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Até ao dia 30 de março, o público pode visitar a exposição Rubens, Brueghel, Lorrain – A Paisagem Nórdica do Museu do Prado no Museu de Arte Antiga de Lisboa.

A mostra reúne 57 pinturas pertencentes ao museu madrileno, de grandes mestres da paisagem do século XVII. A exposição é a primeira iniciativa resultante de um acordo formalizado pelos directores das duas instituições. Com comissariado de Teresa Posada Kubissa, conservadora do Museu do Prado na área de pintura flamenga e Escolas do Norte (até 1700), a exposição viajou por algumas cidades espanholas antes de chegar à capital portuguesa. Pude apreciar esta exposição em 2013 na Lonja de Zaragoza, e posso afirmar que o projecto museográfico no MNAA está impecável.

A exposição está dividida em nove eixos temáticos. A paisagem com montanhas é o primeiro tema destacado. Cruzamento de caminhos, encontro de viajantes ou mesmo como uma manifestação precoce do conceito de "sublime", as montanhas na paisagem podem também relacionar-se ao interesse pelo incomum, que passa da representação dramática de montanhas às visões líricas na segunda metade do século XVII.

Um exemplo disso é a pintura Paisagem com ciganos (c.1641-1645) de David Teniers, o Jovem. A obra possui uma construção espacial naturalista com jogos de luzes e sombras. Na paisagem, os ciganos estão em frente à gruta, símbolo da vida errante e marginal. Já as cabanas e os camponeses representam a vida sedentária submetida às regras sociais.

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David Teniers, o Jovem. Paisagem com ciganos, óleo sobre tela, c.1641-1645.

O quotidiano campestre também era assunto da pintura. Poderia tratar-se de representações propagandísticas da reconstrução económica e cultural proporcionada pelos arquiduques dos Países Baixos, Alberto e Isabel Clara Eugênia. Ainda que idealizadas, estas obras são consideradas um documento visual da recuperação do país após a penúria da guerra. Cenas de jogos, trabalho e festas são recorrentes. Destaco a obra Boda campestre de Jan Brueghel, o Velho. Nesta pintura, o tema do cortejo nupcial pode ser interpretado como metáfora da união e da concórdia entre os arquiduques e seus súditos, sob a tutela da Igreja de Roma, representado pelo templo no centro da composição.

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Jan Brueghel, o Velho. Boda campestre, óleo sobre tela, c.1621-1623.

As vistas com gelo e neve e pessoas ocupadas em suas actividades laborais ou desfrutando do seu tempo livre são de facto, as paisagens nórdicas mais características. Do ponto de vista artístico, o inverno era um pretexto para explorar uma luminosidade diferente. No viés iconográfico, representavam cenas de género sobre o gelo, documentando o quotidiano e a capacidade de desfrutar da terra mesmo em condições extremas, como se vê em Paisagem com patinadores de Joos de Momper, o Jovem.

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Joos de Momper, o Jovem. Paisagem com patinadores, óleo sobre madeira, c.1615.

As cenas de bosque, que se desdobram num bosque bíblico, encantado ou mitológico, trazem uma curiosidade. Havia uma prática comum de colaboração entre dois pintores: um pintava a paisagem e outro encarregava-se das figuras humanas. Um exemplo disso é a obra A Abundância e os Quatro Elementos, na qual Jan Brueghel, o Velho se encarregou da paisagem e Hendrick van Balen das figuras humanas.

Vale a pena demorar um pouco mais na sala dedicada às paisagens de Rubens, onde estão reunidas pinturas significativas que compunham uma parte da sua própria colecção. É importante mencionar que Rubens foi diplomata ao serviço dos arquiduques dos Países Baixos, assim como do rei Filipe IV e de outros governantes da época. A obra Visão de Santo Huberto mostra a parceria de Rubens com Jan Brueghel, o Velho, responsável pela pintura do bosque e dos animais.

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Peter Paul Rubens e Jan Brueghel, o Velho. Visão de Santo Huberto. Óleo sobre madeira, c.1617-1620. (Detalhe)

As pinturas que se referem aos jardins do palácio como cenário, revelam três edifícios reais flamengos: Coudenberg, Tervuren e Mariemont. Hoje estas obras são consideradas documentos arquitectónicos daquele período, como é o caso de Os arquiduques Isabel Clara Eugénia e Alberto no palácio de Tervuren, em Bruxelas, atribuída a Jan Brueghel, o Velho, única imagem conhecida do palácio destruído posteriormente.

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Atribuído a Jan Brueghel, o Velho. Os arquiduques Isabel Clara Eugênia e Alberto no palácio de Tervuren, em Bruxelas. Óleo sobre tela, c.1621

As obras que representam paisagens exóticas em territórios longínquos estão relacionadas com o intenso comércio promovido pela Holanda ao longo do século XVII. As narrações de viagem eram as verdadeiras fontes para a elaboração de paisagens imaginárias. Paisagens de água com marinhas e ambientes fluviais também estão presentes. A representação naturalista do mar foi liderada por Pieter Brueghel, o Velho, e mais tarde tornou-se num género independente. A exposição termina com uma sala dedicada à influência italiana na paisagem, cuja origem se deu ao final da década de 1620, quando o holandês Herman van Swanevelt e o francês Claude Lorrain fixaram-se em Roma, reunindo um grupo de jovens compatriotas. A obra Paisagem com monge cartuxo, de Herman van Swanevelt é um exemplo do estudo da luminosidade na paisagem ao amanhecer ou ao entardecer.

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Herman van Swanevelt. Paisagem com monge cartuxo. Óleo sobre tela, 1634/1636-1639.

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