DIÁRIOS DO UMBIGO

  • none
  • none
  • none
  • none

Fotografias: Colectivo Inventado.

Liam, neozelandês, está em Lisboa há cinco anos. Técnico de Manutenção numa multinacional. O Tejo e Monsanto recordam-lhe os antípodas. Isso, as costeletas de cordeiro e bolo de kiwi que prepara com esmero em dias de raro convívio. Na empresa, o ontem é igual ao hoje e o amanhã não será muito diferente. Quando há algum problema, o procedimento tipo. Refugia-se atrás do computador e 15 minutos depois, a resposta – Yes, it’s possible. Trabalho-casa é o percurso. O verdadeiro commuter. Mal vê a porta da garagem fechar-se – “Home”, suspira. Assim entra, assim sai. Passa despercebido. Vive num terceiro andar num prédio de seis, num qualquer edifício entre o Lumiar e a Ameixoeira. Quando pede uma bica nem é curta, nem cheia. Compra os fatos na Mássimo Dutti. Ou seja, não há nada que o distinga.

“Cuidado! Não se mexa se faz favor.” A enfermeira do São José acaba de lhe cozer o sétimo ponto. Começou estranho o dia. O pesadelo recorrente, ataque de cangurus. Fez mossa. E a proximidade à mesa-de-cabeceira, claro está. Ainda anestesiado desce a Rua Arco da Graça em direcção ao Martim Moniz. Aí, uma estrutura em plena praça intriga-o. Um escadote de madeira, duas rodinhas, um guarda-sol vermelho e um microfone. A medo aproxima-se. Catarina e Margarida, alunas do Royal College of Art, duas das responsáveis pelo Colectivo Inventado, convidam-no a participar. Dá um salto espavorido. Com paciência, informam-no que a Fábrica de Sonhos foi o projecto vencedor do concurso destinado às universidades da edição deste ano da Trienal de Arquitectura de Lisboa. A intenção é que se sente e calmamente descreva, ao microfone, um sonho ou sonhos que tenha para Lisboa. Hesita, contorce-se, em cada ponto os cangurus. No entanto, lá vem a frase batida - Yes, it’s possible. Ganha coragem. Quer saber um pouco mais. Explicam-lhe que no âmbito do tema desta edição, Close – Closer, pretendem esbater a barreira entre o sonhado e o concretizado. Os sonhos não devem permanecer no campo do irrealizável, podem ser materializados, por exemplo, através de imagens projectadas. Indaga sobre o processo. Aí, Margarida e Catarina riem-se. Tudo começa numa conferência, em Fevereiro, de Beatrice Galilee. Fazem-lhe algumas perguntas e o assunto parece morrer. No entanto, encontro fortuito, em espaço inesperado da universidade com Rain, reacende a chama. Chamam Simon, Astrid e Clio. Cada um a sua nacionalidade, a sua especialidade e duas coisas em comum – a vontade em continuar e a falta de tempo. Bem três – a surpresa da vitória.

Liam agradece. Promete visitar o espaço no Palácio Sinel de Cordes e estar presente na festa de encerramento, dia 28 de Setembro. Na agenda aponta os outros espaços da Trienal, com a nota – I dream therefore I am!.

ARTIGOS RELACIONADOS

Diários do Umbigo

Newsletter

Subscreva-me para o mantermos actualizado: