Fotografias: Bernardo Gramaxo e Sérgio Santos (imagens do vídeo).
A badass de sorriso gigante
À semelhança do que a Umbigo fez com outros festivais, dá-se início a uma trilogia de apresentação da edição deste ano do Vodafone Mexefest. Aceitámos a boleia da nova Pussy Wagon e contagiados por uma boa disposição e energia inesgotável deixámos a conversa seguir o seu rumo. Das memórias dos primeiros concertos, aos mais recentes vídeos e algumas das suas influências, aqui está Da Chick; porque se pode ser uma grande badass com sorriso ainda mais gigante.
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Acabas de lançar o vídeo Don't Touch My Soul, como foi a gravação?
É um vídeo que vai surpreender muita gente e surpreendeu-me também a mim. Sou eu, os boys, mais personagens, mas num contexto completamente diferente do que temos feito, que é muita dança, sorriso, muita alegria, muita cor. Este acaba por ser um bocado o oposto. É uma coisa séria. É uma música das mais sérias e profundas que tenho do álbum (Chick To Chick). O primeiro single (Do tha Clap) foi como que o reconhecimento da party girl, a festa, o glam, a dança. Este segundo é uma Da Chick mais soul a falar de assuntos menos party. Apresenta cenas um bocado mais fora, onde as acções e os espaços são muito estranhos. Foi brutal gravá-lo. Fomos para Montargil, na barragem, um fim-de-semana inteiro. Alguém iria imaginar um vídeo da Da Chick numa barragem? E alguém iria imaginar um vídeo sem risos, sem danças, sem coreografias? Nesse sentido é estranho e uma verdadeira surpresa.
Do que conhecemos de ti há uma preocupação muito grande com a componente visual. Como a integras na componente musical e como selecionas as pessoas com quem gostas de trabalhar?
No Don't Touch My Soul foi o Bruno Ferreira que se propôs filmar. Também tenho a sorte de conhecer pessoas nesta área e, ou por as conhecer ou por elas me conhecerem, as coisas têm funcionado bem. No caso de Do tha Clap, foi um convite meu ao Tiago Ribeiro da Bold. Neste, com o Bruno, corresponde a um desejo de mudança da Da Chick. O Bruno acaba por corresponder a esse desejo. Ele tem sempre umas ideias um bocado fora, que encaixaram naquilo que pretendia. O processo acaba por ser muito simples. Como não sou a realizadora apresento uma ou duas ideias gerais e depois trabalhamos em conjunto, não gosto de encomendar um vídeo. Prefiro dar somente o meu input.
Como referiste, Don't Touch My Soul representa um lado mais soul. Porquê mostrá-lo agora?
Antes de pensar cantar já escrevia. Nessa altura ouvia muito jazz e soul e tinha sempre comigo um bloco de notas onde apontava uma frase, uma palavra, o que fosse. Essa vertente mais calma, se quiseres, eu já a tinha. Mas quando comecei este projecto foi o electro que sobressaiu de início. Com o meu primeiro EP, na Discotexas, e quando as coisas começam a tornar-se um pouco mais sérias, digamos assim, percebi que o que queria fazer era uma coisa mais disco, mais funky. No início, não cantava, diria que era mais rap. Mas, naturalmente comecei a soltar-me, a ganhar mais confiança. Foi uma fase de descoberta. No álbum, tanto a vertente mais soul, como a disco ou a funk, acabam por se encaixar. A brincadeira também é essa é Chick To Chick, são duas Da Chik, mas são a mesma. Gostava, de um dia, gravar um álbum mais jazzy. Não é que pense muito nisso. São coisas que vão acontecendo.
Desde o primeiro momento, o de cantar sobre os beats. Até agora quais os que mais te marcaram?
Desde que comecei a trabalhar com a Discotexas. Foi quando disse – eu quero fazer isto e vou levar isto mais a sério. Deixou simplesmente de ser fazer uma música e metê-la no Myspace. Agora, sinto que tenho um à vontade maior. Cada vez menos me preocupo em escrever, em abordar as pessoas para trabalhar. Faço o que me apetece e se calhar quando comecei havia receios. Ainda me lembro do primeiro email que enviei ao Moulinex para o convidar a trabalhar comigo. Foi estilo – Eh meu Deus o que estou a fazer?! Agora falo com outra confiança, sobretudo confiança naquilo que estou a dizer. Não tenho medo em receber as respostas. Ganhei confiança também por ter passado a cantar, por ter mais à vontade em palco.
Centrando-nos um pouco na tua actuação no Vodafone Mexefest. Ainda nos lembramos bem de há dois anos durante o Picnic da Discotexas.
Vai ser terceira vez no Mexefest. A primeira com a Discotexas Band, a segunda no tal picnic, e agora a solo, desta vez no Tanque (28 de Novembro, 22:20 - 23:10). Vai ser um live um pouco diferente. Não gosto só de tocar os originais, há sempre momentos para umas piadas pelo meio, uns breaks. Gosto sempre de adequar o live a cada momento. Neste Verão fui tocar ao Outjazz e preparei um live mais jazzy, não mudei as músicas, mas alterei o contexto, os breaks, as intros. Gosto de fazer essas adaptações. Para o Mexefest, vou rebentar com aquilo tudo. Pensei – calma lá: Peaches, aquilo vai estar tudo em altas e eu vou chegar ali como Kool & The Gang. Não senhora! Pensei – isto tem que ser um live muito forte. Estará o Cut Slack no baixo e guitarra, como aconteceu no Super Bock Super Rock e de resto é os meus boys e os meus sopros, o Mike el Nite e, claro, eu. E vou ter uma surpresa, uma special appearance.
Seja em que espaço for, Musicbox, Coliseu ou mesmo n’A Outra Face da Lua nota-se um grande à vontade. Como é que é?
No primeiro concerto, no Mini Mercado em Santos, cantei as duas primeiras canções que fiz a My Booty e a Kaboom. Ainda tenho vídeos dessa altura e eu estava apavorada a agarrar o microfone, a cantar toda enconada, desculpa a expressão. Mas, desde essa altura mudei completamente. No meio disco e funk não é para estar ali paradinhos, faz parte do ambiente. Além disso, tenho dois dançarinos em palco comigo, por isso só pode dar festa. Por outro lado, ganhei um carinho muito especial por isto e não estava à espera de tornar a minha vida no que é. De repente não quero fazer outra coisa. Por isso, o que transmito em palco é o facto de estar a fazer o que me apetece, o que eu gosto e que as pessoas gostam. E também não sei fazer isto de outra forma. Mal começo a ouvir as minhas músicas eu fico logo maluca e depois não é só o facto de estarem mais ou menos pessoas. Tem graça que quando as pessoas estão a aderir menos ou estão mais distraídas isso ainda me dá mais pica, às vezes torno-me até mais violenta, um pouco mais agressiva.
E de todas essas actuações quais as que te trazem melhores recordações?
Uma delas foi no Mexefest e tocar no Coliseu. Outra foi abrir para Earth, Wind & Fire. Quando recebi essa notícia pensei que estavam a gozar comigo e nem queria acreditar – abrir um concerto desta dimensão? Impossível. Se me perguntares uma banda funk dos anos 70 ou 80 eu responderia imediatamente Earth, Wind & Fire. Sou fã, mesmo que só tenha um elemento da formação original, mas não deixa de ser o que é. E teve piada – o público sentado, para passar uma noite com a família e leva com uma miúda aos berros em palco. Teve piada, não sei. Começaram todos sentados e depois ficou tudo chocado – como é que conseguiste levantar esta gente? Eu mal comecei o concerto disse logo – é para levantar faz favor. Eu gosto disso, de ter um público que não reage imediatamente e depois naturalmente adere.
Seguindo uma ideia da edição deste ano do Mexefest, que roteiro é que gostarias de propor?
Confesso que não sou a pessoa mais atenta às coisas novas. Não sou aquele radar. Descobri muitas a consultar o programa. Assim, no dia 27 começaria por MahMundi, até porque o Tanque vai estar fortíssimo. É uma onda Cansei de Ser Sexy (CSS) e faz-me lembrar a Rita Lee. Cheguei a ver CSS no Coliseu. Era fã, não sei se chegaram a ser inspiração para mim, mas foi na altura que comecei a fazer música e para mim eram das bandas com que mais me identificava. Gostava de andar entre Márcia e Roots Manuva e depois iria ver o Benjamin Clementine, por ter ouvido falar muito bem da actuação no SuperBock. Ele no piano e uma voz do caraças. O dia 28 também está fortíssimo. Tanque claro, e começava logo com os DJ’s da Mary B e Ricardo Guerra que sei que vão passar um bom som; a seguir ia ver os Beautify Junkyards, tenho um carinho especial por esta banda e apesar de ninguém pensar que ouviria um cruzamento entre psicadelismo e folk gosto deles, e ainda mais quando é bem feito. Depois Best Youth, dividia-me entre eles e os Beautify. Se não houvesse Da Chick iria ver a Selma [Uamusse] e os Glockenwise: os miúdos dão-lhe bem e gosto do novo single. E Peaches, com quem toquei há uns anos uma música no Plano B, no Porto, com a Discotexas Band, quando o Luís fez uma versão de Maniac. Era eu que cantava essa versão, mas nesse dia fomos nós as duas. Para mim a Peaches é sem dúvida a cabeça de cartaz do Mexefest. A Peaches é uma das grandes influências minhas, juntamente com Erykah Baduh, embora não tenham muito a ver uma com a outra. Tive oportunidade de dizer isso mesmo à Peaches quando estive no backstage, e também no ano em que participei no Red Bull Academy; duas das mentoras eram elas. Depois, no Palácio Foz, o Seven Davis jr; das músicas que conheço faz-me lembrar Dâm-Funk. Volto ao Tanque para o Meu Kamba, o novo projecto do Marsiano. Quando comecei ele tinha o projecto Double D-Force, quando ainda estava na Holanda. Estou certa que vai ser um reencontro feliz.