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Fotografias: Miguel Silva Rocha.

Hugo Costa faz parte de uma família ligada à indústria do calçado. Passou muito tempo da sua infância entre os moldes e os cortes, mas nunca considerou este como um possível caminho para o seu futuro. Mais tarde, já no curso de engenharia de computadores, tomou uma decisão drástica. Deixar tudo e prosseguir o rumo da moda. A equipa do PFM foi até à Oliva Creative Factory, onde fica o seu estúdio, conhecer melhor a sua história.

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Sendo que cresceste ligado ao calçado, podes dizer que essa é a tua primeira memória ligada à área da Moda?

Não me lembro de pensar nisto quando era mais novo. Não me lembro de ter qualquer tipo de pensamento ligado à área da moda. Se o tive, não acho que tenha sido propriamente com o calçado. O calçado sempre esteve presente na minha vida, logo não me lembro exactamente quando comecei a estar mais envolvido.  Não me lembro  de pensar em fazer disto vida, apesar de o ter considerado como um dos caminhos possíveis. Caso alguma coisa corresse mal no meu percurso, poderia sempre recorrer a esse caminho como uma alternativa. Mas, na altura, não passava de uma brincadeira, desenhava umas coisas, porque não queria trabalhar na fábrica durante as férias. Então decidi desenhar sapatos para tentar arranjar um trabalho só para poder desenhar mais.

Quando dei por mim, não fazia sentido construir imagens, sem ter o look geral. Não sei bem como, mas tive a ideia de que para vender um sapato tinha que ter uma imagem que ficasse bem com o sapato. Eu não tive contacto com a moda, não ligava nada à roupa e de repente começou a fazer sentido ter uma imagem completa capaz de vender um produto, que até tinha uma menor importância - era considerado apenas um acessório. Depois o processo inverteu-se, o acessório começou a fazer sentido para fazer as imagens. Acho que começou por aí, depois claro os sapatos estavam lá. Sempre existiu a fábrica.

O que define a tua estética?

Não gosto de definir a minha estética. Não gosto, porque tenho muita dificuldade a fazê-lo. Acho que tenho um design extremamente egoísta, eu desenho para mim. Faço-o porque gosto e não porque o faço para um público. Acho que enquanto criativos das nossas marcas temos que deixar o ego sair em forma de vestuário e peças.

Mas, se tiver que definir o enquadramento da minha marca, diria talvez um high-fashion streetwear. Este público tem que amar a rua, tem que viver a rua, tem que existir na rua, tem que viver nos seus movimentos culturais, logo tem que ser alternativo. Mas não consigo definir um enquadramento etário para a minha marca. Posso dizer que é dos 18 aos 45, mas também pode começar nos 16, porque qualquer puto de 16 anos pode calçar as minhas sapatilhas ou vestir as minhas sweatshirts se tiver poder de compra para o fazer.

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O que te inspira?

Inspiram-me as pessoas. E a rua claro. Inspira-me toda aquela fantasia à volta da ideia de gueto, de viver na rua, o ser um badass. Inspiram-me os meus alunos, quando desenvolvem algum tipo de trabalho que me deixa curioso. Mas, acima de tudo, inspiram-me coisas bem feitas e as pessoas que as fazem. O montar bem à mão inspira-me, como por exemplo, um sapateiro a montar um par de sapatos. Inspira-me para trabalhar, para vir para casa e fazer o meu trabalho bem feito. É isto que me inspira.

Quando se fala em inspiração e tendências na criação, acho que apesar de termos de estar atentos, deveríamos tentar desligar o botão. Claro que acabamos sempre por ser influenciados pelo que nos rodeia, pelas pessoas por quem passamos na rua. Por exemplo uma silhueta interessante de alguém que passou por mim na rua, pode dar-me logo ideias para fazer uma coleção. Já me inspirei e inspiro-me muitas vezes na desconstrução de uma sombra que uma pessoa cria no chão.

Também retiro inspiração da física e da mecânica, que retive do período em que andei em engenharia, para fazer coisas improváveis na parte gráfica. Como é que esses temas poderiam ser reflectidos em termos gráficos. É aqui que temos de ser menos lógicos, menos evidentes para tentar não entrar na tendência. Muitas pessoas classificaram um dos padrões da minha última colecção, como o “novo camuflado”. Não foi um clamufado que tentei fazer. Isto tem a ver com a interpretação que cada pessoa dá quando olha para algo novo. Eu penso de uma forma e as pessoas interpretam de outra. E isso tem a ver com o processo criativo do meu tipo de trabalho, como se de arte se tratasse. Não que eu considere que faça arte, mas o meu trabalho deperta emoções completamente subjectivas tal como uma peça de arte também o faz.

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Mas inspirando-te no streetwear e no lado urbano, sentes que o Porto é uma cidade que te inspira?

Posso dizer que desde que existo mais no Porto, porque vou para lá quase todos os dias, sinto-me mais inspirado, mais profissional, mais competente. A energia sentida lá é completamente diferente da sentida aqui em São João da Madeira. Gosto muito de São João da Madeira, é a minha cidade, é onde vivo. Mas, o Porto para mim tem uma fantasia à volta díficil de explicar, que  ainda não consegui sentir em mais lado nenhum. Já viajei algumas vezes, e ainda não o consegui sentir noutra cidade. O Porto consegue ser aconchegante sem ser bairrista ou demasiado pequeno. Conseguem-se conhecer todas as pessoas do circuito, mas ao mesmo tempo ter uma vida própria. Existem os dois lados, o lado familiar, os valores tradicionais, as pessoas peculiares misturado com o lado mais cosmopolita, mais de cidade. A arquitectura é maravilhosa. É uma cidade cinzenta, mas é uma cidade bonita. É uma cidade que parece suja, mas não é suja.

Como é um dia na vida de Hugo Costa?

Todos os dias são diferentes. À segunda-feira, dou aulas o dia todo, no Porto. Depois à terça, vou para um cliente, à quarta estou aqui (estúdio na Oliva Creative Factory, em São João da Madeira). À quinta dou aulas, à sexta é mais imprevisível, mas também dou aulas ao fim do dia. Portanto são dias muito cheios, felizmente. Felizmente, agora posso dizer que me sinto cansado por ter trabalho. Felizmente, prefiro este cansaço do trabalho do que o desespero de não ter nenhum, e nesta fase o que posso dizer é que estou cansado, a precisar de férias e até gosto dessa sensação, de acordar e dizer “O meu dia vai passar a correr”.

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O que se segue na vida de Hugo Costa?

Para a marca o objetivo é melhorar. Melhorar a qualidade. Arranjar mais parceiros, principalmente na área têxtil, onde é mais difícil para mim fazê-lo. E continuar a trabalhar na internacionalização da marca. Estou a preparar algumas surpresas para a próxima colecção, mas não vou divulgar nada. Fechar parcerias internacionais na área da comunicação. Estou a tentar trabalhar a parte comercial disso, porque acordei para a realidade que se não tiver comerciais não vendo. É muito díficil, não adianta fazer vendas directas em feiras se depois não tens comerciais para sustentarem essas mesmas vendas.

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