Fotografias: Rita Delille.
Rua do Sol. Descer as escadas pelo longo corrimão vermelho de madeira. Escadas estreitas, como os lotes do Porto, e desembocar nas casas de granito e de janelas em guilhotina. A opção seria subir à Batalha ou no sentido oposto às Fontainhas, Vandoma e tropeçar no rio. A Rita, a Rita Braga, plana, voa à bolina da imaginação e de desejos incontidos. Daí até à praia de Miramar, à Capela do Senhor da Pedra, para filmar o vídeo Erosão foi um salto. Como tantos outros que foi dando anteriormente. Tentar cartografar as andanças da Rita é como riscar uma folha quando se pega num marcador pela primeira vez. Qualquer esperança em encontrar linha recta afigura-se tão infrutífera como achar dia sem vento numa praia do norte.
Em linguagem gourmet, há uma joie de vivre, uma alegria que transparece do seu olhar, do seu sorriso e que lhe é imagem indissociável. É impulso íntimo que a faz partir – de Lisboa, do Porto, de São Paulo, dos Estados Unidos, da Suécia. O mundo foi feito sem fronteiras e a Rita está aqui para nos lembrar. Sair, experimentar. Nova Iorque, Chicago, São Francisco, Tucson, Seattle cada poiso serve para concerto. Complicar é adiar. Descobrir, tocar, seguir hipnotizada pelo magnetismo que cada novo lugar provoca. Um contacto de um contacto, uma mensagem via Myspace, quando outrora era a rede mais utilizada pelos músicos, e amizades para o resto da vida – Chris Carlone e respectivo alter-ego Borts Minorts. Milhas e mais milhas e no final uma tabuleta a indicar saída. Rita a cantora deportada, como por vezes se gosta de auto intitular. Experiências menos agradáveis, mas sobretudo pretexto para novos destinos. O Porto e o seu lado surreal, a Oficina Arara, os HHy & The Macumbas e os Von Calhau. Aqui, outro amigo de um amigo, um quarto, nova cidade – São Paulo. É energia é ser frenético. Já cantava Tim Maia – “A vida é curta | Pode crer que vou sair por aí”. Na metrópole, neste microcosmos do mundo, pretexto para lançar o mais recente álbum – Gringo in São Paulo. Olhar ao mesmo tempo deslumbrado pela grandeza e diversidade, mas também uma opinião de quem é de fora. Sentido crítico, um ponto de interrogação sobre a digitalização das cidades e respectivos mimetismos acéfalos.
Gringo in São Paulo, trabalho posterior a Cherries That Went To The Police (2011), irá ser apresentado dia 26 de Março, na ZDB. No aquário, mais do que a um concerto de melodias simples e bem construídas e vocalizações em diferentes registos, será uma oportunidade para entrar numa história, partilhar os encontros e desencontros de uma viagem que não terá fim. É pretexto para ficarmos a conhecer a mais famosa ligação balcânica, com sede em Malmo – MårDiČu, as vestes extravagantes e postura irreverente deste trio e submergir nas projecções de Martha Colburn. Se encontrarem instrumentos originais também não estranhem é o resultado do workshop na Zaratran com McCloud Zicmuse.
E um dia, se virem lugar vazio em comboio esgotado já sabem – é a Rita que está a chegar.
RITA BRAGA – Lançamento de Gringo in São Paulo com as convidadas especiais MårDiČu
Entrada: €6 | Entrada livre a sócios | Bilhetes disponíveis na Flur e Tabacaria Martins