DIÁRIOS DO UMBIGO

  • none
  • none

27 de Dezembro de 2013. Ontem. Como hoje. Vivas as memórias, os reencontros, a celebração, a noite dos Tiago’s Vs Pedro’s, a entrada num novo ano por antecipação. Uma noite Black Balloon, no Lux, em homenagem aos The Smiths, para ser exacto ao The Queen Is Dead dos The Smiths, por Walter Benjamin e amigos. E a melodia que não sai da cabeça – We Might Never Fall in Love (…) but you can kiss me anyway. Vás de carro, a cruzar a estrada, a ler as gordas do Correio da Manhã em café manhoso e não te sai da cabeça, fazes parte daquele coro de mil gargantas na cave do Lux, a cantar a plenos plumões esta melodia meio doce, meio triste e perguntas – “Mas, que raio como é que o chavalo foi capaz?”.

É esta admiração pela pessoa e pela música, pela capacidade em adivinhar o dia da própria morte e de convocar os melhores espíritos que serviram de motivação para a entrevista ao Luís (Luís Nunes). Isto, e a certeza de uma ressurreição. Afinal, os bons nunca morrem, transformam-se.

A MORTE E RESPETIVO ENTERRO

12 de dezembro, parece-te uma boa data para morreres? Porquê?
Porque é sexta-feira e dá para dançar até de manhã. Essa é a principal razão.

Quais são as causas da tua morte? Naturais? Suicídio? Assalto seguido de assassinato? Outra?
É um claro suicídio.

Qual seria o elogio fúnebre que gostarias que te fizessem?
Que eu fui boa pessoa. É o melhor que poderiam dizer.

O que gostarias de ver escrito na tua lápide?
Walter Benjamin (2007-2014)

Pergunta à la Radar: que música gostarias de ouvir no teu funeral?
Monkey Gone To Heaven dos Pixies. This Monkey's Gone to Heaven. Acho que foi isso que respondi na Radar, por acaso.

A CELEBRAÇÃO

18 gajos contigo no palco do Lux. Estarão todos felizes por ver partir o Walter Benjamin? O que vão apresentar?
Não sei. Alguns são capazes de estar aliviados. Mas acho que nem toda a gente ficou convencida com a ideia. Ainda bem. Vamos apresentar um grupo de pessoas que gostam uns dos outros e que vão tocar juntos canções que eu escrevi.

Das memórias que guardas durante estes anos, que episódios podes contar e que te tenham marcado?
São tantas, é complicado meter 7 ou 8 anos em poucas linhas. Os concertos, os discos, as pessoas que conheci. As pessoas são a melhor memória. Foi bom ir tocar a uma cidade nas montanhas austríacas e ver uma casa cheia de gente atenta a ouvir canções. O mesmo aconteceu em Zurique. Tocar para a chama olímpica em Londres também foi engraçado. E concertos como o do Mercado da Ribeira ou o The Queen Is Dead no Lux. Tento guardar boas memórias de todos os meus dias.

Presumo que seja, também e muito, um exercício de memórias. É fácil transportar tantas para um concerto? Como foi todo o processo?
Eu tentei não pensar demasiado nisso, as canções carregam as suas histórias e ganham vida dentro do imaginário de cada um. Isso é o mais importante. São esses diferentes momentos, expressos nas canções, que quis transportar para o concerto.

A RESSURREIÇÃO

Acreditas na ressurreição? Se sim, em que é que te vais transmutar?
Claro, vêm aí coisas novas. Não posso entrar em demasiados detalhes mas quero focar-me a gravar um disco novo, em português. Ganhar uma perspectiva nova sobre a escrita, aprender coisas novas, evoluir e fazer canções que as pessoas consigam perceber.

Alentejo, essa grande planície é propícia para paz de espírito ou aumenta a arritmia? Quais as tuas inquietações actuais? Como vais dar a volta a isso?
O Alentejo é paz de espírito, é casa. Mudei-me de Londres directamente para o meio do Alentejo e nada poderia ser mais pacífico. Acordo com os pássaros todos os dias. As minhas inquietações são de ordem política, é algo que não consigo dar a volta sozinho. Nós, enquanto sociedade, batemos no fundo e cabe-nos a nós pôr-nos de pé.

Para ressurreição plena, quais os teus pedidos para 2015?
Amor.

Black Balloon XIX : THE DEATH OF WALTER BENJAMIN

12 de Dezembro de 2014 . 11h

Lux Frágil – Avenida Infante Dom Henrique

10 euros

ARTIGOS RELACIONADOS

Diários do Umbigo

Newsletter

Subscreva-me para o mantermos actualizado: