FOTOGRAFIA

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Fotografia de capa: São Paulo, 1945 – Thomaz Farkas.

Merece a pena uma visita à exposição de Fotografia Brasileira (1940-1964) integrada no Próximo Futuro, comissariada por Samuel Titan Jr, Ludger Derenthal e António Pinto Ribeiro, que está a decorrer na Fundação Gulbenkian sobre a construção e profunda transformação do Brasil no período de 25 anos. Trata-se de uma mostra itinerante que reúne uma centena de obras de quatro autores que teve uma primeira versão em Berlim e que irá de seguida para Paris.

O que faz uma exposição moderna no Próximo Futuro? Pinto Ribeiro explica que o programa não se limita a mostrar o que se faz hoje mas que tem também a preocupação de apresentar trabalhos que fazem parte da arqueologia das histórias de artes locais; dado que a contemporaneidade não parte do zero, do nada mas é feita de continuidades e rupturas, revelando a história de um País num período de mudança vertiginosa e ambiguidade do ponto de vista artístico, social e cultural.

Dos quatro fotógrafos, o único natural do Brasil é José Medeiros; os restantes são imigrantes de origem europeia: Thomaz Farkas da Hungria; Marcel Gautherot de Paris e Hans Günter Flieg, ainda presente entre nós, é judeu alemão, tendo-se especializado em fotografia industrial. Contudo a aparente frieza e objetividade não impede que da sua obra transpareçam estruturas a sugerirem formas orgânicas e vegetais. Olhando para as suas fotografias encontramos o artista Flieg que sempre se recusou a ser. Qualquer dos quatro tem em comum o tratamento do mesmo suporte da linguagem – fotografia a preto e branco – e o palco cenográfico para a inspiração das suas peças – o Brasil. No entanto, cada um utilizou diferentes técnicas, criando um estilo próprio e uma linguagem diferente em prol da diversidade.

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"Exposição fascinante por ser um testemunho de contradições da Modernidade Brasileira" (Pinto Ribeiro)

E, aí reside a importância da exposição com composições assentes numa variedade estilística. O critério que orientou a escolha baseou-se na diversidade. Escolhemos estes quatro fotógrafos pela diversidade e caráter complementar dos seus trabalhos. Não há um único sentido de moderno, a partir dos anos 30, capaz de explicar o desenvolvimento da fotografia no Brasil. A própria noção de modernidade tem definições contraditórias. Porém, na série de trabalhos, o conceito de modernidade nem sempre surge com toda a evidência, havendo mesmo diferenças substanciais sobretudo entre José Medeiros e os três restantes vindos da Europa.

Farkas, o artista mais conhecido e vanguardista de influência europeia, defendeu a fotografia como linguagem autónoma e como forma de arte. Interessado em formas puras e de tendência abstrata, a sua visão formalista marca de forma coerente o início da sua carreira. No plano da composição destacam-se os seus estudos de uma imensa liberdade, como o desenho de pormenor das telhas em que o jogo de padrões formais em contraluz implica um minucioso trabalho de laboratório. Gautherot não chega a concluir o curso de arquitetura, apesar desta disciplina estar presente no seu trabalho. Foi admirador das obras de Le Corbusier e de Mies Van der Roh, teve acesso à própria construção de Brasília de Niemeyer, sendo o autor de imagens icónicas. Gautherot é assim o grande leitor do modernismo e da síntese histórica que as vanguardas dos anos 20 propõem. José Medeiros é um fotojornalista por excelência, numa maior proximidade a Cartier-Bresson, foi o fotógrafo da cidade, abrangendo um universo temático alargado.

A montagem das fotografias é rigorosamente apresentada, onde as obras de cada autor ocupam no plano metodológico o espaço de cada espaço da sala, isto é não existe nenhum cruzamento das fotografias dos diferentes autores. Cada espaço é reservado a um autor. Talvez fizesse sentido, em certos momentos, agrupar na mesma sala, imagens de autores diferentes, como por exemplo relativo às construções da cidade de Brasília de Niemeyer vista pelas máquinas de Farkas e Gautherot. Aliás, a modernidade brasileira dos anos 50 é sobretudo Brasília, onde a arquitetura é um dos principais reflexos de um futuro novo. Seria mais esclarecedor reunir no mesmo espaço as suas perspetivas diferentes face aos mesmos cenários oferecendo dois tipos de cidades. Cada um tem um jeito muito peculiar de olhar, que é particularmente evidente quando se interessam pelos mesmos temas como é este o caso. Enquanto o primeiro introduz nos amplos espaços uma movimentação humana, próxima de narrativas cinematográficas, onde Brasília desordenada tornava-se numa festa, o francês privilegia a arquitetura e o vazio, criando um paralelismo entre a geometria das formas da arquitetura e as folhas de carnaúba num puro deleite estético.

Modernidades: Fotografia Brasileira (1940-1964)

Curadoria: Samuel Titan Jr., Ludger Derenthal e António Pinto Ribeiro

21 fevereiro a 19 abril 2015
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

6 maio a 26 julho 2015
Delegação em França da Fundação Calouste Gulbenkian, Paris

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