Depois de uma visita relâmpago a Ipoh, por causa do nome engraçado e da galinha com pimenta preta, chegamos de noite às Cameron Highlands e descobrimos uma vila pequena cheia de vida no meio das montanhas. (Cheia em proporção vila alentejana e não asiática.)
Diz que há 14 trails por aqui, ou seja, caminhadas de montanha selva adentro. O nosso recepcionista do hostel garante que não, que o melhor mesmo é comprar as tours que ele vende.
São estas caminhadas que atraem milhares de turistas por ano às Cameron Highlands, contudo, metade dos trilhos está ao abandono, faltam indicações, há árvores derrubadas pelo caminho, cães selvagens e assaltos à faca. Um mimo turístico.
Não havendo mais nada a fazer aqui, e como caminheiros experimentadíssimos que somos, decidimo-nos por arriscar. Evitámos apenas os que metem cães e homens selvagens.
Grande parte do caminho é mata cerrada ou subida de montanha a cordas e lama, a minha primeira experiência no género – que caminhar a Santiago é dureza mas não me vi pendurada em ramos nem a escalar rocha disfarçada de natureza. Lá dentro ouve-se muito tipo de bicho, do macaco ao pássaro passando sobretudo pelo não-faço-a-mínima-ideia. E isso dá aquela adrenalina boa a que alguns poderiam eventualmente chamar de medo.
Retiremos os trilhos mal-tratados e sobra-nos comida indiana com Nestum gelado para beber. É, o melhor prato foi o Folha de Bananeira: estendem-nos a dita a fazer de prato, põem em roda montinhos de vegetais, arroz e carne do que se queira (o que para mim quer dizer cabrito) e os mais bravos, ou mais indianos, atacarão à mão. Nós vá, de colher por enquanto, porque ter arroz com molho até aos cotovelos não é a sensação que mais me atrai. Que uma coisa é comer baratas e gafanhotos, outra é arroz e molho à mão, tenham paciência.
Aqui também há chá e plantações de morangos, hectares disso.
Subimos os montes, comemos Naan diários e é tempo de ir à capital ver prédios dos grandes. É que este fim-de-semana é cá feriado e acabaram de nos duplicar o preço do quarto. Vamos andando.
–
* Este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.