Sem calendário, outra vez. Os dias não são sequência, mas prolongamento. Fluem, como um rio em direcção ao mar (Led to the Sea). As ruas estreitas e as colinas. Alfama, Castelo, Martim Moniz. A urbanidade, a de Lisboa, encontra-se nos bairros, nas ruas. No entardecer, nos pátios e nas árvores, essas que mudam de folha, ou direi pele. Confluímos. A foz? A igreja de São Luís dos Franceses. Não sem antes conversar. Muito. Trocar impressões. Tantas. Descobrir e ouvir o que não se teve oportunidade. Mexefest são escolhas e partilhas. E arrependimentos? Alguns. Sem margem para dúvida. Por não ter visto concerto de JP Simões, no dia anterior, isso é uma certeza límpida, ao final de uma semana. Seria a décima vez, talvez. Seria demais? Nunca. Há sempre novos momentos, cantar Gainsbourg, a secção de sopros e o novo álbum – Roma, ou deverei pronunciá-lo de trás para a frente.
Somos ramos de árvores, descentrados. Mas não por muito. Moonface. Agora, um só lugar e um só minuto. Aquele. O da segunda fila. Atento, sempre. Com Spencer Krug. O seu piano e o banco, o meu e o dele, insistentemente inclinado. Tudo parece instável. Um trapezista. A voz, e que voz, e as mãos. Quando não as duas em simultâneo, uma a tocar e outra cerrada, ao alto: chama-nos. Não se está distraído. Ali para ouvir, para procurar um sentido de casa de espaço habitado, seja físico ou não. Ainda na segunda fila, sempre. Para com ele partilhar e me divertir com os seus passeios por Lisboa. E assumir uma certeza como muito minha – os pombos não são pássaros, definitivamente. Se tivessem sentido estético de um Pisco Ruivo, por exemplo, nunca teriam tido a coragem de lhe sujar a camisa. Seria impossível. Não se faz isto a um tipo assim. Ainda e sempre Julia and the blue jeans on. Julia and the blue jeans on. Em recordatório e como certeza, para ouvir todos os dias, em cada minuto.
Não há pausas. Os concertos atropelam-se. E as pessoas também. Não sou eu, renuncio. Daughter e Coliseu. Coliseu? São Luís dos Franceses? Daughter ou ainda Moonface? Prometo. Lentamente entro. A nossa clareira numa plateia bem composta. Savages atacam, Daughter vão conquistando. Registos distintos claramente. Como se diante das Abstract Painting de Ad Reinhardt quiséssemos, às primeiras, acrescentar mais preto, e às segundas, descobrir-lhes as diferentes tonalidades. Banda com séquito, acompanhada por voz colectiva (eles e nós) afinada e, por sorriso encantador de Elena Tonra.
A noite estica-se. E eu com ela. Perco concertos, por distracção Peixe : Avião, por opção Oh Land e convido-me para picnic. Dança-se, salta-se, e vontade em beber sumo de ananás, há. E as formigas? Não o podem arruinar? Sempre que podem. Não sofro de mirmecofobia, mas assustam-me certas opções musicais, a não originalidade de outras e a falta de com texto. É com texto, ou a sua ausência. Ouvir “Bitchs” e “Coliseu” em cada duas frases aproxima-me de arraial, afasta-me de picnic. Guardo manta para outro dia. Os talheres? Esses ficam no bolso de trás. Para devorar o melhor prato de pasta e amarar em sofá amigo. Sem turbulência.