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Gato…peixe…peixe…sushi. Sushi comprado à pressa num enorme restaurante japonês na Avenida 5 de Outubro num daqueles finais de tarde do começo do Verão e naquela hora em que o mesmo ainda se encontra vazio. E o improviso leva ao picnic no jardim da Gulbenkian ali ao lado. O mais bonito jardim da cidade para mim. Jardim algo zen, harmonioso, porém ocidental, com aquele zen que nós alguns ocidentais aprendemos a fazer ou a usufruir, o zen da contemplação ou manipulação da Arte. A Arte, assim com maiúscula, e músculo, como algo meio distante, etéreo, como um fotograma de um filme do Tarkovsky, o ídolo supremo dos bimbos armados em pseudo-intelectuais. Na verdade essa Arte possui dois extremos que se tocam; essa aura mítica e a intrujice. Como bom Dadá gosto de abolir a fronteira. Um jardim modernista, e com algo de zen que o modernismo possui, um zen ocidental. Mas voltemos ao sushi que devido ao guarda ter avisado que iam fechar em breve tivemos que comer metade à pressa. Ora o sushi não se come à pressa. Mas o vento frio ajudou a convencer e lá aceleramos o sushinic mesmo porque o tempo para o filme começar passava depressa como a espada de um samurai a cortar o ar. E saímos do jardim em direcção ao vizinho El Corte Inglês onde passava The Great Gatsby. A grande ansiedade para com mais uma versão cinematográfica daquele conhecido livro de 1925 de F. Scott Fitzgerald. Confesso que gostei da versão com o lourinho Robert Redford, muito 70´s tudo, e os os figurinos sporty-casual-chic? Hummmm

Voltando a 2013 e este Gatsby é igualmente saboroso, esteticamente e espiritualmente, as duas coordenadas da minha vida, estética e espirito. Mais do que uma simples revisitação ou um filme de época é uma verdadeira “versão” pois criou uma nova maneira de ver e ouvir o livro. A banda sonora actualizada é um luxo. Toda a euforia dos Roaring Twenties ou Jazz Age é verdadeiramente recriada e não copiada. É um Jazz Movie sem pestanejar, é instantaneamente um filme de culto e sobre uma época de culto que ao longo da história foi sendo por vezes recriada como por exemplo nos Swinging Sixties. E fez-me lembrar outros filmes como Os Modernos (1988), Millie,Rapariga Moderna (1967), Sexo, escândalos e celebridades (2003) ou A senhora Parker e o Círculo do Vício (1994) todos eles em delírio de uma época de delírio colírio para os meus olhos turvados pelo cinzentismo desta sociedade estupidificada e carente de capacidade de encantamento. Antes do filme passeamos a dividir um gelado pelas marcas de roupa do El Corte Inglês para fazer tempo e depois mergulhamos no escurinho do cinema e dando graças por não termos que aturar aquele cheiro horrível de pipocas a infestar a sala. Sushi comido nos jardins da Gulbenkian, filme degustado e para ir digerindo aos poucos, voltamos para casa felizes. Temos a capacidade de nos encantarmos. E se tivesse um gato chamar-lhe-ia Gatsby, o gato Gatsby.

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