Fotografias: Maternidade.
Este é um caminho, o nosso!
Efervescência será uma das marcas que mais se associa aos tempos que se vivem na cidade de Lisboa no que respeita a concertos, novos músicos e novas edições. Entre muitos colectivos que têm surgido nos últimos anos não é exagero afirmar que um que dos que mais se tem destacada é a Maternidade. Maternidade é liberdade criativa, é expressão de uma urgência e responsável por uma das noites mais estimulantes que têm lugar nas Damas. A próxima será já no Sábado, 29 Abril, com Kid Fourteen. E como se diz que a ocasião faz o ladrão, a entrevista a Khodor Ellaik (Kid Fourteen) e ao Rodrigo (Maternidade).
"Dream Kids Never Sleep", podemos ainda ter esperança ou como os Sex Pistols diziam – "No Future"?
Kid Fourteen – Diria que não é sobre esperança, verdadeiramente. Mais esperança não tem nada a ver com isto. É um termo muito indulgente, ainda mais no tempo presente.
Já tocaste nalgumas bandas punk anteriormente como Beirut Scum Society. Como é que isto te influenciou no que fazes agora como Kid Fourteen?
Kid Fourteen – Não tinha começado Kid Fourteen sem Beirut Scum Society. Ajudou-me a compreender a estrutura e a desafiá-la, moldou-me enquanto live performer e definitivamente ajudou-me a filtrar o que pretendo e o que não pretendo com o meu projecto a solo.
O teu som remete-me para bandas como Suicide, os primeiros tempos de Dirty Beaches e por vezes Marching Church. É escuro, e ao mesmo tempo um murro na cara tentando dizer – Atenção! A quem te diriges quando escreves? Quais são as tuas principais influências, não somente musicais?
Kid Fourteen – Penso que muitas das minhas influências musicais ainda estão muito presentes neste álbum. Prefiro um processo em que as coisas saiam naturalmente e que se dirijam a algo menos remanescente. Escrever é um processo muito pessoal, tento lidar com alguns demónios, acontecimentos passados, por vezes. Outras vezes, junto somente diferentes personagens e deixo que elas falem espontaneamente sobre si mesmas.
A cultura Do It Yourself (DIY) é, novamente, uma forma bastante poderosa no sentido de se criar uma liberdade criativa. DIY é o caminho para uma maior autonomia? Como é o panorama cultural e musical em Beirute e como conseguem criar e promover o vosso trabalho longe das grandes cidades mundiais?
Kid Fourteen – O panorama musical em Beirute tem estado bastante activo recentemente, quer no que diz respeito a concertos, como a edições. Penso que advém de um esforço colectivo a tentativa de colocar alguns dos músicos algures no mapa.
Promover o nosso trabalho é tarefa complicada. Muitos dos media internacionais e também editoras esperam verem empunhadas certas "bandeiras" e "temas". Muitos, da nova geração, estão somente a fazer música ou envolvidos noutras manifestações artísticas sem ter que necessariamente "carregar" causas abrangentes, o que por vezes, dificulta a promoção do seu trabalho. Mas com a internet e a cultura DIY nada é impossível. Depende do que queres fazer e quanto estás predisposto para o fazer, um pouco à semelhança do que acontece em qualquer outra parte do mundo.
A Maternidade é uma promotora e editora bastante revigorante, digamos assim. Se pudesses aconselhar estes miúdos sonhadores o que lhes dirias?
Kid Fourteen – Tem sempre a ver com manter a mente verdadeiramente aberta, mesmo que isto soe um pouco genérico. Ficar preso no que pensas que é bom ou mau, certo ou errado, durante muito tempo é pouco saudável, para utilizar uma expressão bastante ligeira. Portanto, deem e deem às pessoas em volta a oportunidade de fazer as coisas à sua maneira. Somente ser honesto.
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Aproveitando o facto das Damas terem acabado de celebrar o segundo aniversário, o que representa para ti e para a Maternidade um espaço como este na cidade de Lisboa?
Maternidade – Acho que é um espaço muito específico e especial devido a várias razões, desde a própria gestão da casa à configuração espacial que se desdobra em diferentes áreas (do restaurante, ao bar e à sala de concertos) numa estrutura pré-existente. As Damas, Alex e Clara, não se limitam a gerir um negócio ou programar e promover eventos, mas envolvem-se com a comunidade local (com os vizinhxs, aos músicxs, artistas, e promotorxs da cidade) e têm preocupações que nos são próximas, como a representação da diversidade de género em palco ou a segurança na pista de dança.
Como descreverias a quem fosse, pela primeira vez, uma noite da Maternidade? E como sentes que elas se integram num espaço com características tão peculiares como as Damas?
Maternidade – Acabam por ser muito diferentes, conforme os artistas que marcamos, mas muito provavelmente, vão ouvir canções (às vezes coisas num ambiente de maior experimentação) e a certo ponto haverá um DJ set! Gosto de acreditar que não vão ouvir música mole, que se irão sentir incluídas e com à vontade total para dançar, suar e eventualmente fazer novos amigxs sem constrangimentos!
O que vos levou a endereçar o convite a Kid Fourteen?
Maternidade – Na verdade, recebemos um e-mail do agente dele, sabíamos que ele tinha interesse em vir cá tocar e mostrámos logo interesse em recebê-lo! Ouvimos falar muito bem das performances dele ao vivo… nunca mais é sábado!!
Penso que não será impressão minha, mas vejo a Maternidade muito vinculada a algumas preocupações sociais e muito pessoais. Pensas que a música ainda é, e sempre será um veículo para chamar a atenção para determinados aspectos? Ainda reside nesta forma artística a capacidade transformadora?
Maternidade – Claro que reside! Caso já não resida na arte, já nem irá residir em lado nenhum.
Têm surgido vários colectivos, em Lisboa, mas não só, em que há uma preocupação de ter uma visão abrangente sobre a música – promotores, editores, músicos. Porque é que a Maternidade optou por seguir este caminho?
Maternidade – Foi uma coisa muito orgânica, uma pessoa juntou-se a outra, cada uma tem a sua visão e os seus problemas. Percebemos como nos podemos ajudar e vamos percorrendo cada qual o seu caminho, mas em companhia.
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NOITE MATERNIDADE – Kid Fourteen, Meia de Leite, DJ Maboku | Damas | 29 de Abril | 23 horas | Entrada Livre
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* Este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.