze Ergüven, que relata a história de cinco irmãs turcas e as contendas com a sociedade e a própria família. Quando são acusadas de depravações por se terem divertido na praia com alguns amigos do sexo masculino, a casa onde moram é progressivamente transformada numa prisão que as enclausura e proíbe de manterem contacto com o mundo exterior, funcionando como um colégio de formação de esposas perfeitas, sendo o único interesse dos tutores é casá-las bem casadas.

Acompanhando os dramas e revoltas de almas jovens que não têm sequer espaço para conceber a definição de liberdade, Mustang é um clamor desesperante num mundo que, lamentavelmente, ainda funciona à luz da triste realidade que suprime ambições pessoais e ignora os sentimentos dos mais novos e em especial do sexo feminino.

Em Portugal, tivemos o prazer de o ver na Festa do Cinema Francês e estreará nos cinemas nacionais no dia 25 de fevereiro.

Youth

O lugar de Paolo Sorrentino nos nossos corações admitiu-se como inquestionável desde o início da sua carreira – um mérito que poucos têm. Venceu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro com La grande bellezza e foi novamente premiado, desta vez pela Academia Europeia de Cinema, pelo seu novo título, Youth. Um pouco à imagem da nostalgia inerente aos últimos dias de Jep Gambardella, a narrativa de Youth foca-se na passagem do tempo – aquilo que recordamos, que esquecemos e a mágoa de não controlar a memória.

Focando-se nas férias calmantes e reabilitativas de um conjunto de personagens – um maestro reformado, uma filha magoada e um realizador frustrado – a película, que conta os sonantes Michael Caine, Harvey Keitel e Jane Fonda, passeia por jardins da reminiscência, consequências juvenis e abate-se na apatia de existir. Youth é a juventude a chegar e a velhice a partir, ou a vida em retrospectiva.

Me and Earl and the Dying Girl

Alguém pediu indies bonitos? Sim? Caro leitor: é este, o melhor indie romântico-juvenil de 2015 (e dos últimos anos, diga-se). Tem tudo o que um bom filme independente precisa de ter: é baseado num primeiro romance, segundo título de um realizador inexperiente em cinema e protagonizado por jovens atores no início de carreira. E resulta. Tão bem.

Fazendo-nos lembrar a cinematografia e personagens caricatas de Le fabuleux destin d'Amélie Poulain, Me and Earl and The Dying Girl conta a história de Greg, um finalista do ensino secundário, cujo desejo eterno é manter-se anónimo e neutro no que diz respeito a relações e relacionamentos – sejam amigáveis ou não. Apesar de não assumir como tal, tem um melhor amigo, Earl, com quem faz reinterpretações de filmes num registo de paródia.

A serena vida de Greg dá uma volta de 180° quando a mãe o obriga a fazer uma visita a uma miúda da sua escola que descobriu recentemente ter cancro, Rachel. Com a promessa narrativa de não ser uma história de amor, Me and Earl and The Dying Girl, escrito por Jesse Andrews e realizado por Alfonso Gomez-Rejon, saiu duplamente premiado do Festival de Cinema de Sundance 2015.

Protagonizado por Thomas Mann, RJ Cyler e Olivia Cooke, Me and Earl and The Dying Girl opera como um poema de meditação sobre a amizade e o amor e a importância de nos relacionarmos e deixarmos que se relacionem connosco – não há mais nada além de pessoas, são elas que arquitectam a vida e sustentam a felicidade.

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