Mais uma pérola do nosso grande Império de há 500 anos que nenhum português se esquece quando viaja (o Império, não Malaca, que na escola é mais Goa, Damão e Diu). Quando estamos em casa vai tudo de mal a pior, é tudo um atraso e uma vergonha, mas basta o português pisar solo estrangeiro para inchar de orgulho dos tempos das armas e barões assinalados e dos mares nunca dantes navegados.
Malaca é um desses sítios – tens de ir, tens de ver, a porta, a igreja, a vila portuguesa, tens de ir, tens de ver. Bom. Malaca é talvez das terras mais sobrevalorizadas por estes lados. Aquilo que no mapa parece cobrir alguns quilómetros de história, resume-se a um centro de poucos metros quadrados e dez maus museus por cada um.
Entra-se pel'A Famosa porta, ali construída pelos nossos bravos lusos no século XVI e depois destruída e reconstruída pelos holandeses, ou seja, um monte de pedras que enquadra uma boa selfie. Sobe-se à Igreja de São Paulo, outro ícone da cidade, afinal mais pedras mal conservadas, mal explicadas e a cheirar a casa-de-banho.
Depois os museus, mesmo aqui ao lado. Um bilhete de pouco mais de dois euros dá acesso a uns cinco ou sete. Desconfio. Parece que o Governo de Malaca quis mostrar obra e cultura e desatou a fazer museus em catadupa. Pena é que não bastam paredes e um torniquete para compensar um dia perdido. A maioria das colecções, sendo que o todo é pouca coisa, é desinteressante e com pouca informação. No museu de História os quadros e legendas repetem-se (sobretudo as críticas aos bárbaros que vieram destruir esta bonita civilização sob a bandeira do cristianismo – nós), no da Educação mostram miúdos de cera na escola, no Marítimo várias representações de feijão e pimenta para ocupar os espaços vazios – não chegam. Vale o bilhete talvez a parte etnográfica do museu que mostra uma casa tradicional malaia. E é isto.
Mas depois do baque (não) cultural temos ainda imensa coisa para ver durante os próximos dias. É dar uma volta na praça holandesa de pedra vermelha, ver uns templos e visitar uma senhora que mostra a sua casa tradicional Nyonia a turistas. Ah. Já acabou.
Felizmente guardei um dia inteiro para gastar na vila portuguesa. Ah. Também já foi. O museu, que tem ar de pó e pouco mais, está fechado, a vila vazia, as músicas e danças tradicionais são afinal karaoke coreano. Vale-nos que os restaurantes estão cheios de pratos tipicamente portugueses para matar saudades como noodles fritos com ovo, caranguejo com pimenta ou arroz frito com calamares. Teve piada foi ver malaios a falar português, esses cinco minutos sim senhor, já valeram a viagem de táxi a preço londrino.
Vá, é bonitinha a cidade, é. Mas daí a património da UNESCO, não percebi. Sim, tens de ver, mas um dia chegará, o resto é piscina.
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* Este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.