Fotografias: Sara Pinheiro e Rui Soares.
Quatro Anos de Arte Urbana nos Açores evidenciam o crescimento do Festival
Porco no espeto, bandeirinhas de plástico e música de arraial: poderia ser uma típica festa de freguesia em São Miguel, mas foi o “Retiro” do Walk&Talk, um evento que se seguiu ao espectáculo Cardume, resultado da Residência de Dança Contemporânea, e deu início à segunda semana do festival de arte urbana que contou com diversos eventos que elevam o cartaz da quarta edição do Walk&Talk, tornando a engrandecer o circuito de arte pública com novas intervenções.
Ao entrar na cidade da Ribeira Grande, vê-se o comprido muro pintado pelo romeno Obie Platon: um desenho abstracto onde uma figura humana, que se mistura com o cosmos, céu e mar, além de objetos associados à região açoriana como lagoas ou montanhas.
Ao entrar na cidade da Ribeira Grande, vê-se o comprido muro pintado pelo Obie Platon: um desenho abstracto onde uma figura humana, que se mistura com o cosmos, céu e mar, além de objetos associados à região açoriana como lagoas ou montanhas.
Foi o artista romeno que levou o festival Walk&Talk além Ponta Delgada, com a maior pintura feita em todo o seu percurso artístico, evidenciando a vontade que a organização tem de fazer crescer o festival, levando-o aos quatro cantos da ilha.
Além desta, foram diversas as pinturas que completaram o circuito de arte pública em Ponta Delgada: o americano Gabriel Specter, pintou em São Roque, com o acolhimento de toda a comunidade daquela freguesia. Perto, no bar de uma praia, Mariana a Miserável estreou-se nas paredes, onde reproduziu uma das suas ilustrações alusivas ao mar. Ainda, a artista manteve presença na exposição colectiva, além de ter organizado um workshop de ilustração no mesmo espaço.
O Walk&Talk contou também com trabalhos noutras áreas: no jardim botânico António Borges, a espanhola Labuena Ylamala expõe o espírito da floresta, uma escultura abstrata que se movimenta sobre um lago. No mesmo jardim, há presença açoriana com a peça de Susana Aleixo Lopes, que é transporta do mar para a terra (from: sea/ to: hearth): uma das duas peças que compõem a sua obra Ephemeral reminder.
Além do circuito de Arte Pública, as residências artísticas que complementam o cartaz, apresentaram resultados na segunda semana do festival: do Laboratório de Arquitetura desenvolvido pelo Argot e Mezzo Atelier resultou um conjunto de estruturas rurais feitas em madeira, cujo propósito passou por torná-las funcionais no meio urbano: uma estufa de ananases foi transformada em equipamento balnear, o cafuão serve hoje de suporte de flores e uma reprodução de moinho de vento completa um parque infantil na baixa da cidade.
Além de descontextualizar as tradicionais estruturas açorianas, Joana Oliveira, um dos arquitectos responsáveis, conta que a intenção foi a de suscitar curiosidade e gerar o diálogo entre jovens e mais velhos, sobre as estruturas que se sabe estarem hoje esquecidas, mas que são parte da história dos Açores.
Sob uma noção semelhante, o designer de moda Miguel Flor, teve no Walk&Talk a função de director criativo da Residência de Artesanato Contemporâneo, sendo a sua ideia a de usar técnicas de artesanato para criar produtos modernos que possam ser comercializados.
Ciente de que o artesanato está cada vez mais afastado das necessidades atuais, Miguel Flor sabe a relevância de dar um carácter mais contemporâneo para que as novas gerações possam compreender que esta é uma técnica antiga, mas através da qual é possível criar produtos modernos e únicos.
As peças que resultaram da residência são agora expostas no aeroporto de Ponta Delgada para posteriormente serem comercializadas. Além disso, o designer de moda Miguel Flor criou umas máscaras – em vimes e flores de escamas de peixe – baseadas nas máscaras usadas pela Maison Martin Margiela, com o intuito de as enviar à marca, com quem trabalhou há 10 anos, mostrando o que é possível fazer nos Açores e visando o interesse da marca de aute couture em desenvolver o produto, tornando-o ainda mais comerciável.
Residência de Artesanato Contemporâneo
Residência de Artesanato Contemporâneo
Em São Miguel, ficam as intervenções, que já fazem parte da comunidade micaelense e a garantia de que que para o ano mais uma edição do Walk&Talk resultará num cartaz completo e diverso, que irá engrandecer a região micaelense que cada vez mais sente ser parte da natureza criativa que o festival produz.