FOTOGRAFIA

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Fotografia de capa: João Louro, Runaway Car Crashed#5 (detalhe).

Duas Coleções de fotografia que interagem uma na outra

No Espaço de Arte do Novo Banco, no Marquês de Pombal, encontra-se uma excelente exposição sob a curadoria de Lorena Martínez de Corral digna de ser vista num olhar inédito sobre as duas coleções. Esta inclui um conjunto de sessenta trabalhos de meia centena de artistas portugueses e espanhóis oriundos de coleções de arte, a da Fundação Coca-Cola Espanha e a portuguesa do Novo Banco, e que irão permanecer até Setembro.

Algumas dessas obras já são sobejamente conhecidas, mas nunca é demais tornar a vê-las, conseguindo-se mesmo obter novas leituras face à mesma imagem. Grande parte das coleções é surpreendente porque obedeceu a critérios de qualidade rigorosos. Contudo, trata-se de dois pontos de olhares que têm propósitos e objetivos diferentes quanto ao seu acervo embora ambas reflitam a época atual através da fotografia contemporânea.

A coleção espanhola está sobretudo focada nos autores ibéricos dentro de um conceito mais alargado, reunindo diferentes suportes visuais utilizados, desde a escultura ao vídeo, passando pela pintura e fotografia; enquanto a portuguesa concentra-se na área da fotografia contemporânea internacional, com autores representativos de gerações diferentes. O enquadramento desta coleção começou a ser constituído com a aquisição de obras marcantes, como: uma caixa de luz de Jeff Wall; um auto-retrato de C. Sherman e uma biblioteca de C. Höffer.

Apesar de não existir uma relação entre a presente exposição e a Arco, a qual irá ter lugar em Lisboa é uma feliz coincidência. A comissária explica que pretendeu "pôr em diálogo obras de fotografia de artistas portugueses e espanhóis, confrontando diferentes visões da criação contemporânea. A intenção deste diálogo foi mostrar os pontos de coincidência entre as duas coleções" como o próprio título da mostra indica. Segundo Lorena de Corral a fotografia foi o primeiro meio visual de massas e é a chave de toda a produção técnica de imagens.

"A fotografia moldou a memória do nosso tempo" (cit. L. de Corral)

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A exposição abre com duas fotografias do artista Julião Sarmento, ambas da mesma série American Landscape, seguida do trabalho mais abstrato e concetual onde a desfocagem é deliberada Reflexió de Ignasi Aballí; mais adiante deparamo-nos com uma peça Runaway car Crashed #5 de João Louro. A determinada altura, Martínez realiza pontes geracionais como entre Daniel Canogar e Daniel Blaufuks. Pode ainda ver-se a obra Uma Casa e Outros Sítios mais de Pedro Cabrita Reis composta por um conjunto de imagens de formato reduzido, distribuídas tipo puzzle onde o autor surge numa permanente auto-representação e Room with a View de Nuno Cera; observa-se duas fotografias de H. Almeida, muito ao seu gosto de uma marca distinta, em que se fez fotografar com o marido para compor os seus singulares auto-retratos. Existe também um rosto Julia de uma expressividade única, retratado por Gonnord. É um artista francês que desenvolveu a sua carreira em Espanha e fez ainda uma série sobre Portugal. Junto desta obra surge a instalação de V. Araújo.

Alguns dos fotógrafos repartem-se pelas duas coleções, são eles: G. Albergaria; J. Penalva; L. Palma; Nuno Cera e o espanhol J. M. Ballester. Alguns registos fotográficos evidenciam-se como pinturas com imagens iconográficas extremamente fortes dada a força imagética que emanam e transmitem. Outros são de uma maior complexidade porque mais concetual onde a imagem abstrata tem dificuldade em viver por si própria.

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Numa vertente formal e estética o atual universo da fotografia funciona como uma instalação afastando-se da tradicional bidimensionalidade, passando a existir como peças tridimensionais, alargando o espaço de visão numa pluralidade de olhares. Isto para já não referir o alargamento do conceito de imagem, por exemplo à disciplina do vídeo, como é revelador o de F. César e R. Toscano. Estamos cada vez mais perante um universo híbrido, na confluência de um mundo de artistas plásticos e não propriamente de fotógrafos. Isto é, o terreno da fotografia cruza-se sistematicamente com o discurso dos criadores em propostas de vanguarda. Nalguns casos, torna-se evidente essa fusão com outros media, como o trabalho na área do desenho na fotografia em G. Albergaria.

Estas coleções estão subordinadas a diferentes temáticas, abarcando um vasto campo de perspetivas onde a criação poética é acompanhada dos efeitos de luz transparecendo o lugar do afeto no encontro; o retrato; a memória e os objetos; a realidade e a ficção; a paisagem urbana e social e a arquitetura. A panóplia de assuntos é a razão de ser desta exposição que tanto nos remete para as marcas do passado como para os aspetos do quotidiano.

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