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Fotografia de capa: Carlos DiQuercia.

“Anita dos nove ofícios”

Tirou-me uma fotografia e eu apaixonei-me. Sabem aquelas paixões platónicas que não querem levar ninguém para a cama? É mesmo isso. A Ana tem qualquer coisa que quando fotografa também retrata, e aquela primeira foto que me fez ganhou-me fé na sua emoção de ver com olhos de ver as coisas que interessam. Mas chega de lamechices, que eu também consigo ser pragmático e obtuso. Marquei com ela perto do local onde tem um dos seus múltiplos trabalhos e que nem casal num date pseudo-hipster, lançámos-nos numa conversa com vista para a ponte Vasco da Gama. Juntos com um i-phone entre nós, a Ana falou de si e do que realmente interessa, os porquês dos afazeres das coisas foram o tema dividido em nove ofícios.

Mas quem é esta tipa?

A Ana Morais é uma mulher dos sete ofícios, ou nove, ou mais se pesquisarem bem. Tem 29 anos e nasceu em Mirandela, depois de estudar por Coimbra e Berlim, acabou por vir parar a Lisboa onde entre outras coisas trabalha num banco de investimento como especialista em mercados financeiros. Tem um site onde retrata o que vai vendo do mundo que a rodeia.

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Uma pergunta da anterior entrevistada no Café dos Artistas, a designer Rita Gomes aka Wasted Rita

Parecendo já uma tradição, gosto de lançar perguntas entre convidados e muitas vezes as perguntas acertam na mouche, neste caso a pergunta que ficou para a Ana foi: Se pudesses mudar a pessoa à tua frente, que artista escolherias para conversar? “Talvez um dos fotógrafos de referência portuguesa e do fotojornalismo, que até tenho seguido muito, o João Paulo Pimenta. É um fotógrafo do Público, que em termos de fotojornalismo português é uma das minhas referências”.

A Anita é mirandelense

Nascida em Mirandela é-se mirandense e não mirandês, designação relativa aos habitantes de Miranda do Douro. Explicações feitas, perguntei à Ana se foi sempre assim a fazer várias coisas ao mesmo tempo. Em pequena, também tinhas bichos carpinteiros? “Eu sempre fui assim e a minha mãe estava sempre a dizer que eu fazia demasiadas coisas. Na altura, em Mirandela, era tudo mais restrito, não havia tantas oportunidades, eu dirigia-me mais para o desporto.” Mas de onde vem o nome anita dos sete ofícios? “Isso foram os meus amigos e colegas de trabalho, que estavam sempre a dizer que eu era a mulher dos sete ofícios, usavam muito essa expressão para brincar comigo, e eu acho que os exageros dão sempre bons títulos. Então decidi intitular o blog que eu já arrastava há algum tempo, com pouco conteúdo e sem grande estrutura com o nome mulher dos sete ofícios. Um blog para mostrar que é muito usual existirem pessoas com sete ofícios e com escolhas interessantíssimas.” Mas achas que é mais comum agora, um sinal dos tempos, as pessoas terem múltiplos interesses? “Cada vez mais, acho que é algo que está em crescimento. Para mim é positivo, e sinal que o comodismo não é geral. Sete ofícios é uma expressão com uma origem de conotação negativa e tem várias perspectivas, tu consegues fazer muita coisa mas não és bom em nenhuma, este é o peso da expressão. A questão é se isso é verdade ou não.”

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Os nove ofícios da Anita

Ao pensar na Ana e no seu alter-ego Anita, tive de me lembrar dos livros da Anita, da transformação de mulher dos sete ofícios para anita dos sete ofícios, algo recente na vida da Ana, e os livros em que a personagem Anita descobre partes do mundo ou novos amigos ou até novas funções, era inevitável. Pus-me a contá-los e escolhi nove ofícios que davam uma colecção de nove títulos de livros.

1 - Anita serve às mesas

“Fui empregada de mesa por vários motivos, coloco isso no meu currículo porque revela a experiência de relacionamento com várias pessoas, relações públicas diria.”

2 – Anita toca violino

“Tive aulas de violino durante a faculdade, um ano e tal, porque sempre foi um instrumento que me fascinou. Gostava de como ele soava.”

3 – Anita trabalha com crianças

“Fiz várias actividades, mas a primeira experiência foi uma colónia de férias na Biblioteca Municipal de Mirandela, em que cuidava de crianças na secção infantil. Depois, como tive uma educação católica, estive como animadora no grupo de jovens da igreja dos Salesianos, onde dava ATL’s de teatro e dança.”

4 – Anita fala alemão

“Falo, quer dizer, falava, neste momento falo um alemão adormecido. Quando estava em Berlim, falava fluentemente, de início começa enferrujado mas depois de começar a ouvir falar alemão, volta outra vez.”

5 – Anita fotografa

“Primeiro comecei a fotografar de forma amadora em Berlim - sobre a experiência na cidade, com uma HP compacta. Foi aí que começou a verdadeira paixão pela fotografia, vendo o que era capaz de fazer com uma pequena caixinha.” Mas também foste aprender? “Sim, fui fazendo o que o meu bolso podia pagar, muitos workshops técnicos, porque a parte conceptual fui tentando e falhando com a prática. Tirei a primeira parte do curso do site Olhares, e aprendi técnicas de estúdio com o primeiro fotógrafo de quem fui assistente, Paulo Pimenta. O Paulo também faz muito foto-reportagem e sempre o acompanhei. Foi uma fase excelente em que dormi pouco, mas aprendi muito, o trabalho durante o dia continuava e até cheguei a tirar férias para ter mais tempo de aprendizagem”.

6 – Anita canta numa banda

“Na realidade foram duas bandas de música tradicional, os Oxalá e os Trau Tear. Novas versões de clássicos tradicionais, mas também com algumas letras originais.”

7 – Anita tem um blog

“Eu não consigo desconectar completamente aquilo que eu vivo, daquilo que eu escrevo, mas não é apenas o que eu vivo, também reflecte o que eu aprendo dos outros – as aprendizagens, aquilo que eu vejo os outros passarem, e o comportamento social padrão, junto-lhe um pouco de ficção, faço um shake et voilà!”

8 – Anita organiza eventos

“Quando vim para Lisboa e fui trabalhar nesta empresa, que não é a área que desejei para mim, pois sempre disse que nunca teria um emprego sentada atrás de uma secretária, comecei a ver se haveria algo dentro da empresa que enriquecesse o meu currículo na área que sinto ter vocação. Então surgiu a oportunidade de criar uma associação direccionada aos colaboradores, para organizar eventos culturais ou desportivos, desde festas de carnaval, idas ao teatro ou festas na praia.”

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9 – Anita internacional clearing and settlement market specialist na BNP Paribas Securities Services

“É um cargo muito específico dentro da área financeira. Posso explicar mas é complicado para quem não conhece a área. Para simplificar, posso-te dizer que: Cada cliente tem um portfólio de títulos, aquilo em que investe, que por consequinte tem um gestor desse portfólio (como um gestor de conta num banco), depois tens os representantes dos mercados de cada país em que cliente quer investir. O meu departamento está entre esses dois, o gestor de conta e os representantes nos mercados financeiros, e o que eu faço é ser uma especialista de mercado que garante que cada investimento, cada transacção, está dentro das normas e regulamentações do país ou mercado onde ele está a investir.”

Por onde anda a Ana…

“Fábrica do Braço de Prata é um sítio onde vou com mais regularidade e para fotografar é mais na Lx Factory.”

Deixa-me uma pergunta para a próxima conversa…

O que é a identidade artística?

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