DIÁRIOS DO UMBIGO

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Cheguei à capital pela noite dentro com dormida marcada num dos centros do centro que afinal é o meio de lado nenhum. Tentando ir descobrir a cidade ao amanhecer apercebo-me que o erro não foi meu, o centro de Jakarta é que desapareceu há muito entre as várias cidades que a constroem. Isso e centros comerciais. Vamos ao Museu Nacional, que uma coisa dessas há-de ser no sítio certo, sobretudo se a morada é Praça Central. Ah mas não vai ser assim tão fácil: para lá chegar só de táxi pela hora de ponta constante à Sudeste asiático e durante toda a viagem nada que se se assemelhe à ocorrência de vida real. Quero dizer, à volta das estradas só prédios altos modernos e centros comerciais, nada de pessoas ou coisas para pessoas na rua, bares, restaurantes, nada. Chega-se ao centro e é o mesmo, museu, monumento e relva vazia. Lá descobrimos umas barracas com o melhor arroz frito desde há muitos meses: e isto não é dizer pouco na Ásia!

Depois rendemo-nos à circunstância e lá entrámos num centro comercial. E um centro comercial em Jakarta não é um Fonte Nova nem um Colombo. É mais dez Colombos ligados por pontes aéreas e com a profundidade de vários parques de estacionamento. Sim, claro que estou a exagerar mas não por muito. Parece que é ali que todas as pessoas de Jakarta vivem, só saindo para apanhar táxis todas ao mesmo tempo e ir para casa.

Podia agora dizer que Jakarta é isto mas não faço a mínima ideia. Isto foi pelo menos o que pareceu muito ser, portanto fechei a mochila e segui para Bandung, a única terra em Java para a qual ainda há bilhetes de comboio disponíveis. Vou explicar. Com o Ramadão toda a gente está sempre em movimento para ir para a terra ou vir da terra e portanto todos os comboios de todos os dias estão esgotados. Esta explicação não faz muito sentido vendo que há pelo menos dez comboios por dia para cada sítio mas, pelos vistos, os muçulmanos são mesmo muitos.

A caminho de Bandung algo muda, passamos de repente a estrelas de cinema ou aberrações de circo, não sei bem. Primeiro o motorista da Uber pede-nos para tirarmos uma fotografia com ele e, já no comboio, temos toda uma sessão fotográfica de pelo menos 15 minutos e 27 poses com três senhoras muito felizes. Não devem estar habituados a turistas, pensei, e chegando a Bandung percebi porquê: que cidade tão feia! Para lá chegar, quando o comboio para, temos que passar por dentro de todos os comboios estacionados para chegar à saída da estação, alguns com passageiros dentro que nos arregalam os olhos como a aventesmas. Achei logo que já tinha valido a pena vir. Mas foi só isto. Mais uma partida a correr para Yogyakarta, digam Djoguejácarta, à procura de ainda-não-sabemos-o-quê de bom na Indonésia.

Yogya, para os amigos, faz lembrar Chiang Mai na Tailândia, uma cidade pequena em forma de quadrado, muita gente nas ruas, muitos mercados, muita energia em toda a parte: boa! Aqui tivemos a certeza do que já desconfiávamos – Java tem as pessoas mais simpáticas desde que começámos a viajar. Claro que aqui há muito assédio de vendedores de tudo a condutores de cavalos (sim, aqui é uma coisa normal apanhar um cavalo para ir a qualquer sítio) mas toda a gente nas ruas vem falar connosco a querer saber porque estamos ali, dizer só bem-vindos ou falar de futebol – que eu tenho imensas coisas para dizer sobre isso. Não.

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Aqui os imperdíveis são os templos de Borobudur e Prambanan, construções do século IX que são as atracções mais caras desde Angkor no Cambodja. Em lá chegando impressiona, sim, tal como as camionetas apinhadas em que demorámos horas a lá chegar e onde as nossas alturas europeias nos obrigam a curvar para não bater com a cabeça no tecto. A sério.

Java ainda não deixa história gastronómica para além de mais arroz e do Gado-gado, um prato típico que comemos na rua por 50 cêntimos (um pouco mais, agora que os outros engraçadinhos se lembraram de sair e o euro anda disparatar e a fazer-nos perder dinheiro). O Gado-gado é uma salada de vegetais, ovo, batata e tofu regada por um óptimo molho de amendoim e acompanhada de hóstias de camarão.

Mas esta estória já se alonga e é tempo de nos prepararmos para seguir: amanhã há-de ser dia de escalar vulcões!

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* Este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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