Fotografias: Vera Marmelo.
Thurston Moore vive tempos excitantes. Com o fim dos Sonic Youth, o músico americano, agora a residir em Londres, goza a liberdade criativa que sempre teve mas com maior disponibilidade para estabelecer colaborações com vários músicos que admira, tanto no formato de banda rock como no campo da música improvisada. E parece ter encontrado os músicos ideais para prosseguir com as suas ideias no contexto de canção rock.
Desta vez, trouxe consigo Steve Shelley na bateria, seu companheiro de longa data nos Sonic Youth (sempre com óptimos resultados na solidez rítmica das canções), o excelente guitarrista inglês James Sewards (Thurston encontrou um guitarrista à altura de Lee Ranaldo) e a baixista Debbie Googe dos My bloody Valentine (muito competente com a sua pulsação pujante no baixo).
Thurston Moore apresentou-se em palco bem disposto e com um notável sentido de humor, revelando o seu charme e carisma quando fala para a audiência ou quando o vemos completamente imerso na sua música, no impressionante universo aural que cria. Estava imenso calor na sala esgotada e Thurston por várias vezes ofereceu água aos presentes, revelando-se simpático e atencioso com o público, tudo num ambiente descontraído e intimista que se saúda, de maior proximidade com os fãs, o que só é possivel em salas pequenas. A banda tocou canções novas (Turn On, magnífica!) mas também material do álbum The Best Day (Speak To The Wild, Germs Burn e o tema título foram momentos altos), editado o ano passado. E se musicalmente não se pode dizer que houve surpresas, (há aqui uma marca sonora consolidada nos seus álbuns a solo, não muito distante dos Sonic Youth) é sempre com prazer que reencontramos ao vivo esta música feita de energia crua, de ritmos firmes e vertiginosos, da coolness da voz de Thurston, de guitarras em duelos selvagens e radicais que quando aceleram em voo livre e entram em êxtase, atraídas pelo caos, são absolutamente arrasadoras. De guitarras que deslumbram pelo notável domínio da matéria sonora, pelos delicados jogos harmónicos, pelas texturas apuradas, pelas súbitas mudanças de direcção, revelando um notável equilíbrio entre melodia e dissonância, numa tempestade eléctrica que não deixa ninguém indiferente.
No final, sorrisos nas caras de todos os que embarcaram nesta viagem rock'n'roll deliciosamente arrebatadora.