MÚSICA

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Fotografias: Nuno Gervásio.

Caixas, caixas de som

A caixa. Obejcto imortalizado por Manoel Oliveira e sempre de uso diverso para cada um de nós. Acresce-lhe uma característica inata, quase nunca é para o fim a que se destina. Uma caixa de sapatos pode servir para guardar os bilhetes de concertos, as de vinho ou de fruta para prateleiras ou então somente para ocupar espaço ou guardar segredos que nem nós nos lembramos. Desta vez, e aproveitando a 2ª Edição do Mercado de Música Independente, que terá lugar, no Vodafone Mexefest, falámos com Fred Ferreira e o seu novo projecto de música não tocada – Caixas de Som. Também nós fechamos a tampa da melhor maneira, concluindo esta trilogia sobre o Festival.

Como surgiu a ideia?

Estava em digressão, no Brasil, com a Banda do Mar e com o Marcelo Camelo. Conversávamos sobre a melhor forma de valorizar os trabalhos físicos dos músicos, fossem CD’s ou vinis. De que forma os artistas podiam lançar um trabalho, ser valorizado, ao mesmo tempo que as pessoas pudessem comprar. Encontrar a melhor forma de o mostrar, uma alternativa mais às formas de venda que já existem. Cheguei à conclusão de fazer umas lojas portáteis, que fossem lojas de merchandising mas que não fossem só de uma banda, antes de toda a gente. No fundo toda a gente vendia de toda a gente. Fiz uma, que apresentei no concerto de Moreno Veloso no São Jorge. Correu muito bem. De repente fiz duas e as pessoas começaram a gostar da ideia. Agora estou com quatro e ainda estamos numa fase inicial, de planeamento – em que locais queremos estar, por exemplo já estivemos no Nos Debandada, no Porto, no Musicbox várias vezes, vamos também estar no Vodafone Mexefest e também no Park numa feira de Natal. Gostava de estar na rua com a Caixa, basta ter uma licença de rua e vender os discos do pessoal todo. Tenho alguns que muito dificilmente vais encontrar, por exemplo, os primeiros CD's de Orelha Negra, de Regula, que só aqui ou então no barbeiro dele, edições especiais que trouxe do Brasil e que só saíram lá, um EP que o Tim (Xutos & Pontapés) fez com os filhos, de rock psicadélico e que fez cinco exemplares para estas Caixas, até uns maxi-singles assinados e numerados que o David Fonseca cedeu para estarem aqui, edições especiais do Francis Dale. No fundo, uma série de edições especiais, misturadas com edições normais. A ideia é poder levar música ainda a mais gente. A única regra que tenho é que todos têm de estar representados, ou seja que cada banda também venda o material da outra. Além disso, torna-se uma forma de obter uma receita extra para as bandas. Não tem porque haver a separação concerto/loja de discos. As bandas durante os concertos, que hoje em dia são cada vez mais, podem sempre obter um dinheiro extra, e que pode fazer diferença por exemplo para pagar a produção do disco, fazer um vídeo.

E como a concretizaste?

Como te disse fiquei durante uns tempos a pensar numa alternativa à venda tradicional de material dos músicos. Não é um objecto que pense ganhar dinheiro com ele, mas tem de ser sustentável financeiramente. Quero que seja sobretudo uma forma de divulgação da música em que todos tenham a oportunidade de ter o disco à venda.

Partindo destas premissas, chego a Lisboa e juntamente com a Ferromen, que é uma empresa especializada no fabrico de Flight Cases, e o Zé Nando Pimenta da Meio Fumado; juntámo-nos todos e avançámos com isto. A nossa ideia não passa por patentear o objecto, mas transformá-lo num veículo de promoção para todas as bandas, sobretudo para aquelas que estão a começar. Imagina ter uma banda e saber que há alguém que está interessado em comercializar o teu produto, é aliciante para o músico, não?

Caixas de Som 2

Como é que os músicos e agentes vos podem contactar?

Através da página do Facebook, facebook.com/kambasRecords, ou simplesmente mandar um email. As caixas já começam a estar com muito material, mas na medida do possível, estamos sempre abertos a receber todas as propostas. Seja de autores portugueses, seja de brasileiros, seja de autores lusófonos, seja de outras proveniências. É como aquelas carrinhas – uma verdadeira caixa aberta. Não há regra nenhuma para ser cumprida, nem em relação ao tipo de som, nada. Eu quero é divulgar e que o pessoal se sinta bem. Para isso formámos uma equipa especializada que sabe de música e que pode informar os clientes.

Vamos encontrá-las com esta decoração ou pode dar-se o caso de as vermos adaptadas a cada tipo de concerto/festival?

Elas podem adaptar-se, evidentemente. Já falei com o Vhils e com outros artistas plásticos para fazer um trabalho com uma das caixas, mas a base delas será sempre assim. O que as distingue são as suas características de origem – o facto de ser portátil e poder transportar esta “loja” para onde quiser, apresentar muita variedade de estilos musicais, edições exclusivas. Num futuro gostava muito de fazer edições exclusivas só para estas caixas. Mas claro que tem de ser um passo de cada vez.

E terão sempre este formato?

Em princípio sim. São adequadas para o que queremos fazer. Já me falaram de uma espécie de ponto de escuta, com um iPad, mas acontece que no meio dos concertos pode não ser muito viável, pelo barulho em redor.

E espaço para uma garrafa de tequila?

Não sou muito de beber, mas para uma de vinho tinto quem sabe.

Fugindo um pouco do registo específico da Caixa de Som, há alguma fixação tua por caixas?

Tenho uma fixação é por arrumação e por organização. Tenho caixas para tudo – caixas para os discos externos, para os cabos, para os jogos da Playstation, para os passes dos concertos. Gosto das caixas para ter as coisas arrumadas. Sei sempre onde estão as coisas.

E por caixas de música? Aquelas edições especiais de coleccionador?

Nem por isso. Por baterias sim. Também fui pai muito cedo e desde muito cedo tive rocas, chupetas e outras porcarias no chão de casa e nunca conseguia ter muito as minhas coisas dentro de casa, por isso nunca tive essa preocupação de coleccionar. Mas, mesmo assim, gosto muito de coisas feitas à mão, de edições especiais dos discos, edições numeradas. Tenho uma edição especial da Björk, com os singles e que parecem uns CD's muito pequeninos. Comprei por volta de 2000. Não tinha muito dinheiro, juntei um pouco e comprei essa edição. Gosto também muito de uma caixa fantástica do Tim Maia, todas as caixas especiais do Prince, dos Beatles também algumas. Nem sempre ouço o que está lá, mas gosto delas enquanto objectos e claro esta caixa que tenho aqui do Vihls com a Martha Cooper, que foi uma das primeiras fotógrafas a documentar o movimento hip-hop em NY, e que foi um projecto que eles fizeram com fotografias; ainda aqui está o rolo, sendo que esta é a nº1 de uma edição de 40 assinado por eles. Bem, talvez, tenha uma queda por caixas. Fico maluco com estas cenas.

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