Ansiosamente um ano há espera de mais uma edição de MADEiRADiG, o festival que no ano passado nos deixou boquiabertos não só pela escolha musical exquisite como por todo o ambiente que nos envolve entre a idílica Estalagem da Ponta do Sol e o intimismo do MUDAS. A 2 de dezembro estamos de volta à Madeira para fruir de 4 dias de programação intensa que é aqui identificada por Rafael Biscoito, director do festival.
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Ao longo de 13 edições de MADEiRADiG a vossa premissa é a promessa de não baixar a fasquia de excelência e diversidade. Que ingredientes tornam este festival único?
Procuramos oferecer sempre uma programação cuidada, de acordo com os critérios orientadores do festival e as opções definidas pelos seus curadores. Habituamos o nosso público, que fomos fidelizando ao longo de todos estes anos, a um determinado nível de qualidade, e sabemos ser nossa obrigação nunca o desiludir. Mesmo quando os orçamentos não são os mais adequados. Mas não é apenas a programação que faz do MADEiRADiG um festival único, existem pela Europa fora muitos outros festivais com as mesmas premissas.
Como factores diferenciadores temos que considerar igualmente a sua localização, ilha da Madeira, um destino turístico por excelência (premiado em 2015 como o melhor destino insular da Europa e do Mundo), os espaços em que decorre, o emblemático MUDAS e a Estalagem da Ponta do Sol, e a ambiência aí gerada ao longo dos quatro dias de festival. A sua assumida pequena dimensão é um factor importante. O festival é limitado a apenas 200 pessoas, a capacidade do auditório, propiciando o carácter intimista que todos reconhecem e admiram no evento.
Peder Mannerfelt, Zeena Parkins e Sonic Boom são os nomes que destacam, qual o porquê desta escolha e gostava que me falasses um pouco destes projectos?
Começamos por destacar estes nomes por duas razões distintas. O primeiro pelo entusiasmo que as suas actuações têm vindo a gerar nos últimos tempos. Zeena Parkins e Sonic Boom pelas já longas carreiras que trazem consigo. Mas todos os outros nomes que integram o programa merecem também o seu próprio destaque.
Que outros nomes destacam e o que vamos poder ver nesta edição?
É complicado falar em destaques. Sendo um dos curadores do festival, é-me mesmo muito difícil fazê-lo. Todos são especiais para nós. O que poderemos ver nesta edição insere-se, claro está, na linha do que tem sido a programação do festival nos últimos anos, a música electrónica e a música experimental em diversas variantes. Para além dos já mencionados Peder Mannerfelt, Zeena Parkins e Sonic Boom, o nosso público terá oportunidade este ano de ver e ouvir nomes como HELM, Lakker, Kassel Jaeger e Marina Rosenfeld com Ben Vida.
O que junta todos estes projectos a nível de curadoria?
São necessariamente escolhas que resultam das preferências pessoais de cada um de nós curadores. Procuramos sempre trazer artistas que consideramos relevantes e actuais no panorama da música electrónica e da música experimental, tentando apresentar em cada edição algo que enriqueça e complemente o que já foi apresentado nas edições anteriores. No caso específico das after-session, faz todo o sentido, darmos preferência a artistas e projectos emergentes.
No ano passado deram o destaque de uma noite à editora Mego, está previsto destacarem uma outra editora ou projecto para este ano?
Não somos adeptos de label-nights ou de noites temáticas. No caso da Mego, celebrámos com um showcase o seu vigésimo aniversário, algo de muito especial, pela importância que reconhecemos à editora, e pela sua relação de vários anos com o festival. Mas não excluímos dar novamente, no futuro, destaque a uma editora se circunstâncias especiais o justificarem.
Como foi o work in progress a nível de escolhas para esta edição. Como é o teu dia a dia nesta selecção?
É um processo que pode durar até cerca de oito meses e implica um diálogo constante com o meu parceiro na programação do festival, Michael Rosen, residente em Berlim. Decorre em três fases: Começamos pela identificação dos artistas e projectos que pretendemos convidar e pela análise de todas a propostas que nos vão chegando; depois, a definição de uma lista de prioridades; finalmente, o contacto com os artistas ou respectivos agentes para iniciarmos o processo de contratação.
E em relação aos after concertos. O que vamos poder ver?
Para os concertos que decorrem na Estalagem da Ponta do Sol todos os dias após os concertos no MUDAS, as nossas escolhas este ano são Laura Clock, Golden Diskó Ship e Anenon. Todos os dias haverá também actuação de DJ's. Destaque para a DJ colombiana Natalia Escobar.
Continua a ser um festival para estrangeiros ou crês que o público madeirense já está mais desperto para estas sonoridades?
O festival sempre teve um núcleo fiel de adeptos madeirenses. São poucos, quando comparados com o número de estrangeiros que recebemos todos os anos, mas se fizermos contas, considerando a especificidade deste tipo de eventos, estão provavelmente à escala para uma região que tem pouco mais de 200.000 habitantes. Verifico que todos os anos a este pequeno núcleo se vão juntando caras novas. Nos dois últimos anos isto foi particularmente notório.
Com que parcerias contam neste momento? Mantêm as parcerias com o Semi Breve, Teatro Maria Matos e ZDB?
Nunca tivemos parceria com a ZDB, apenas uma colaboração há alguns anos atrás. As parcerias com o Teatro Maria Matos e a GNRation, de Braga, mantêm-se.
Que diferenças têm marcado o MADEIRADiG ao longo dos anos?
Olhando para o que foram os primeiros anos, e vendo o que é hoje o MADEIRADiG, pode-se dizer que existem muitas diferenças. Algo de perfeitamente normal, considerando que tem já uma história de 13 anos. Há três coisas que acho essencial destacar: primeiro, a evolução que se verificou na linha programática do festival – começou por ser um evento dedicado preferencialmente à musica produzida em computador, a chamada música digital ou laptop music, e a projectos de natureza audiovisual e ao longo dos anos fomos alargando o âmbito da programação para áreas musicais mais diversificadas, embora sem nunca perder de vista os propósitos iniciais; depois, factor crítico, destaca-se a mudança de localização do festival do Funchal para a zona oeste da ilha, Calheta (MUDAS) e Ponta do Sol (Estalagem da Ponta do Sol). Foi nessa altura que o festival assumiu o formato que tem actualmente, fim de semana alargado, de sexta a segunda-feira, dois concertos por dia seguidos de after-sessions. Finalmente, é essencial destacar o momento em que se estabeleceu a parceria internacional que permitiu a promoção do evento em todo o espaço Europeu e consequentemente o afluxo do público estrangeiro que caracteriza hoje o MADEIRADiG.
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* A pedido de Rafael Biscoito este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.