MÚSICA

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Cronópios sentam-se em esplanada, cruzam as pernas. Na mesa um postal, um copo de vinho tinto e uma caneta. Ambas mãos ocupadas. As memórias e a sua impressão por bic fina preta nunca é um acto em vão. São indolentes e crescem bem como tal, despreocupados, sem sentido de organização e orientação e com muito pouca vontade em desenhar calendário. A ida a um festival de música, em particular ao Vodafone Mexefest, exponencia as suas peculiaridades. Convidam a utilizar aplicação, agradecem, mas não aceitam. Delineiam margens com memórias.

Ao longo do Tejo, são companheiros. A luz, clara. Tudo está pintado de fresco. A 25 de Abril, cravo vivo. A cúpula da Estrela, dourada como Samarcanda. E a Sociedade de Geografia de Lisboa? Expectante. Quem viu, na primeira passagem da artista pelo nosso país, sabe. Quem não, anseia. É Haruko. São melodias doces? Sem dúvida, como libélulas em toalha de praia. Poisam. Na sua melancolia. Ser, querer ser no mesmo plano. Traçar coordenadas, sejam longitudinais ou latitudinais, com preguiça. Como consegue? Sentimento. O que canta é.

Estão e não. Cronópios viajam. E no tempo. Na Figueira da Foz, 1993. E de repente outra vez em si. Simples, Savages. Energia, atitude e música, muita. Arrebatam, tornando qualquer comparação a Siouxsie & the Banshees, Joy Division ou Peter Murphy desnecessária.

Decisões, encontros inesperados. Dos segundos fala-se de amigos, muitos e agora no estrangeiro. Saudade. Das primeiras? Elas aparecem. Fica concerto a meio, e guarda-se folha em branco, um doc1. Só para elas – Savages. Esperar que regressem. São banda Umbigo.

Subir boulevard e encontrar o maior deles todos – John Grant. Abraça-te com um cachecol do tamanho do mundo, aconchega-te com a tua manta de borbotos e ainda te convida para uma partida 1x1 em basquetebol. Ele suspende o tempo e filtra o sol. Em dias claros canta-se e dança-se ao som de Queen of Denmark, GMF, Glacier e em noite gelada de domingo, também. Abdica-se. Dá-se-lhe. Tudo. Assumem-se dúvidas existenciais. John Grant já tinha feito o mesmo por nós.

Pede-se sempre mais uma – “imperial bem fresquinha se faz favor”. Já se sabe o resultado. Não vai cair bem. Nada bem. Woodkid foi a última cerveja. Egoísmo de quem escreve? Muito. Excelente atitude em palco, precursões e sopros em alta. O tom eufórico está lá. São convocados Neptuno, Zeus e Júpiter e o Coliseu inteiro responde presente. Egoísmo não mata. Celebrar muito menos. Mas...

Continua-se sob a manta de borboto. Abdicar, dar. E assim lentamente, até um qualquer bar de Lisboa. Que música é que está a passar? Será Glacier? Talvez. Ou qualquer outra de John Grant. (continua)

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