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A Malásia recebeu-me com Penang, eu entrei com a melhor expectativa possível sobre esta terra. A Malásia ganhou.

Cheguei de noite e o calor ainda escorria. As ruas da cidade eram entre o feio e o encardido mas umas bancas de comida na rua fizeram nascer a esperança. Fora a atmosfera de especiaria indiana, o frito, os noodles e o arroz mantinham-se e eu achei que aqui era apenas um prolongamento da Tailândia.

Manhã, 40° encobertos e pegajosos, a capital da comida da Ásia mesmo ao lado e eu sem saber como descobri-la. E depois Deus, aliás Alá quase de certeza, pôs-me nas mãos o mapa dos sonhos de qualquer foodie: o mapa da comida. Uma lista de todos os pratos típicos de Penang e da Malásia e os melhores sítios para experimentar cada um. Se isto não é a melhor forma de promover e descobrir uma cidade, não sei qual será.

Escolheu-se primeiro o famoso Joo Hooi Kafe e já não foi preciso sair-se de lá. Era apontar para a lista, a minha, não a deles, e tudo aparecia na mesa em forma de petisquinho à portuguesa. Não, não são tapas, são petiscos aquelas coisas que se dividem com os convivas.

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Ele foi Assam Laksa, Popiah, Oh Cien, Char Koay Teow, Cendol, Muar Chee, Chee Cheong Fun e eu sem conseguir parar de comer durante três dias seguidos. E sem sair do Joo Hoi. Finalmente senti o que procurava desde o início da viagem: a surpresa constante, a novidade de sabores, o estranho, o que nunca provei, o querer mais. Claro que houve pratos excepcionais em muitos sítios – excepto no Laos claro – mas nunca tantos e tão diferentes todos. Bem sei que em Chiang Mai quase chorei com uma sopa, mas aqui apetece-me viver neste restaurante. Aqui desaparece o doce quase sempre presente nas anteriores cozinhas, o picante é mesmo gradual e não sempre zero ou insuportável, as especiarias variam em cada prato, as opções vão além dos noodles e arroz e o melhor de tudo é que mesmo em budget (desculpem, mas orçamento é uma palavra horrível) consegue-se ser feliz. E por feliz entenda-se provar 5 ou 6 pratos por menos de €6. Ora também isto é uma novidade. Antes de Penang, para fugir ao arroz frito era preciso fazer contas, aqui pede-se até rebolar e a conta não foge disto. O paraíso!

Insisto: aqui até as sobremesas são esquisitas. Cendol, uma tigela com raspas de gelo, leite de coco, açúcar de palma, gelatinas, noodles e feijão, não parece um docinho óptimo? Não, não parece, parece terrível. Comi um por dia. A mistura de sabores, de texturas e os cubos de açúcar e gelo no meio daquilo tudo... senhores!

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Mas calma, Penang também não é só comida. Há o parque nacional e uma montanha para fazer caminhadas, aquela coisa que agora se diz trekking e hiking, ou running se forem mais depressa. Os passeios são pela selva ou beira-mar com macacos, furões, lagartos pré-históricos e até tartarugas. Há um parque de diversões que em vez de nos deixar sentados entre carrossel e montanha-russa nos obriga a trepar ou saltar de árvore em árvore todo o dia.

Há ainda, para fazer digestões, passeios entre templos, casas coloniais, mesquitas. Há noites de cinema, centros comerciais e passeios de barco.

Mas alongo-me, Penang afinal é só isto: a melhor entrada que qualquer país por estes lados poderia ter. Digo eu.

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* Este texto não é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.

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