Fotografias: Vera Marmelo.
Se em visitas recentes tivemos a oportunidade de ouvir o lado de Thurston Moore mais ligado ao jazz e música improvisada/experimental em colaboração com músicos portugueses, desta vez ouvimos a sua faceta pela qual é mais conhecido: rock sem concessões, operando nas margens do género, permitindo a contaminação de influências provenientes de outros estilos.
O seu talento, espelhado no domínio impressionante da matéria sonora, é imenso. A sua estética aperfeiçoada em mais de 30 anos de carreira traduz-se numa música fluida, dinâmica e excitante.
E foi assim o concerto na Zé Dos Bois, um lugar onde o músico americano se sente em casa, entre amigos. Acompanhado por Steve Shelley na bateria, seu companheiro nos Sonic Youth e colaborador de muitos outros músicos da esfera indie, e pelo guitarrista James Sewards, Thurston Moore tocou temas daquele que será o seu próximo álbum a solo que, segundo o próprio disse, sairá em Setembro pela Matador.
Ao que parece, os Chelsea Light Moving não terão continuidade, e neste concerto ouviu-se material novo que Thurston terá desenvolvido com os membros da referida banda e com alguns músicos ingleses, agora que reside em londres.
Música fresca, portanto, com o músico a socorrer-se de papéis com as letras escritas, sinal de que ainda não as decorou. As novas canções, na sua maioria, desenvolvem-se em riffs agrestes e certeiros, ritmos sólidos, líricas mais curtas que o habitual, evoluindo para extensas partes onde as guitarras entram em êxtase, em plenos devaneios sónicos que vão desaguar em mudanças de direcção súbitas, mais atmosféricas, como contraponto ao turbilhão eléctrico, que em crescendo, envolve a audiência em quase todos os temas quando eles chegam a meio.
Depois, retorno ao riff inicial. Estruturas circulares de texturas apuradas, não muito distante do universo dos Sonic Youth. Previsível, sim, há alguma repetição de fórmulas mas ainda assim, fascinante. Foi um concerto num tom descontraído, com Thurston a falar ocasionalmente com o público, simpático e com sentido de humor. O seu carisma não passa despercebido e musicalmente continua a entusiasmar.
Antes, tocaram os Control Unit, duo de Brooklyn que não causou grande impacto, mas proporcionaram alguns momentos interessantes, com uma música escura, minimal e agressiva, claramente devedora da no wave, com o trabalho do óptimo guitarrista em destaque, acompanhado pela vocalista que cantou muito ao estilo de Lydia Lunch.