MÚSICA

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Confesso que sempre embirrei um pouco com os concertos na Aula Magna :^) pois defino-me como uma pessoa de plateia em pé. Gosto de sentir a música, a energia das outras pessoas e dançar mal oiça um acorde que me leve a mexer. Não faço questão de estar no maralhal (bem, às vezes faço) mas gosto do facto de ter espaço para poder dar o meu pezinho de dança se assim o quiser. Ora na Aula Magna é complicado com a presença espartilhada das cadeiras, mas pela minha experiência normalmente a banda à 2ª ou 3ª música incentiva o pessoal levantar-se e dançar… e em Warpaint foi o que aconteceu também. Já a música o diz “Love is to die / Love is to not die / Love is to dance”.

A banda da Califórnia encheu a sala com o seu look pós-punk e vozes angelicais de acordes inspirados em Portishead e PJ Harvey tocando grande parte do seu álbum homónimo ‘à la último concerto da digressão’. E não é que foi mesmo.

Centradas num palco minimalista com a art cover do álbum criada por Chris Cunningham a compor a mise-en-scène, a presença das 4 vozes que em quase todas as músicas soam como uma só (e que eu acho que a art cover muito bem o representa) embalaram-nos numa maionese etérea entre o bucolismo e a viagem espacial totalmente controlada que tão bem caracteriza as músicas das meninas de LA.

Com um início morno, tal como o disco já nos tinha preparado, parte do público reagiu ao 3º tema, após incentivo da guitarrista e vocalista Theresa Wayman (eu não disse?) e já não mais se sentou para dançar e aplaudir outros temas do último álbum que ao vivo podia estar um pouco mais encorpado e distante do que se pode ouvir gravado em estúdio. As músicas podiam ter um tratamento diferente, tal como fizeram para Elephants em que as guitarras mais pronunciadas e batida desconcertante, mas concertada, mostra a tal evolução que é esperada quando estamos num concerto.

O início de Biggy (um dos meus inícios favoritos confesso) transformou o palco em tons de azul cobalto e teclados dream pop expansivos fazendo a passagem para o tema Undertow que se seguiu quase como um apeadeiro seguinte, não fosse este o hit que de certa forma as lançou há 4 anos. Foi um reviver inocente e terminou enérgico, com o qual fiquei de certa forma surpreendida, porque nada o fazia prever. Gostei.

“This is a sweet song, I’ll hope its sounds sweet” foram as palavras de Kokal antes de tocarem Billie Holiday repescado ao EP Exquisite Corpse, onde o palco se encheu da luz rosa choque dos projectores e o fumo apagar as 4 imagens, ficando só a tal voz (que na verdade são 4) para nos embalar na sua doçura.

Quando Wayman disse que o próximo tema que iam tocar era Drive tive um flashback da cena inicial do filme com o mesmo nome e tentei fazer o exercício de enquadrar a Drive das Warpaint no lugar de Tick of the clock dos Chromatics. Enquanto ouvia a música consegui imaginar a cena, mas desculpem-me Warpaint…  apesar vossa clara inspiração italo dark-pop nesta música, prefiro a original do filme de Nicolas Winding Refn. Contudo, a música tem o seu lugar num Drive mais romântico e etéreo onde as vocalizações afinadas e acordes de guitarra sequenciais nos levam a dar uma volta pela marginal.

A sala dançou um pouco mais (o possível dançável entre intervalos de cadeiras) mesmo porque Disco//Very  foi isso mesmo… very disco. A Baixista Jenny Lee Lindberg acompanhou com os seus saltinhos em modo reggae, contrastando com os sons das bolas de espelhos que saiam dos instrumentos.

No final as 4 vozes despediram-se com aplausos que só terminaram quando Emily Kokal se atreveu a vir ao palco acompanhada unicamente da sua guitarra e voz à Julie Andrews para cantar Baby a lembrar o tema Because the Night de Patti Smith.

Com uma energia de aplausos, assobios e movimentos lentos, a sala ouviu mais 2 músicas do passado, tendo como ingredientes solos fluorescentes e atmosferas fluidas de sintetizador. O concerto foi terminando de forma algo intimista e um pouco dreamy o que me faz pensar um pouco numa questão que li no outro dia: Há música que nos leva mais para dentro e outra que nos traz para fora. Ora, este foi um concerto que nos levou para dentro, mas sem nunca sair de fora.

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