CINEMA

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A premissa de Inferno é um dilema, para salvar a humanidade da extinção total é preciso condenar agora metade da população. Trata-se de um falso dilema. Não que isto tenha grande importância, ninguém vai para uma sala de cinema auscultar rigor filosófico. Não podemos também ignorar que Dan Brown é um sucesso comercial, portanto, os seus leitores, muito provavelmente, também não darão grande importância ao rigor filosófico. Conceptualmente, esta adaptação cinematográfica dos livros de Dan Brown é muito semelhante aos filmes anteriores. Seguem a mesma linha de um autor que entusiasma não só pela erudição, mas porque consegue empolgar os leitores com crenças que estes não conseguem refutar de forma definitiva ou conclusiva, ficando um trago de verosimilidade nas suas histórias.

Vejamos o caso de Inferno, Robert Langdon (Tom Hanks), o herói, tem que resolver um conjunto de enigmas para salvar (metade) da humanidade. É certo que usa o Google para desvendar as pistas que lhe vão sendo facultadas, num cenário de perseguições constantes que passam por Florença, Veneza e Istambul. O pano de fundo literário que Dan Brown utilizou foi a Divina Comédia. Pergunto-me o que Dante Alighieri diria, se estivesse comigo sentado na sala de cinema, apreciando este filme. Só consigo imaginar a sua reação, Dante provavelmente colocaria o filme e o seu autor num dos círculos que imaginou do inferno, purgatório ou paraíso. Qual destes? Prefiro não responder. Não quero aqui especular sobre essa matéria. A premissa inicial é verosímil o que suporta tudo o resto, mesmo que isso não permita salvar o filme.

Se este filme despertasse uma maior atenção para o trabalho de Dante, para as pinturas do Palazzo Vecchio, ou para a beleza dessa bela cidade Istambul, talvez tivesse um olhar mais benevolente sobre a película. Este filme não faz isso porque prefere-se a agitação à própria essência dos enigmas, prefere-se a correria aos dilemas e o jogo do gato e do rato a qualquer substância que este filme pudesse trazer.  Dan Brown dá-nos algumas verdades para produzir um efeito pirotécnico. Há quem goste. Há quem admire. Fiquei com a ideia que a premissa inicial seria convincente até para pessoas inteligentes. Isto é simplesmente assustador, perdoem-me a franqueza.

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